Capítulo 5

1K 138 92
                                    

A alguns metros na frente da pequena estação de trem, no topo de uma colina, as ruínas de uma construção antiga se destacavam contra o céu acinzentado. De onde nós estávamos, era possível contemplar o cenário suntuoso e impassível formado com a junção dos elementos naturais aos esculpidos pelas mãos humanas, perfeitamente equilibrados entre si.

— Ballycarbery. — falou Addison ao se sentar do meu lado, após cumprimentar um cachorro que estava por perto; a palavra me soou tão estranha que eu estava certa de se tratar de um xingamento irlandês.

— Digo o mesmo pra você.

— Ali — apontou para as ruínas, ignorando meu comentário. — Castelo Ballycarbery.

Permaneci em silêncio, com os olhos fixos no que eu agora sabia ser um antigo castelo medieval, ou pelo menos o que havia sobrado dele.

— São só uns quinze minutos de caminhada até o topo.

— De maneira nenhuma vou me arriscar a perder o trem. — afirmei ao encará-la.

— O trem... realmente essa é uma boa escolha. — comprimiu os lábios. — Ficar sentada nesse banco, esperando o trem pelas próximas duas horas e meia...

A mulher de cabelos ruivos franziu o cenho em uma falsa expressão de desinteresse e deu de ombros, suspirando audivelmente. Revirei os olhos, cruzando os braços e me afundando ainda mais no assento duro do banco de madeira, convencida a não sair do lugar até o trem chegar e me levar para meu destino.

— Vou ficar aqui, obrigada.

— Bem, você quem sabe. — falou ao se levantar. — Se divirta esperando!

Não me surpreendi com tal ato, Addison era extremamente indelicada, não dando a mínima para o fato de que estava sendo paga para me acompanhar, e não me deixar sozinha em um lugar desconhecido para ir turistar nas ruínas. Na verdade, eu não estava sozinha, o cachorrinho de pelo preto e branco continuava por perto, me encarando, e como a companhia da irlandesa não era lá das melhores, não me importei dela ter saído.

— Ei, amiguinho, como vai?

Me aproximei do animal para acariciar sua cabeça, mas fui recebida com um rosnado raivoso e com a visão nada agradável de suas presas. Arregalei os olhos, saltando para fora do banco antes que ele resolvesse me atacar e destruir meu rosto com aqueles dentes era uma atividade divertida para se fazer.

— Espere, eu adoro castelos!. — falei em voz alta. — Addison!

É claro que eu não fiquei com medo do cão, apenas conclui que visitar as ruínas seria, de fato, legal para ajudar o tempo a passar mais rápido.

A encosta da colina era mais íngreme do que eu imaginei que seria e, apesar de existir um caminho traçejado no chão, subir aquilo tudo de salto alto não era nada fácil. Passos à frente, Addison andava tranquila com as mãos nos bolsos do casaco, seu par de coturnos era uma mão na roda para ajudá-la na subida, e de vez em quando ela olhava por cima dos ombros e checava meu progresso em acompanhá-la.

— É lindo. — afirmei, olhando ao redor. — Bonito mesmo.

— Sinto muito que não chegaremos em Dublin antes das lojas fecharem. — ela disse.

Eu achava surpreendentemente estranha a capacidade que ela tinha de ignorar meus comentários e já partir logo para outro assunto.

— Sabe, eu não penso só em compras, sapatos e malas. — afirmei. — Eu tenho responsabilidades, um emprego.

— E o que você faz, afinal?

— Sou decoradora de ambientes.

Respondi com um sorriso satisfeito, recuperando o equilíbrio após tropeçar de leve em uma pedrinha.

Casa Comigo? - MeddisonOnde histórias criam vida. Descubra agora