Capítulo 6: Reviravolta

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Depois de se abrirem sobre os acontecimentos que os rodeavam durante todo esse tempo, Ohm e Fluke passaram a se sentir mais confortáveis na presença um do outro. Ainda que evitassem muito contato em público e demonstrar que tinham afeição genuína um pelo outro, ainda mantiveram as pequenas discussões para passar a impressão de não se darem tão bem como o diretor havia exigido.

Na verdade, com o passar dos dias, isso acabou se tornando uma piada interna entre eles que se divertiam horrores quando estavam longe dos demais ao lembrar do choque dos colegas e do diretor quando agiam de forma rude um com o outro. Era nos momentos a sós quando estavam no mesmo carro, apenas na presença de seus managers, que eles podiam se expressar livremente.

Isso não significava muito, apenas que eles eram bons colegas. Talvez se tornassem amigos com o tempo. E só isso já era um alívio maravilhoso diante de todas as dificuldades que enfrentavam. 

Com o apoio e suporte de News e Note, Ohm e Fluke haviam decidido que após a estreia de "Until We Meet Again" eles continuariam a trabalhar juntos. A diferença, seria primeiro analisarem o script e produção para depois assinarem o contrato. Eles queriam a chance de poder contar histórias saudáveis, mas que também fossem confortáveis para eles próprios. Ou seja, nada mais de se submeterem aos desejos de gente preconceituosa e ambos estavam de acordo com isso.

Contudo, também passou a ser difícil para Ohm disfarçar não ver e ouvir as ameaças que Mean fazia para Fluke. O que era mais doloroso ainda, era ver a submissão de Fluke a tudo aquilo que estava acontecendo porque Ohm sabia que ele não era daquele jeito e estava se comportando assim apenas para tornar o trabalho mais fácil para todo mundo. Era uma situação insustentável e ele sabia que em algum momento explodiria. Só não sabia que seria algo tão grande.

"Corta! De novo!", Mean gritou.

Eles estavam refilmando o beijo de despedida de DeanPharm. Os dois se separariam por um tempo porque Pharm queria ter certeza dos seus sentimentos por Dean serem reais e não um reflexo de suas vidas passadas. Era uma cena difícil porque apesar do beijo, ela era muito mais dramática do que romântica e todos estavam tensos com isso. Mesmo assim, Ohm estava tentando dar todo o apoio e suporte que poderia para Fluke.

"Ei, ei! Tá tudo bem! Vamos de novo, ok?", o mais novo disse acariciando levemente as costas da mão pequena apoiada no seu joelho. Sentados no chão como estavam, a diferença de altura entre eles parecia ainda maior e isso fazia o coração de Ohm doer de vontade de abraçar o pequeno para protegê-lo de todo o mal.

"Obrigado, Phi!", Fluke tentou sorrir, mas ainda dominado pelas emoções do personagem apenas esticou os lábios na imitação de um sorriso.

"De novo! Em suas marcas! Gravando!", o diretor ordenou mais uma vez e os rapazes obedientemente executaram as suas falas. Dessa vez, eles conseguiram passar o texto com facilidade e até mesmo a falha na voz de Fluke deu a emoção certa que Pharm sentia no momento, mas aparentemente alguém não estava satisfeito.

"Não! Corta, corta, CORTA!", o diretor gritou se levantando de sua cadeira e se aproximando dos atores que levantaram por instinto.

"Você é muito mole! Não pode dizer as suas falas como um homem de verdade?", Mean gritou.

"Phi Mean, não acho que…", Ohm começou a dizer, mas Fluke tocou em seu cotovelo o fazendo parar.

"Desculpa, Phi. Eu vou tentar fazer melhor…"

"O que é isso? Por que você tá tocando no braço dele?", Mean gritou puxando Fluke para longe de Ohm. O ato foi tão brusco e inesperado que o ator mais baixo perdeu o equilíbrio e acabou caindo. Por sorte, a cena que eles estavam filmando se passava no quarto de Pharm e Fluke pousou de sua queda na cama do personagem.

"Fluke! Você está bem?", Ohm se assustou e foi junto ao parceiro verificar se ele estava bem. O menor garantindo rapidamente que não havia se machucado.

"Phi Mean, você é o diretor da série, mas não tem o direito de fazer isso!", Ohm falou se aproximando do homem.

"Nong, o que você está fazendo?", News perguntou assustado. Todos os demais membros da equipe anestesiados com a cena real que se desenrolava diante de seus olhos.

"É, Nong! O que você pensa que tá fazendo?", Mean questionou, um sorriso sarcástico e vilanesco em seus lábios.

"É isso mesmo que eu estou falando! Estamos cansados das suas ameaças! Eu ouvi você falando pro Fluke no outro dia que ele não poderia se aproximar de mim como se isso pudesse me tornar gay. Bom, eu trago novidades pra você, babaca! EU. SOU. PANSEXUAL. Você entende o significado disso ou sua mente homofóbica é pequena demais pra isso?"

Com as declarações feitas por Ohm, todas as pessoas ocupando o minúsculo quarto estavam completamente em choque. Algumas sentiam que algo estranho estava acontecendo com Fluke, mas não sabiam dizer o que era antes disso. Da mesma forma, o choque não foi menor ao perceber que Ohm havia saído do armário de forma tão inesperada.

"Ohm, não faça isso…", Fluke tentou implorar, segurando a mão grande do outro nas suas duas menores.

"Noo, a gente não pode mais viver assim…", Ohm disse apoiando a mão livre no queixo delicado do outro.

"Nong, acho que você não sabe do que tá falando! Eu sou o diretor dessa série e você deve ter esquecido o poder que eu tenho sobre vocês!", Mean tentou ameaçar.

"Você tem sim obrigações contratuais sobre nosso desempenho, Phi, mas nunca terá poderes sobre nossas pessoas. É por isso que eu me demito!", Ohm disse olhando pro diretor, mas sem retirar as mãos de Fluke.

"Se você sair por aquela porta, vai ter a notícia dos meus advogados, garoto!", Mean tentou usar a última cartada, mas em vão.

"Eu só posso te desejar boa sorte, Phi!", Ohm disse para o homem e se virando para Fluke, perguntou: "Vamos?".

Pela primeira vez em muito tempo. Não, pela primeira vez desde que se conheceram, Ohm foi capaz de ver no rosto de Fluke um sorriso sincero e ele tinha certeza de que aquele brilho seria capaz de iluminar o mundo inteiro.

"Vamos!", Fluke respondeu entrelaçando seus dedos com os de Ohm e ambos deixando o local de filmagem acompanhados de seus managers. As pessoas da produção com olhares incrédulos e o diretor falando freneticamente no telefone não foram suficientes para fazê-los parar. Eles estavam dispostos a ir até o fim e sempre juntos!

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