CAPITULO TRÊS

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Apesar de terem se passado horas, eu ainda estava irritada e completamente bêbada em meu quarto. Ser uma assassina tinha seu preço, e um dos mais caros era nunca poder engravidar, nunca poder ter filhos. Tiraram meu útero quando completei treze anos, em um dia que ficaria marcado para sempre em minha memória: 25 de outubro.

Naquele dia, anestesiaram-me e dormi por horas. Ao acordar, percebi algo estranho dentro de mim. Além disso, meus cabelos não eram mais ruivos, meu rosto estava diferente, principalmente o nariz. Eles haviam me transformado em outra pessoa enquanto eu dormia.

Naquele momento, entendi que a pequena e bondosa Marina, que acreditava nos "felizes para sempre" e nas histórias de amor contadas por sua irmã, havia morrido, não poderia existir mais.

Era como se eu tivesse morrido como Marina, mas renascido como Anya. Eles me deram um novo nome, um sobrenome, e quando melhorei, começaram a me treinar. No início, eu só fazia o que fazia para sobreviver, eu ainda nutria uma pontinha de esperança de ser salva pelo que havia restado de minha família.

Eu não sabia se meu pai estava vivo, se Bianca havia sobrevivido, só sabia que Valentina e Luigi estavam bem porque as notícias chegaram até o quartel. Lembro-me que eles me testaram para ver como eu reagiria ao ouvir o nome da minha irmã. Eu sabia que, se mostrasse ainda me importar com minha antiga vida, seria jogada sem dó e piedade dentro de alguma boate.

Então, guardei meus sentimentos só para mim, guardei minha felicidade e esperei por eles. Porque, se estivessem vivos, é claro que me buscariam. Mas eles nunca vieram, e eu tive que aprender a viver sem minha irmã para cuidar de mim. Foi horrível, mas sobrevivi e continuei sobrevivendo.

Consegui a confiança de Draimin, e ele viu que eu não arriscaria perder tudo que havia conquistado para ir atrás do meu passado. Realizava minhas missões com maestria, viajava para cada canto da Europa, mas nunca para os Estados Unidos. Eles nunca me deixavam ir.

E, no fundo, eu também tinha medo, e se Valentina não me reconhecesse? E se minha irmã não enxergasse a Marina em mim? E se, durante todos aqueles anos, a Marina tivesse se perdido dentro dessa pessoa que criei para sobreviver? Dentro da Anya?

Tudo isso me fazia ficar onde eu estava, apenas planejando minha vingança contra Sandro. Mas, é claro, que às vezes eu ia ao Google e jogava o nome da minha irmã e do seu marido na internet. Fazia quase um ano que não pesquisava. Da última vez, fiquei muito mal e percebi que procurar pelo meu passado era como jogar sal em minha ferida aberta. Se eu não deixasse cicatrizar, nunca ficaria curada.

Contudo, eu estava vulnerável, me sentindo mal pelas palavras de Dimitri e levemente bêbada. Então, que mal faria ferrar com tudo de uma vez só? No dia seguinte, eu iria sair da ressaca novinha em folha e pronta para outra missão. Entretanto, eu jamais estaria 100% preparada para o que eu iria encontrar ao escrever seus nomes no guia de pesquisa.

Valentina era mãe, não mais de duas lindas meninas, mas agora ela tinha mais um rapaz nos braços de Luigi. Estavam abraçados e tão felizes, tão radiantes. Algo ficou entalado na minha garganta. Era a tristeza de saber que eles haviam seguido a vida sem mim, que estavam felizes e que eu jamais iria conhecer meus sobrinhos.

A porta se abriu de repente, e eu fechei o notebook, olhei para Yuri parado, olhando-me com curiosidade.

— O que foi?

Olhei para baixo e neguei com a cabeça.

— Não é nada — murmurei.

Yuri suspirou.

— É pelo Dimitri e pela suposta noiva? Anya, eu te disse para não se envolver com alguém como ele. Não é a primeira vez que aquele idiota parte o coração de uma mulher.

Suspirei, exausta.

— Não fale bobagens, eu não tenho um coração para quebrar, vocês arrancaram-no de mim, lembra? — Resmunguei.

— O que aconteceu? Somos irmãos, me conte.

Mordi o lábio inferior e decidi que iria confiar em Yuri e me abrir para ele.

— Talvez seja a vodca, mas me senti mal com Dimitri e a suposta noiva. Me incomoda que só não sou boa o suficiente para ele porque me deixaram estéril — falei, amargamente. — E me frustra saber que minha irmã seguiu a vida dela sem mim, parece até feliz.

Yuri ergueu as sobrancelhas e me olhou confuso, então estendi o notebook para ele, que abriu a tela e seu rosto se fechou.

— Eu te avisei que revisitar o passado só piora as coisas. — Yuri falou baixinho.

Assenti, eu sabia disso.

— Vou ficar bem — murmurei.

— Olha, sobre sua irmã, não há o que fazer, e eu acho que o idiota do Dimitri que não é suficiente para você. — Yuri apertou carinhosamente meu ombro. Abri um sorriso sincero, aquelas palavras haviam realmente surtido um efeito positivo.

— O que posso fazer para ajudar?

Ergui as sobrancelhas.

— Sei o que vai me ajudar a melhorar — falei bebendo mais um pouco da minha vodca.

Yuri cruzou os braços.

— Eu estava pensando em convidar você para beber, mas acho que você já bebeu demais — ele murmurou entretido.

Sentei-me na cama e o puxei pela camisa, mas foi em vão, eu estava bêbada e muito mais fraca do que o normal.

— Vamos ter uma noite de muita paixão selvagem — falei grogue, então arrotei devido ao álcool. — Isso sempre ajuda.

Yuri negou com a cabeça.

— Você precisa dormir, logo — ele disse, tirando a garrafa da minha mão e saindo do quarto.

Franzi a testa, irritada.

Então me lembrei do pen drive com a pasta Macha, aquele pen drive que havia me deixado cheia de dúvidas. Tirei-o do meu esconderijo e voltei para a cama, conectando-o ao meu notebook e esperando aparecer todas as pastas que eu havia conseguido copiar.

Nas minhas pesquisas, descobri que Sandro era o subchefe de Nova Iorque e havia ameaçado a família de um soldado chamado Michele para que ele se entregasse como culpado. Pelo visto, Luigi acreditou nisso, mas por que ele acreditaria, eu nunca saberia dizer.

Encontrei a pasta e cliquei duas vezes, meu coração batia forte dentro do meu peito. Peguei outra garrafa de vodca que eu mantinha escondida no meu quarto e a virei na minha boca, mas antes que eu conseguisse engolir todo o líquido, vi um nome que me fez engasgar com toda aquela bebida.

Sequei a boca com a palma da minha mão.

— O quê? — Sussurrei, incrédula.

Eu não acreditava no que estava vendo.

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