Capítulo cinco

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O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar.

— Arnaldo Jabor

Natália:

Choro baixinho sem entender porque estou sozinha enquanto meus irmãos dormem na cama com minha mãe. Meu pai foi enterrado hoje pela manhã e só quero estar perto da minha mãe.

Abro a porta do quarto devagar, temendo acorda-los, Nicole dorme encolhida no canto da cama enquanto Nicolas está abraçado com mamãe. Tento prender minha respiração para não acordar minha mãe e quando me sento na cama aos pés deles os olhos de águia de mamãe se abrem.

Não está com rosto inchado, na verdade, não a vi chorando durante o enterro do papai, mas me lembro quando ele me disse que cada pessoa se expressa de forma diferente, e que minha mãe tem um jeito único de se expressar. Talvez seja por isso que não chorou ou me abraçou quando o caixão desceu deixando o corpo do meu papai ali naquele monte de terra. Eu só queria que ela me colocasse em seu colo, como faz com o Nicolas e me dissesse que tudo vai ficar bem, mesmo sem meu papai aqui.

— Vai para o seu quarto, Natália — sua voz baixinha me censura — não tem espaço para aqui... Nessa cama e se você deitar vai acordar o Nicolas.

— mas mamãe — sinto o choro voltando e o soluço prender em minha garganta — quero ficar com você — acariciei sua perna querendo seu contato, querendo só um pouco de carinho, mas ela se remexeu para se livrar do meu toque — quero ficar aqui também — minha voz quase não saiu devido ao choro que prendo em minha garganta.

— Não me faça repetir Natália, vá para seu quarto, deite na sua cama e durma de uma vez, você vai apanhar se acordar seus irmãos.

***

Tudo se resume a uma pergunta.

Até que ponto a dor alheia te comove?

Minha infância foi solitária, na verdade, sempre estive só seja quando criança ou adulta e já procuro não me incomodar com isso, mesmo quando lembranças como a de hoje insistem em assombrar os meus sonhos. Finjo que nada aconteceu, que nada me machuca, mas ver outras pessoas sofrendo é algo que ainda não consegui fazer ou ignorar.

Muito jovem aprendi que não conseguirei mudar o mundo, mas posso melhorar a vida de uma pessoa e consequentemente melhorar o seu mundo e isso já me faz feliz. Que as outras crianças tenham o que eu nunca tive!

— Boa tarde — sorrio para a dezena de crianças que estão em frente ao portão me esperando.

Brasília tem diversos abrigos para crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade, mas não consegui licença para dar aulas em nenhum deles, Brasil e suas burocracias. Então encontrei a instituição Margarida, que sem fins lucrativos ou apoio do Estado atende mais de oitenta crianças carentes diariamente, além de oferecer reforço escolar três vezes na semana para todas as crianças do bairro. Famílias em situação de vulnerabilidade ou mães solo que não tem condições de pagar alguém para cuidar de seus filhos deixam as crianças aos cuidados das voluntárias desse espaço.

Minha Salvação / Spin Off Único Refúgio ( PAUSADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora