Capítulo 10 - Chamar a paz

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Me escondi no quarto do hotel por uma semana, para me recuperar física e emocionalmente, ou apenas tentar lidar com as dores da carne e do peito. Minhas feridas estavam cicatrizando lentamente, as dores aos poucos se tornaram suportáveis, minhas mãos se fechavam com dificuldade, mas o hospital se tornou uma lembrança distante. Minha mãe precisava retornar para nossa cidade, por questões de trabalho, já que é a melhor dentista da cidade. Frustrada por não conseguir me convencer a retornar, decidiu me acompanhar para a universidade e conferir pessoalmente minha adaptação. Fomos direto até a sala da coordenação, nos sentamos diante de uma mesa de madeira envernizada. A Cordenadora é uma mulher de meia idade, cabelos loiros na altura dos ombros, pele clara com marcas de expressão, olhos grandes esverdeados, óculos redondo apoiado na ponta do nariz, blaser de linho cinza, camisa social branca, maquiagem discreta e longos brincos de ouro. Ela se inclinou e apoiou os cotovelos e antebraços sobre a mesa ao lado de uma pequena placa preta com o nome "Dorothy" com letras brancas.

-A Universidade São Antônio estima melhoras a você - disse Dorothy com seus olhos saltando por cima das lentes fundas dos óculos - sentimos muito pela situação que você teve de passar. Nós nunca imaginamos que algo semelhante poderia acontecer, e tenha a certeza que se de alguma forma poderíamos ter impedido tal infortúnio, certamente o teríamos feito.

Lancei os olhos para minha mãe que pareceu aceitar as palavras ensaiadas de Dorothy, mas eu não tenho tanta certeza sobre suas intenções.

-Te remanejamos para o dormitório próximo ao prédio que você estuda, para facilitar seu retorno - disse Dorothy me entregando uma chave - mas você não terá colega de quarto, pois todas as garotas já estão acomodadas.

-Preciso da chave do outro quarto para pegar meus pertences.

-Seus pertences já foram levados ao seu novo quarto, - disse Dorothy se inclinando para baixo de sua mesa - a polícia confiscou alguns objetos, mas nós vamos te restituir.

Dorothy apoiou uma caixa de um notebook e de um celular sobre a mesa.

-Meu celular está comigo - comentei - A Sarah me entregou no hospital.

-Então considere um presente.

Dorothy lançou uma bolsa de academia sobre a mesa.

-Aqui tem algumas roupas.

-Meu pai trouxe minhas roupas de casa - comentei.

-Aceite - disse Dorothy enfiando o notebook e o celular dentro da bolsa - estou a disposição para eventuais necessidades.

Apanhei a bolsa e desci as escadas da cordenação, minha mãe girava a chave do carro entre os dedos de forma agressiva.

-Eu agradeço por não ter xingado a coordenadora - comentei.

Minha mãe soltou o ar pela boca demonstrando sua insatisfação, mas se absteve de me responder. Caminhamos até o dormitório, enfiei a chave no trinco da porta principal, subimos um lance de escada, abri a porta do meu quarto novo e me surpreendi. O quarto é muito espaçoso, tem apenas uma cama grande, um guarda roupa com portas de correr, uma mesa apoiada a uma grande janela de vidro e uma cadeira de madeira com acento de veludo azul. Sobre a cama meus pertences estavam organizados, as roupas nos cabides do guarda roupa, alguns objetos nas gavetas, parecia que eu já morava ali. Minha mãe fez um longo discurso sobre o quanto eu estou errada em ficar, mas por entre as palavras seu coração se lamentava e chorava. Me deu um abraço forte, entregou a chave do meu carro e se afastou desaparecendo por entre os degraus da escada. Sentei-me sobre a cama, respirei profundamente, apertei os olhos sentindo o corpo arrepiar, as lembranças tocavam mimha pele com delicadeza esfriando mimha carne, senti medo. De repente abri os olhos e Taylor surgiu diante de mim, meu corpo deu um salto com o susto.

Medusa (Lésbico / Livro Físico) Onde histórias criam vida. Descubra agora