Não diga...

Capítulo 1: O começo

Quem visse a versão de 12 anos de idade de Fluke Natouch não diria que se tratava do mesmo menino de sorriso aberto e extrovertido. A sua versão adolescente com olhos cobertos por longos fios de cabelos também fazia questão de esconder seu sorriso e sua voz. Tanto, que seus pais começaram a se preocupar com sua timidez se desenvolvendo para algo mais sério.

Em geral, este tipo de inibição social não é um problema patológico, certo? Pessoas tímidas ocupam os mais diversos locais possíveis e levam uma vida tranquila dentro das suas possibilidades. Contudo, no caso de Fluke, ele havia ficado esperando por 5 horas na escola depois que perdeu o horário do ônibus para casa após o término das aulas porque, em decorrência da sua timidez, não conseguia pedir de algum adulto para lhe ajudar. Não é preciso comentar o susto de seus pais ao chegarem do trabalho e encontrarem a casa vazia. Felizmente, logo eles descobriram o paradeiro do garoto e o buscaram na escola.

Porém, este evento serviu para alertar sua família de que algo pior poderia acontecer se não tomassem providências. Depois de ouvir a opinião de um psicólogo, eles decidiram matricular Fluke nas aulas de teatro e logo perceberam a desenvoltura natural que o garoto tinha para as artes cênicas. Aliás, ele gostou tanto da coisa que por vontade própria quis participar do acampamento do clube de Teatro que aconteceria durante as férias.

Foi lá que ele viu Ohm pela primeira vez.

Ohm era mais alto, mas mais novo que ele e nunca deixava o sorriso acompanhado da covinha por onde quer que passasse. Como era muito gentil e carismático, logo fez amizade com todo mundo no acampamento, inclusive com Fluke. Os dois acabaram se tornando inseparáveis e onde vissem um Ohm, logo atrás estaria um Fluke e vice-versa, um sempre pronto a ajudar o outro quando necessário.

Não foi surpresa por isso, quando ambos foram escalados para os papéis principais da peça de encerramento do acampamento que teria espaço na noite antes deles irem embora. A peça era romântica e os dois dividiram um beijo na cena final, o primeiro de ambos, mesmo que não passasse de um inocente selinho.

Fluke havia se apaixonado por Ohm durante toda aquela quinzena de interação e decidiu arriscar: logo depois da peça, enviou a ele um bilhete por meio de seus amigos. Nele, pedia para se encontrar com Ohm perto do lago à meia-noite e lá pretendia fazer a sua confissão. 

Infelizmente, o recado se perdera. Não por malícia dos mensageiros envolvidos, mas na euforia da juventude nem todos se lembram do que prometem e o pequeno pedaço de papel acabou desaparecendo dentro do bolso daquele colega despreocupado. Alheios a tudo isso, Ohm e Fluke não se encontraram. Mais uma vez Fluke se viu esperando sem que ninguém o ajudasse.

Anos mais tarde, Fluke encontrou Ohm como seu parceiro em uma série, "Until We Meet Again" e depois de vários eventos malucos e desastrosos, eles acabaram pedindo demissão e assinando com uma nova produtora. Mas uma coisa ainda permanecia a mesma: Fluke gostava de Ohm e o último não se lembrava de nada do passado até o primeiro fazer aquela breve menção a isso.

Porém, como nada sabia do bilhete perdido, sua memória dos fatos não era a mesma de Fluke que havia se afastado gradativamente dele por conta disso.

Assim, mesmo precisando se dedicar às filmagens da nova série, Ohm decidiu que tiraria o passado a limpo com Fluke para que ambos pudessem aproveitar o quanto antes a plenitude de seus sentimentos que ele tinha certeza serem correspondidos.