Capítulo 2

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Meredith

Depois de todos esses anos viajando de avião, posso até arriscar dizer que eu havia me acostumado, e que a altura agora não parecia tão assustadora quanto na primeira vez. Já era noite quando meu voo para Dublin saiu, e, no meio da madrugada, a enorme aeronave cruzava o atlântico em uma velocidade absurda para qualquer ser humano sequer imaginar tentar alcançar em um veículo terrestre.

Por sorte, eu acabei dividindo as poltronas com um simpático padre, então a viagem de doze horas talvez se tornasse menos chata se eu tivesse alguém com quem conversar.

— E o que a senhorita está indo fazer em Dublin? — perguntou educadamente.

— Estou indo pedir meu namorado em casamento.

— Mesmo?

— Sim! — enchi meu travesseiro inflável de pescoço. — Eu achei que ele iria fazer o pedido alguns dias atrás, mas como isso não aconteceu, resolvi fazer uma surpresa.

Ele realmente era um senhor bastante cordial, mas acho que devia estar muito cansado, porque caiu no sono assim que comecei a contar sobre os planos de reforma que Derek e eu tínhamos para o nosso futuro apartamento. Dei de ombros, optando por responder alguns emails quando vi que ele não iria acordar.

— "Senhoras e Senhores aqui é o capitão falando. Parece que vamos enfrentar um mau tempo mais a frente, então poderemos ter uma leve turbulência."

A voz do piloto ecoou pelos auto-falantes, e eu quase tive um infarto ao sentir a aeronave sacolejar fortemente logo que o homem parou de falar.

— Eu vou ficar noiva, eu vou ficar noiva. — agarrei os braços das poltronas. — Eu não posso morrer antes de ficar noiva! — me desesperei.

Nesse momento, as máscaras de oxigênio penderam dos seus compartimentos e as luzes falharam; o padre ao meu lado já estava acordado e rezava, de olhos fechados e mãos unidas. O avião não parava de balançar e eu, sem nem lembrar o meu próprio nome, agarrava a poltrona como se ela fosse minha última salvação. A quem eu queria enganar? Depois de tantos anos, viajar numa coisa daquelas continuava me dando calafrios.

— "Senhoras e Senhores, parece que eu subestimei a tempestade. — o piloto se pronunciou novamente. — Vamos aterrissar em Cardiff, Gales, uma vez que o aeroporto de Dublin está fechado. Apertem os cintos!"

— Gales? Nós não podemos aterrissar em Gales! — arregalei os olhos, atônita. — Eu preciso chegar em Dublin!

— Ao menos vamos aterrissar. — o clérigo ao meu lado constatou.

— Mas eu tenho um compromisso inadiável!

Ele me olhou como se eu tivesse proferido alguma blasfêmia, quando na verdade eu só estava preocupada com as datas e prazos que deveria cumprir caso quisesse voltar para Boston com um noivo e de casamento marcado.

Aquele era um contratempo que, indiscutivelmente, eu não poderia deixar atrapalhar meus planos.

***

O aeroporto de Cardiff, no País de Gales, estava tão lotado que, enquanto eu tentava vencer a multidão para chegar ao balcão de atendimento da companhia aérea, me perguntava se a cidade inteira não tinha decidido viajar justo naquele dia. A tempestade era implacável do lado de fora e o burburinho das milhares de pessoas reclamando quase impedia os anúncios de serem ouvidos.

"Devido ao temporal, todos os voos da Irlanda foram cancelados. Somos gratos por sua paciência até a situação estar resolvida."

Aquela sim era uma notícia ruim, como se não bastasse o avião quase cair, agora nenhum voava mais; revirei os olhos, paciência com certeza era a última virtude que qualquer pessoa naquele aeroporto conseguia exercer.

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