Capítulo 3 - Finais Mentem

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No som a música "Ginga - Iza com participação especial Ricon Sapiência", tocava no último volume. Alice dançava diante de mim, movendo seu corpo suavemente com a batida da música, sensualizando sem ser vulgar. Eu joguei um sorriso malicioso, meus olhos passeavam por suas curvas e fazia minha mente deslizar por seu corpo. De repente uma garota bateu o ombro no meu peito perdendo o equilíbrio, seu corpo desceu como se perdesse a consciência. Inclinei meu corpo para baixo e agarrei a blusa da garota puxando seu corpo para cima.

-Carson? - perguntei.

Ela jogou seus olhos vazios para meu rosto, como se não estivesse totalmente consciente. Empurrei o corpo dela para trás sobre uma cadeira, ela levantou o rosto e passou os olhos ao redor como se não soubesse onde está.

-Carson - gritei sobre seu rosto.

Ela não reagiu, estava totalmente aeria.

-Fica aqui, vou pegar uma garrafa de água - Sussurrei.

Dei as costas e caminhei até a mesa de vidro, agarrei uma garrafa de água e virei o corpo, mas Carson não estava na cadeira. Arrastei os olhos ao redor, por entre as pessoas dançando mas não a encontrei.

-Mack, eu vou para o dormitório do Chance tá? - disse Camila - Alice vai te levar para o dormitório.

-Você viu a Carson? - perguntei.

-Quem?

-Nada, deixa para lá - respondi.

Camila me deu um abraço e desapareceu na multidão, Alice se aproximou dançando com um sorriso malicioso, me puxou pelo braço e esfregou seu corpo no meu, mas eu continuava procurando Carson. Joguei os olhos para a mesa de vidro que estava vazia, Zuri e Daniel também tinham desaparecido.

-Quer ir embora? - Alice perguntou.

-Sim.

Alice agarrou minha mão e me puxou, atravessamos os bêbados dançarinos, passamos pela porta de vidro, atravessamos a sala, ela empurrou a porta da frente e me esperou passar. Descemos alguns degraus e caminhamos até um carro branco com vidros fumê, puxei a porta e saltei para dentro do carro. Assim que Alice deu partida, no som começou a tocar a música "Imprevisível - Tribo da Periferia", joguei meus olhos para a janela e observei meu reflexo vazio me encarando de volta. De repente meu reflexo estremeceu como se estivesse dentro da água e uma pedra caísse no centro e jogasse uma gota para cima, e se transformou no rosto da Sarah. O reflexo me jogou um olhar assustado, como um pedido de ajuda silencioso. Inclinei meu rosto para baixo e enfreguei os olhos, devo estar muito bêbada. Alice estacionou na frente do dormitório, puxou o freio de mão, tirou o cinto de segurança e se inclinou sobre mim, tocou meus lábios em um beijo quente, meu corpo se arrepiou. Ela se afastou e sorriu enquanto eu desmanchava minha feição assustada.

-Dorme bem - disse ela.

Lancei um sorriso tímido e saltei do carro, subi as escadas tentando organizar as ideias, empurrei a porta do quarto e lancei meu corpo na cama, entrelacei os dedos na nuca e joguei meus olhos no teto. A música ecoava na minha cabeça, os lábios macios de Alice pareciam ainda tocar os meus, o olhar perdido de Carson costurava meus pensamentos e se desfazia no rosto da Sarah. Passei a noite desviando das lembranças e me escondendo dos pensamentos, nada mais fazia sentido. Assim que o sol lançou seus raios por entre a fresta da janela, saltei da cama, desci as escadas, caminhei pelas ruas até encontrar uma cafeteria. Pedi um capuccino e um muffin de banana, sentei a mesa encostada na janela, joguei meus olhos para a rua e assisti as gotas de água explodir no chão. Enfiei o fone no ouvido e coloquei a playlist no aleatório, começou a tocar a música "Espaço - Day Limns". A chuva aumentou a intensidade, se tornou uma cortina e deslizou na janela. De repente Sarah surgiu entre as gotas de chuva, puxou a porta e se lançou para dentro da cafeteria, fechou o guarda chuva e se inclinou sobre o balcão. Levantou o braço e apontou com o dedo indicador para o café com caramelo no menu preso na parede, o atendente balançou a cabeça de forma positiva, ela desceu o braço e apontou para o maffin de banana dentro do balcão de vidro. O atendente deu as costas e foi preparar o café, Sarah enfiou a mão no bolso, tirou uma nota de cinquenta e jogou sob o balcão. A porta da cafeteria se abriu permitindo a entrava do vento que empurrou os cachos ruivos sobre seu rosto, ela virou o corpo em direção ao vento para que o mesmo empurrasse seu cabelo para trás. A música mudou e começou a tocar "Jurei que não ia falar de amor - Day Limns". Sarah virou o rosto e me olhou diretamente, sua feição mudou, parecia estar assustada. O Atendente a chamou e entregou um copo descartável e uma sacola de papel, Sarah voltou seus olhos para mim e atravessou a porta. Enfiei a mão no bolso, joguei uma nota de vinte na mesa e corri atrás dela. Por entre as gotas da chuva e atravessando a rajada do vento.

-Sarah - gritei.

Ela virou o corpo e seu casaco bege se abriu com o vento, ela vestia uma blusa preta, cachecol marrom e jeans azul marinho.

-Oi

-Oi - ela respondeu.

-Quer tomar um café mais tarde?

-Desculpa - disse ela me dando as costas.

-Um refrigerante ou uma cerveja.

Ela virou o corpo e me lançou um olhar furioso.

-Não Mack, eu não quero beber nada.

-Me desculpa por ter confundindo as datas.

-Deixa isso para lá - disse ela.

-Por quê está agindo assim?

-A melhor coisa que você faz é ficar longe de mim - disse ela - Você tem uma vida perfeita, a Zuri vai te fazer popular e vai ter quem você quiser.

-Eu não quero essas coisas.

-Fica longe de mim Mack, para o seu próprio bem.

A música "Finais mentem - Day Limns" começou a tocar nos fones, inclinei a cabeça para baixo, enfiei a mão no bolso e apanhei o pingente. Entendi o braço com o punho fechado, ela abriu a mão e eu deixei o pingente cair em sua mão. Ela arrastou seus olhos do pingente para meu rosto. Dei as costas, enfiei as mãos nos bolso e caminhei para o meu dormitório deixando a chuva me molhar.

-Eu só quero você - Sussurrei.

Medusa (Lésbico / Livro Físico) Onde histórias criam vida. Descubra agora