Ela voltou

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Segurei o garfo sentindo minha mão tremer por completo. Meus olhos não haviam sido pregados a noite inteira sem conseguir pregar os olhos. Eu estava com uma péssima sensação, essa que não me deixava nem quando o sol adentrava a janela da cozinha.

Larguei o garfo e respirei fundo me afastando da mesa na mesma hora em que o relógio marcou as 9mn. Eu deveria saber que obviamente tudo me assustaria hoje. Depois de ontem nada mais me surpreende.

Duas coisas corriam meus pensamentos, o desejo de finalmente poder ver Michelle e olhar em seus profundos olhos azuis, acabando por me perder nele como sempre fiz. Mas isso está fora de cogitação já que me resta um pouco de amor própria. Outra coisa que ronda a minha mente é a marca que não saiu do meu pescoço desde ontem a noite, marca essa que eu tratei de esconder com uma cachecol assim que estava me arrumando para o colégio, e mesmo depois dos meus pais saírem para trabalhar e Sophia ir para a creche, eu não consegui colocar o pé para fora de casa l.

Eu também não me senti segura em meu lar, mas graças aos céus o par de olhos que estava me vigiando ontem a noite desapareceu no momento em que recebi a notícia de Michelle. Ainda sim o clima parecia ainda mais sombrio do que nunca, mostrando que nem mesmo uma notícia boa tiraria aquele péssimo ar de morte.

Pergunto como ela deve estar agora que acordou? Suas dúvidas, Seus pensamentos... se estava ciente das minhas visitas e se vai se desculpar pelo o que fez algum dia. Talvez meu próprio coração esteja me enganando e eu esteja em negação sobre meus sentimentos mais profundos por Michelle. Não foi a primeira vez que servi de piada para ela e agora parando pra pensar, meus sentimentos se tornam cada vez mais sólidos em relação a ela. Eu não quero ter que fazer dela mais uma vez a dona dos meus pensamentos e vontades. Mesmo que me machuque, eu preciso cortar o mal pela raiz e a forma mais inteligente de fazer isso é ficando longe dela.
Era algo e claro pra mim que isso teria que ser feito enquanto estávamos na escola, isso se ela pensar em voltar pra escola. Ainda sim seria obrigada a ver ela uma vez ou outra pelo quintal do vizinho, mas não falarei com ela.

Agora que ela estava bem, parte da culpa de ter desejado a morte dela passou e com isso eu pude abrir meus olhos para quem realmente é Michelle
Como eu pude me apaixonar por alguém que sempre fez de tudo para me humilhar e me manter longe? Meus sentimentos por ela ainda eram intensos, mas pela primeira vez eu os evitaria. Eu evitaria a humilhação de falar com ela depois do que ela me fez e com isso iria afasta-la.

Me levantei sabendo que havia perdido quase três tempos de aula, mas isso não me afligiu de forma alguma. Coloquei a mochila mas coisas e finalmente sai de casa sentindo o frio de outono tomar meu corpo. O inverno estava perto de chegar e graças a isso eu poderia usar o tipo de roupa do qual eu amava. Caminhei sentindo meus músculos doerem graças a noite de sono que eu não tive e os treinos de Keana que provavelmente seriam suspensos pela mesma. Eu tinha certeza que ela faria o papel da namorada apaixonada e com isso ela e Michelle voltariam a ser o casal número um da escola.

Andei mais um pouco, até pisar em algo que chamou minha atenção. Me aproximei do medalhão de prata que estava no pingente e levei até os olhos prestando atenção em sua fabricação, parecia ser algo bem antigo.
Atrás do medalhão tinham pequenas escrituras gravadas

"Tu mea inveni"

Não sabia o significado e mesmo assim tratei de guardar a velharia no meu bolso direito da calça jeans que eu usava. Apertei o passo assim que percebi que chegaria na hora do intervalo e finalmente pude ver os portões da escola.
Cheguei próximo do mesmo e mostrei minha carteirinha pro porteiro.

-Atrasada em -Sua voz foi ouvida por mim assim que passei pelo portão semi aberto. Caminhei pela escola aparentemente vazia, sabendo que não demoraria até que o sinal finalmente tocasse.

Atração demoníacaOnde histórias criam vida. Descubra agora