Capítulo 2: Apenas amigos

42 6 0
                                    

Ohm sentia como se todo o progresso que havia feito em sua relação com Fluke tivesse sido em vão. Apesar de tudo que haviam passado nos últimos seis meses e toda a intimidade que haviam desenvolvido, de repente o mais velho parecia ter ignorado e passado a tratá-lo de forma puramente profissional. Sim, era ótimo ter um ator meticuloso e perfeccionista como parceiro, ele se sentia crescendo a cada segundo em cena, mas ele também sentia falta do seu "Noo".

"P'Ohm? P'Ohm? P'Ohm?", Fluke estava tentando chamar a sua atenção estalando os dedos na sua frente, mas sem sucesso, já que o outro parecia perdido em pensamentos.

"Ah, desculpa, Noo! Estou aqui!"

"Precisamos decidir se vamos fazer a prova do figurino esta tarde ou apenas amanhã de manhã! Pessoalmente, acho melhor fazer isso hoje mesmo, assim eliminamos um dos compromissos da agenda dessa semana, o que você acha?", ele perguntou aguardando uma resposta.

"Claro, Fluke! Acho uma boa ideia!", Ohm concordou enfim.

A prova dos figurinos era complicada com roupas bem ajustadas e sobreposição de acessórios como coldre, tudo para passar a imagem de agentes secretos bem armados e confiáveis. Ohm passava uma imagem que exigia respeito e Fluke exalava confiança, ambos lindíssimos e sensuais.

Entre as trocas de roupas, Ohm acabou entrando no vestiário sem bater antes na porta e deu de cara com Fluke trocando de roupa.

"Ah, desculpa, Noo! Eu volto depois!"

"Não, não! Eu preciso de ajuda mesmo! Por favor…", Fluke disse se aproximando de Ohm e mostrando a confusão que havia feito. Ele havia tirado a camisa sem desabotoar antes os punhos e um dos botões havia enroscado numa parte do coldre, unindo ambos os seus braços às costas e o impedindo de remover a roupa.

"Nem ouse rir disso, P'Ohm!", ele censurou já prevendo o comentário do parceiro sempre brincalhão.

"Eu não vou dizer nada, Noo! Jamais poderia rir de você sabendo que está em situação difícil…", o mais novo se defendeu usando a lógica e desviando do assunto.

Por alguns instantes, ambos ficaram em silêncio e ouvindo apenas as próprias respirações e as tentativas de Ohm em desfazer a confusão no figurino de Fluke. É verdade que ele poderia ter soltado o outro com mais facilidade se tivesse pedido ajuda, mas ele não queria dividir aquele momento com mais ninguém.

Era raro para ele ver Fluke sem usar maquiagem cobrindo suas tatuagens e havia algo de sensual e íntimo nisso. Ele sentia suas mãos coçando por tocar nas marcas desenhadas na pele suave, mas se detinha com receio de ser rejeitado.

"Ai, que dor…", Fluke disse quebrando sua linha de raciocínio enquanto massageava os braços e costas por ter passado muito tempo na mesma posição depois que o mais novo o libertou.

"Ah, deixa que eu te ajudo!", Ohm disse aproveitando a oportunidade para aplicar uma massagem no outro. 

As mãos de Ohm se mostravam habilidosas e gentis, exatamente como Fluke imaginava em seus sonhos ao se sentir tocado pelo outro. Era difícil evitar emitir alguns gemidos de prazer com os movimentos dos dedos quase mágicos de Ohm, mas o mais novo parecia não se importar com isso, até que Fluke o sentiu arfando em busca de ar e mais próximo de sua orelha do que deveria. A voz rouca saindo numa mistura de desejo e culpa.

"Noo, eu te amo! Meu amor, meu noo!", Ohm confessou apoiando a testa no ombro do outro.

Por mais que Fluke quisesse aceitar a doçura daquelas palavras, sabia que seu coração não aguentaria ser decepcionado mais uma vez pela mesma pessoa e se afastou, pegando a camisa descartada para cobrir o torso enquanto falava com Ohm.

"P'Ohm. Ohm…", ele respirou algumas vezes para se recompor e conseguir demonstrar confiança. "Ohm, eu acho melhor pararmos com isso. O melhor para nós é sermos apenas amigos. Você acha que consegue fazer isso?"

"Fluke, eu não entendo! Por que precisamos fazer isso quando é claro para qualquer um perceber que eu te amo e que você…", mas Ohm não pôde terminar a frase.

"Ohm, eu estou te pedindo para sermos amigos. Você pode fazer isso por mim, por favor?"

Assim, diante da pessoa que mais importava na sua vida, Ohm se via diante de um dilema. Por um lado, ele queria fazer tudo para agradar ao seu amado. Por outro, isso implicava em se afastar dele romanticamente. Porém, como Ohm jamais seria capaz de fazer algo contra a vontade de Fluke, ele decidiu aceitar os termos propostos ainda que isso parecesse um soco no seu estômago.

"Tudo bem, Noo…"

Não diga...Onde histórias criam vida. Descubra agora