Preciso respirar fundo antes de contar como foi esse dia tão caótico que Victor planejou. Sim, ele planejou algumas coisas.
Dentre todos itens caóticos, ir para escola em uma terça-feira não estava em seus planos.
— Eu não vou matar aula com você, Victor.
— Tudo bem, eu chamo o Kevin e você mata aula com ele.
Franzi a testa.
— Eu não mataria aula com ninguém e nem com você.
— Morgana, é simples: ficamos na esquina atrás da escola, o sinal toca e saímos de fininho pela rua de trás — ele explicava como se estivesse explicando como se fazia uma conta de adição no segundo ano do fundamental.
— Victor, eu sei bem como mata aula, só prefiro não matar.
Ele olhou para o céu como se estivesse pedindo que uma divindade me convencesse daquele plano e daquela lista idiota.
— Morgana, olha, eu fiz isso aqui como uma terapia para você aliviar a tensão desses dias.
— Você nem sequer deixou eu ler a lista. Vai que escreveu "perder a virgindade" ou "fumar maconha" e até "fazer o body shot"? E que terapia é essa? Tenho certeza que minha mãe não fala para os pacientes: mate aula.
— Você acha que eu sou que tipo de pessoa?
— Você sabe o que acho que você é.
— Tá, olha, eu sei, só que o ato de matar aula é como um ritual de pura adrenalina para entrar no estereótipo do que dizem ser "aproveitar a adolescência". Você precisa matar aula e ainda precisa matar aula comigo. Vamos lá, Morgana, é seguro e você tem uma lista com itens para cumprir!
— Eu acho que você enlouqueceu e pretendo fazer o mesmo comigo por puro egoísmo.
— Vamos enloquecer juntos.
— Por quê?
— An?
— Por que tá fazendo isso tudo? Digo, por que quer que eu aproveite? Você meio que tem medo de que depois que ela morra eu não seja mais capaz de ser uma amiga ou sei lá?
Victor me encarou com o seu olhar tedioso. Ser amiga desse garoto me trazia certas vantagens: eu aprendi a reconhecer olhares já que ele não usava muito a boca para expressar o que acontecia dentro dele. Quando Victor estava, por exemplo, nervoso, costumava mordiscar a boca, os cantos da pele de suas unhas e evitava olhar direto. Quando Victor estava feliz seus olhos brilhavam. Quando Victor estava triste, bem, eu não sabia, nunca vi ele chorar ou ter vontade.
— Morgana, você precisa parar de falar um pouco, cara.
— Espera, quê?
— Por Deus, eu sou seu melhor amigo, sei bem o que você anda pensando com toda a situação ruim! Mas você precisa confiar em mim. Não quero fazer toda essa bobagem ao meu favor, tô fazendo para se distrair e você parar de ficar olhando para os cantos como se tivesse demônios chamativos por aí. Te ver assim me assusta e olha que a última coisa que me assustou foi o preço de um skate!
Dei um sorrisinho.
— Eu vou matar aula com você, então...
— Victor! — uma voz feminina desconhecida (por mim) veio do além do pátio, logo atrás de Victor.
Victor apertou os olhos e se virou na direção de uma garota muito, muito bonita. Ela tinha um rosto dócil, cachos volumosos ruivos, olhos castanhos, sardas por todo rosto e se parecia com uma princesa.
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E não é para fazer sentido.
Novela JuvenilDois melhores amigos precisam lidar com seus corações que foram partidos de jeitos diferentes e ver sentido em suas vidas. Ao decorrer dessa história, eles passarão por conflitos internos, familiares, da adolescência e do luto, assim, entendendo que...