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Chegamos ao compartimento principal, eu e o Ethan. Era uma das reuniões semanais costumeiras, quando todos repassavam os lugares que precisavam de reparo e uma atenção a mais, e o estoque de suprimentos era reavaliado. Após alguns momentos de conversa, chegamos à conclusão de que a nave em si não necessitava de reparo algum, só o estoque de oxigênio que sofreu alguma avaria nos últimos dias (nada que não pudesse ser controlado) e uma solicitação precisaria ser feita à nossa base na Terra, referente ao suprimento líquido. Nada demais.

- Pensei que provavelmente precisaríamos racionar um pouco mais a comida, mas ao que tudo indica, vamos conseguir comer porções normais por pessoa, a mesma porção que foi definida individualmente no início da missão.- Ethan Afirmou.- Alguém tem mais alguma dúvida?

Silêncio.

- Opiniões também valem. - Ethan adicionou.

Carter levantou a mão.

- É uma pergunta, na verdade.- Ethan moveu a cabeça, assentindo de forma a fazer com que Carter continuasse a falar.- Como você faz pra manter o cabelo tão sedoso em gravidade zero?

Risos abafados podiam ser escutados vindo da tripulação. Ethan parecia ter ficado levemente corado repentinamente, balançando a cabeça em negativa, mas de bom humor. Ignorando a pergunta, Ethan continuou.

- Então ninguém tem dúvidas.- Afirmou.- Liberados.

A tripulação se dispersou e fui dar um pulo rápido no meu compartimento, procurando meu bloco de notas dentro do armário (não era bem um armário, mas tinha uma portinhola e dava pra guardar coisas; então em tese era um armário), dar uma lida nele e checar se tinha esquecido de algo ou se o próprio Ethan, talvez, tivesse deixado alguma coisa importante passar para lembrá-lo na próxima reunião. Fiz alguns rascunhos e deixei tudo no lugar novamente. Saí do compartimento, olhando lentamente ao redor e sentindo falta de alguma distração de verdade. Na Terra eu costumava ler bastante, mas não se tem tanto livros assim no espaço. A maioria das coisas que temos acesso digitalmente são os protocolos da missão, e os livros físicos nem se fala. Ninguém ia querer abrir mão de colocar mais comida desidratada na bagagem no lugar de ocupar espaço com um amontoado de páginas (que custa bem caro enviar para a estação espacial). Lançamentos desse tipo nunca saem com um preço acessível. Então segui até o compartimento no final do corredor, ligando meu comunicador enquanto encarava a porta de entrada.

- Oi, Carter.- Falei.- Sou eu.

A porta se abriu, revelando um Carter completamente focado em seu trabalho e, quando digo trabalho, quero dizer estantes e mais estantes de plantas de diferentes tipos e espécies, desde algas simples bem conhecidas à plantas exóticas de porte médio. Carter é o biólogo da tripulação, mestre e doutor em botânica. Desde muito novo se interessou em como algumas plantas se comportariam em condições mais hostis, como uma gravidade diferente, pressão, temperatura e um solo provavelmente muito mais ácido que o nosso. Ele era um chato profissional, mas sempre dedicava a maior parte do seu tempo ao seu trabalho. Quando não falava com seres humanos, estava conversando com algum ser clorofilado.

- E aí, qual é a novidade?- disse ele, sem levantar os olhos das briófitas que manipulava cuidadosamente.

- Nada, só entediada mesmo.- Afirmei.- Outra vez.

- Sabe qual é a real, Hazel? Às vezes eu acho que você só não foca nas coisas certas.- Ele falou, podando uma parte aparentemente morta de outra muda.- Se fizesse o que gosta, provavelmente não estaria assim.

- Calma aí amigão, cheguei aqui pra falar com você e de repente sou atacada com questionamentos sobre minha vida profissional? - Indaguei, com uma pontada de frustração na voz.

With love, HazelOnde histórias criam vida. Descubra agora