O Fim ou o Íncio

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       Um milagre tinha sucedido. Lia, que estava enfraquecida e ferida de todas as agressões que suportou na sua estadia no luxuoso hotel, tinha sobrevivido a um acidente de automóvel horrível que não deixou mais sobreviventes.

       Após ter sido desencarcerada da viatura a infeliz rapariga teve de ser transportada para o hospital mais próximo do local onde o horroroso acidente tinha decorrido. Os agentes da polícia aguardavam impacientemente o despertar de Lia, que se encontrava em coma, para a interrogarem e descobrirem se teria sido Lia a assassina de Jimmy Bonfanti. Numa manhã inundada de raios solares, contava-se o sétimo dia que Lia passaria internada, mas o hospital foi surpreendido. Lia Buttler acordou. Ficou tetraplégica e paraplégica, partiu 4 costelas, tinha queimaduras graves na cara e como consequência dessas queimaduras, ficou cega. Lia que foi lentamente recuperando os sentidos rezava a Deus para não os recuperar. Rezava a Deus para adormecer e nunca mais acordar. Queria morrer, não porque tivesse medo de viver, mas porque a vida a abandonou. Questionava-se se alguma vez tinha vivido a vida. Lia levou a vida a estudar para conquistar um sonho que foi em vão. Nunca teve vontade de fazer amizades só via os estudos à sua frente. Sentia-se então arrependida pela vida que levou.

       Lia teve que se sujeitar a inúmeras operações e a um grande plano de recuperação que demorava entre 2 meses e meio a 3 meses. Durante esse tempo o hospital de Dover foi a sua primeira casa. Os utentes viam Lia como uma mulher sombria, mas valente e admiravam-na bastante. Os médicos não permitiam que a polícia interrogasse Lia enquanto ela não estivesse recuperada, o que deixava agentes da autoridade irritados e ainda desesperados para resolver o caso. A vida no hospital era então tranquila e embora Lia não trocasse palavras com ninguém ia aproveitando para limpar a sua mente.

       Passados dois meses era notável a recuperação de Lia, já não estava tão pálida, algumas feridas estavam saradas, as costelas partidas estavam recompostas e embora tivesse estragos que ficassem para a vida, como a paraplegia, tetraplegia e a cegueira Lia decidiu seguir com a vida em frente pois não tinha mais nenhuma opção a escolher. Após a saída do hospital foi de imediato entregue à polícia. Os médicos que a cuidaram comoveram-se com a despedida, mas ela não se importou. Ela deixou de conseguir sentir algumas coisas. Alguns sentimentos, como a felicidade, o orgulho e a gratidão, deixaram de se fazer sentir nela.

       Os agentes policiais após terem acompanhado Lia à esquadra inqueriram-na sobre a morte de Jimmy. Este interrogatório apanhou Lia de surpresa. Não estava à espera que a considerassem suspeita do assassinato de Jimmy. Nenhuma questão a assustava, mas os detectives não sabiam se podiam acreditar nela. No fim do interrogatório a maior vontade de Lia era chorar pois era difícil para ela falar sobre o seu amigo que tantas boas memorias lhe trazia. Pediu para permanecer na sala do interrogatório e revelou tudo o que lhe tinha acontecido, desde a morte do seu pai até ter sido raptado pela sua mãe, que Lia ainda não descobrira que era mentira. A forma triste como se expressava comovia os polícias, mas eles não podiam deixá-la ir, só estavam ali para a ouvir. Antes de enviarem Lia para a sua cela, ela pediu para visitar só uma última vez a casa de Jimmy, a casa onde Jimmy a acolheu. Os polícias cederam essa vontade a Lia e esta quando soube que lhe tinha sido cedido o pedido assustou a esquadra policial inteira com a beleza do seu sorriso. Foi o seu primeiro sorriso desde que tinha deixado o hospital.

        Chegou a casa de Jimmy e o respirar do ar tranquilo que habitava aquele palácio era o suficiente para ela ver o que estava à sua volta. Entrou dentro da casa, foi direta ao quarto onde tinha ficado alojada pediu privacidade aos agentes que a acompanharam e deitou-se na cama. Imaginou na sua cabeça tudo o que estava à sua volta baseando-se nas suas recordações. Levantou-se e pediu a um agente que lhe dissesse todos os objectos que se encontravam no quarto e Lia ficou perplexa quando o agente divulgou no meio de uma lista de objectos a existência de uma caixa que continha dentro dela uma bailarina que dançava ao ritmo de uma melodia. Lia conhecia essa bailarina e também conhecia a melodia, cruzou-se com essa caixa no escritório de Jimmy, quando ficou lá adormecida. Lia pediu ao agente que abrisse a caixa para que pudesse ouvir a melodia, mas desta vez a caixa não continha apenas a bailarina e a melodia. Continha uma carta. Essa carta foi escrita para ser entregue a Lia. A rapariga ficou surpreendidíssima e pediu desesperadamente que a carta fosse aberta. Na carta, Jimmy revela a Lia o facto de serem irmãos. Revelava que o seu pai não foi assassinado por ninguém, mas por um incurável cancro nos pulmões. Revelou que a sua mãe não era maldosa e que não teve culpa do rapto e das agressões a que Lia foi sujeita e que a verdadeira culpado tinha sido, Christie. Revelou que estava farto da vida e que por isso decidiu suicidar-se.

       Lia não deteve as lágrimas enquanto ouviu a leitura da carta. Foi apanhado de surpresa e sentia que embora agora soubesse a verdade, a sua vida não fazia sentido. Morria de saudades do seu pai e da sua mãe que ainda não sabia como tinha falecido. Morria de saudades de Jimmy. Os seus olhos assemelhavam-se ao inferno e a sua alma estava a ser conquistada pelo diabo. Nunca pensou que toda a verdade estivesse guardada pela bailarina que bailava ao som da melodia que a fazia adormecer. A sua mente estava a assassina-la embora o seu coração não parasse. Lia pediu de novo privacidade. Na sua privacidade, Lia que estava sentada numa cadeira de rodas balançou o seu corpo para o chão. Rebolou para dentro da lareira,  e deixou que as chamas conquistassem o seu corpo. Quis reencontrar a sua família que estaria noutra vida. Lia realizou o seu desejo, morreu. E quem sabe, talvez, tenha vivido feliz para sempre. 

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⏰ Última atualização: Mar 06, 2015 ⏰

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