Capítulo 8

919 124 124
                                    

Meredith

Mesmo de olhos fechados, senti a forte luz do sol ultrapassar minhas pálpebras e uma dor completamente incômoda martelar minha cabeça; a última coisa da qual me lembrava com clareza, era de ter sentido o cheiro suave que emanava da pele de Addison enquanto ela me carregava no colo, depois de eu ter vomitado até minhas tripas na noite anterior.

Abri os olhos, e a primeira coisa que vi foi o rosto da irlandesa sobre mim, ela estava dormindo com a cabeça pendida para frente e os braços apoiados no encosto do banco; nós estávamos numa pequena praça, que era a rodoviária da cidade, e eu estava deitada com a cabeça sobre as pernas dela, coberta por seu casaco.

Sem movimentos bruscos, levantei e deixei o casaco no lugar onde dormi, sorrindo ao ver o padrão de respiração ritmado e suave da ruiva; Addison sabia muito bem ser atenciosa quando queria, ela cuidara de mim mesmo depois dos danos que eu havia causado em seus sapatos novos, e eu apreciava muito aqueles pequenos detalhes.

Peguei Louis e o levei junto comigo até uma lojinha de conveniências no limiar da praça, que também funcionava como o guichê da rodoviária, comprei dois cafés pretos e duas passagens para Dublin no ônibus de horário mais próximo possível e voltei para o lado de fora.

O lugar era bem tranquilo, quase não tinha movimento de pessoas, e, por isso, minha atenção logo voltou-se para a figura de Addison parada de pé no meio da praça, encarando um ônibus que havia acabado de partir. Ela parecia ter acordado há bem pouco, estava atônita e, depois de alguns segundos, quando o ônibus sumiu numa curva, pude ver seus ombros caírem e os braços penderem nas laterais do corpo.

Ela se virou para a minha direção, no entanto sem me ver, fez um pequeno bico, franziu as sobrancelhas, sacudiu o casaco e murmurou algo que eu não entendi. Fiquei parada no mesmo lugar, observando aquela cena com um meio sorriso, e só então Addison levantou os olhos, notando minha presença; negou com a cabeça e tentou conter um pequeno sorriso, porém falhou.

— Você perdeu o seu ônibus.

— Vai sair outro em vinte minutos. — ergui a mão e mostrei as passagens.

— Duas?

— Óbvio, eu te contratei para me levar até Dublin, então você vai me levar até Dublin. — entreguei um dos copos para ela. — Pode abater o valor do café na minha conta

— Irei. — disse, divertida. — Coloque um par de sapatos novos nessa conta também.

Ela sorriu e baixou a cabeça, arrastando a ponta do pé no chão. Eu não fazia a mínima ideia do que se passava na mente dela naquele momento, mas algo em suas reações corporais fez meu peito se aquecer; imaginar que Addison pudesse ter se decepcionado achando que eu havia partido sem ela, por algum motivo, era uma sensação boa e diferente ao mesmo tempo.

***

O ônibus não demorou a chegar, e a viagem até Dublin foi relativamente rápida; eu dormi durante o trajeto, o que não foi uma novidade, e novamente acordei com a cabeça apoiada no corpo de Addison, dessa vez em um de seus ombros, o que também não foi novidade. Descemos em uma das avenidas principais da cidade, e eu entrei em uma daquelas cabines telefônicas vermelhas para ligar no hotel onde Derek estava hospedado.

— Ele saiu, mas deixei um recado na recepção.

Addison apenas balançou a cabeça em concordância.

— Então, Dublin!

— Exatamente dentro do prazo.

— É...

Nós ficamos em silêncio por alguns segundos, eu queria dizer algo, porém nada me parecia bom o suficiente e aquilo era frustrante.

— Suponho que eu deva te pagar agora.

Casa Comigo? - MeddisonOnde histórias criam vida. Descubra agora