Atração demoníaca

o primeiro dia

Olhava de relance para Lauren sentada do outro lado da igreja com seus pais que estavam tão sérios quanto ela. Eu tentava de alguma forma tirar a visão dos seus olhos dos meus pensamentos, mas sonhei a noite inteira com ela sobre vigia e acabei percebendo que aonde ela estava, os espíritos não estavam. O pastor falava alto aleatório sobre a vida após a morte, refletindo o quão pouco sabemos sobre esse mundo e o quanto ainda temos de conhecer.

Uma risada rouca foi ouvida por mim a uma distância quase que impossível. Olhei novamente para Lauren e a mesma estava rindo. O pastor olhou diretamente pra ela de forma confusa, mas ela não se pronunciou, apenas continuou com aquele sorriso tão novo e perverso em seu rosto.
Ao que tudo indica só as pessoa próximas a ela e o pastor haviam escutado sua risada, mas de algum jeito eu pude ouvir.

O homem sobre o altar continuou ministrando o tanto que queria e meus olhos foram direto para frente novamente, mas minha onda de indiferença não durou muito, já que quando tornei meu olhar para ela novamente, sua atenção estava totalmente em mim. Olhei em volta, tentando notar se alguém também estava vendo o mesmo que eu. Lauren me olhava de modo fixo, me fazendo ajeitar a postura na cadeira e tentar de alguma forma sair do seu foco, mas era impossível.

Eu nem notei quando o pastor finalmente nos avisou que estava finalizando e que faria uma reza para acabar com nossas dúvidas. Todos se levantaram e baixaram suas cabeças em conduta com o que ele dizia. Eu aproveitei para olhar em volta, na fileira atrás de mim estava Keana e seus pais, e próximo ao altar estavam Shawn e seu irmão mais velhos, ambos eram membros da igreja.
Cidade pequena, mundo pequeno.

Minha atenção foi atraída diretamente pra quem também não estava nenhum pouco interessada na oração do pastor. Lauren me analisava assim como eu fazia com ela. Antes do acidente ela sempre se sentava com Keana e seus amigos. Todo domingo frequentamos o mesmo lugar, desde crianças. As sombras não sumiam quando eu entrava nesse templo, na verdade era uma sensação completamente oposta. Elas pareciam mais fortes e mais resistentes, como se o lugar delas fosse aqui. Claro que isso foi antes do acidente, agora eu poderia afirmar com convicção que só tinha gente viva aqui.

Quando ele finalizou a oração com um sonoro "amém", eu me afastei caminhando pra fora do banco junto aos outros. Meus pais provavelmente iriam cumprimentar os outros membros e como eu não tinha essa obrigação, eu fui direto para o lado de fora tomar um ar. Três horas ouvindo um homem falar sobre a mesma coisa era demais.

Apertei meu vestido verde musgo que caia muito bem em meu corpo e respirei fundo sentindo uma brisa gelada bater em meus ombros. Mais um sinal de que o inverno estava próximo demais.

-Achei você -Uma voz masculina chamou minha atenção e me virei dando de cara com Shawn de terninho e um sorriso no rosto -Pensei que ja tivesse ido.

Não estávamos sozinhos na entrada da igreja, mas ainda sim afastados o suficiente das pessoas a nossa volta.

-Na verdade tô esperando meus pais -Falo vendo ele afirmar me olhando de forma vaga. Era evidente seu interesse em mim, então não tinha porque afasta-lo -Não tenho carteira ainda, então meus pais são minha carona.

Eu disse quebrando o gelo que havia se instalado. O arrepio passou pelo meu corpo, me causando um certo calafrio. Eu estava com frio, ou era outra coisa.

-Posso ser sua carona pra onde você quiser -Acabei rindo com seu comentário e ele fez menção de tirar o paletó -Posso lhe emprestar se quiser.

Ele disse, mas parou de tirar o tecido assim que olhou através do meu ombro. Eu senti uma mão gelada tocar o local e rapidamente reconheci o toque. Era ela.

-Ela tem soluções para ambos os problemas Mendes. Relaxa -Em poucos segundos eu senti seu casaco cobrir minhas costas, me aquecendo na mesma hora. -Poderia nos dar licença um instante, eu tenho que conversar com a Camila.