10° soneto

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"A razão por que a despedida nos dói tanto é que nossas almas estão ligadas. Talvez sempre tenham sido e sempre serão. Talvez nós tenhamos vivido mil vidas antes desta e em cada uma delas nós nos encontramos. E talvez a cada vez tenhamos sido forçados a nos separar pelos mesmos motivos. Isso significa que este adeus é ao mesmo tempo um adeus pelos últimos dez mil anos e um prelúdio do que virá"

Despedidas. O quê de poético há nas despedidas? Yoongi se pegou pensando nisso quando encontrou este texto em meio a outros 792 textos sobre um adeus. Ele não podia fazer isso sozinho, achou que encontraria ajuda com os poetas da internet, mas entre quase 1000 textos, nenhum parecia entender de verdade sobre despedidas.

No galpão abandonado, observava Jimin melhorar em seu tiro ao alvo. Eles marcaram de continuar os treinos, mas não trocaram muitas palavras sem serem essas um com o outro. Seus olhos se desviavam constantemente, estavam esperando para ver quem cederia a começar a conversa.

Sentado em uma cadeira afastada, Yoongi continuava sua busca sobre melhores textos para um adeus e em outra página, comprava passagem só de ida para Busan. Pesquisou sobre o endereço que Jungkook passou, ele era real, mas não achou nada sobre o garoto na internet, nem ao menos uma rede social.

Um silêncio se instalou no galpão, que o fez acordar de seus devaneios. Jimin já acabara com os tiros ao alvo e agora brincava com a arma vazia sem levantar o olhar, como se esperasse por alguma ordem.

— Foram bons tiros, sua mira melhorou muito.

— Obrigado.

— Hum, o que acha de treinarmos alguns golpes?

— Acho melhor não, já está ficando tarde...

— Bem, então acho que já está bom por hoje. Eu estava pensando...se você não queria jantar comigo naquela lanchonete a três ruas da minha casa.

— Ah, não sei — disse hesitante, brincando com as pedrinhas que estavam no chão — eu gastei o meu último salário com alguns livros para faculdade, estou sem dinheiro.

— Eu pago, — se apressou — quero muito sair com você.

Jimin o olhava forçando um sorriso, acenou com a cabeça em confirmação e saíram do galpão. Estava com medo de passar um tempo perto de Yoongi, desde o dia na varanda da casa dele, sentia que o mais velho tinha algo para contar, e ele não estava disposto a ouvir.

Seguiram de moto até a lanchonete, ela era no estilo da lanchonete em que Jungkook trabalhava, mas bem mais moderna e aconchegante. Depois de realizarem seus pedidos, os dois intercalavam entre dar goles no suco, brincar com o guardanapo, estalar os dedos, mas sem dizer uma palavra sequer.

— Hoje você fez mais uma prova de cálculo, não é? Eu te ajudei na parte de trigonometria, você acha que conseguiu?

— Acho que sim, você sempre foi um bom professor — sorriu levemente — ontem você foi falar com o seu pai de novo, não foi? Aconteceu alguma coisa?

Yoongi não sabia como Jimin soube daquilo, talvez ele e sua mãe fossem mais aliados do que ele imaginou, e aquilo era um problema.

— Na verdade é sobre isso que eu venho querendo conversar com você, Minnie.

— Eu conversei um pouco com sua mãe sobre seu pai, ela parecia que não podia falar muito, mas dava para sentir a raiva nas palavras dela.

— Ela não gosta de falar dele, nossas vidas são um inferno por causa dele.

— Só porque eu queria conhecer meu sogrinho — riu levemente e Yoongi abaixou a cabeça.

— Se tudo der certo, você nunca irá conhecê-lo.

Farewell Sonnet Onde histórias criam vida. Descubra agora