Capítulo 1: Não diga que me ama

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"Não diga que me ama."

Aquelas palavras pareciam assombrar cada pensamento de Ohm à medida em que a coletiva de imprensa prosseguia. Ainda mais quando quem falou a frase foi aquele ator sentado ao seu lado e que, não por acaso, era o seu par romântico na série que estavam prestes a começar a filmar em breve.

Quanto mais pensava naquilo, menos sentido fazia. O garoto não havia dito "não se apaixone por mim", mas "não diga que me ama", como se estivesse certo sem sombra de dúvidas de que isso aconteceria inevitavelmente. A pior parte? Aquela criatura conseguia se sentar diante de todo o resto do elenco, público e jornalistas com o sorriso mais brilhante do mundo como se fosse algum dos anjos recortados do teto da Capela Sistina. Sim, ele tinha os fios de cabelo loiros, era baixinho e tinha um sorriso angelical, mas certamente a sua atitude de instantes antes não era nada etérea e com toda a certeza chocaria aquelas dezenas de pessoas ao redor deles se eles ficassem sabendo disso. Mas esse era o maior dos problemas: ele não poderia falar nada, sob a pena de colocar a futura audiência em risco!

Ohm estava suando frio e não era de nervosismo com o evento e o receio de atuar num papel que já era amado por tanta gente, visto que a série, "Until We Meet Again", seria a adaptação da novel de Lazy Sheep "Red Thread", mas de plena irritação. Ohm estava se sentindo uma chaleira prestes a explodir em tensão e olhar os jeitos adoráveis do seu coprotagonista o faziam dobrar em desgosto!

Mas como eles chegaram a termos tão ruins em tão pouco tempo? Para saber disso vamos precisar voltar um pouco mais.

Ohm Thitiwat era o ator revelação da casa. Não havia no Canal 8 quem não conhecesse o novo galã da emissora. Desde que havia ganhado o concurso de beleza, todos os diretores e roteiristas haviam se encantado pelo novo rostinho que além de bonito, era talentoso e dono de uma personalidade carismática.

Mas ele não era o jovem ingênuo que todos faziam questão de acreditar. Ohm pretendia conquistar a manter uma posição de destaque na indústria e, para isso, ele decidiu se arriscar. Depois de ler alguns scripts e escolher o de uma série que estava em processo de casting, "Until We Meet Again", ele foi falar com o diretor de elenco para compartilhar a sua ambição.

"Eu acho que se fizer um papel em uma série bl vou conseguir aumentar o tamanho da fanbase e quando voltar pro Canal 8, vou conseguir atrair a atenção de ainda mais gente! E o enredo parece muito bom! Eu sei que isso pode dar certo!"

"Escuta, garoto! Não é do meu feitio ouvir um novato como você. Sendo sincero, eu não tenho nada contra essas séries que mostram homens se beijando", o homem disse mostrando o seu evidente desprezo e preconceito com as mesmas, "mas me disseram para te dar o benefício da dúvida. Então, sinta-se livre para ir e voltar!", o homem deu um sorriso semelhante ao do gato que acabou de engolir o passarinho.

"Muito, muito obrigado! Eu sei que não vou decepcionar!", Ohm disse agradecido e animado com o aval que recebera.

"Espere, garoto! Não é tão simples assim! Existe uma condição: você não tem margem para erro. Você PRECISA fazer isso dar certo ou não vamos mais te dar qualquer liberdade para procurar e aceitar os próprios trabalhos!"

E Ohm aceitou. Era evidente que a audiência e notoriedade dependiam de muito mais que apenas um dos atores do elenco, mas ele estava disposto a fazer o seu melhor e acreditava que o universo o recompensaria. De toda forma, ele não se sentia como se tivesse entrado nessa indústria para perder e sabia que para ganhar muito também era preciso apostar alto e ele estava disposto a isso.

Porém, a teoria se mostrou muito mais fácil do que a prática. Quando Mean, o diretor da série apresentou Ohm e Fluke após a finalização do processo de casting, o jovem ator logo mudou de ideia.

À primeira vista, Fluke parecia fofo e simpático com suas bochechas redondas e sorriso amigável, mas tão logo eles foram deixados sozinhos no camarim para descansarem antes da entrevista coletiva que o elenco e diretor cederiam, ele percebeu a real face do homem com quem deveria conviver pelos próximos 3 meses.

"Oi! Eu sou o Ohm e espero que possamos nos dar bem, já que vamos fazer o papel de um par romântico!", ele disse estendendo a mão para o menor à sua frente.

"Oi, eu sou o Fluke e espero o mesmo! Só preciso que você tenha certeza de uma coisa: não diga que me ama!"

Assim, logo depois de se apresentar e ser cordial, o garoto teve a ousadia de jogar essa frase emblemática para cima dele.

"Pois fique tranquilo, Fluke Natouch Siripongthon! Uma coisa que eu posso te garantir é que eu, Ohm Thitiwat Ritprasert nunca vou te dizer que te amo por um motivo muito simples: EU NUNCA VOU GOSTAR DE VOCÊ!", o jovem pensou enquanto posava ao lado do colega de elenco com uma expressão que refletia a amabilidade do outro.

Afinal de contas, ele era um ator. Se o seu parceiro de atuação era um sujeito rude e maluco, ele seria o oposto e faria o possível para mostrar que ele era gentil e amoroso! 

"Vejamos, então, quem vai se apaixonar por quem!", ele disse formando punhos com as mãos.

"P'Ohm, você tá bem? Precisa de alguma coisa?", News, seu manager e primo, ofereceu ao ver o garoto murmurando consigo mesmo.

"Nah, tudo bem, Phi! Obrigado!", ele dispensou a oferta com uma chama nos olhos que era incompatível com a conversa presente, mas seria muito necessária para enfrentar o desafio que viria!

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