28° soneto

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— Eu os declaro marido e...marido! — Jungkook levantou uma taça de champagne, e todos que estavam ali o acompanharam.

Estava um final de tarde tão agradável, decidiram se casar não oficialmente no monte deles, apenas uma celebração com os amigos no lugar tão especial para eles.

Seu terno branco ficava tão radiante em contraste com seu cabelo loiro recém retocado, sua pele reluzia contra os raios solares do pôr do sol, um pequeno ramo de jasmim no bolso do terno combinava perfeitamente com sua delicadeza e beleza.

— Quem precisa de cartório quando tenho um belo pôr do sol e um Jungkook de padre? — Jimin sorriu, passando a mão pela cintura do agora marido.

— Esse era o seu casamento dos sonhos?

— Meu casamento dos sonhos é qualquer um que seja com você. — Selou seus lábios gentilmente.

— Posso roubar seu homem um pouquinho?

— Claro, Jungkook — riu — desde que você me devolva.

— Vou pensar no seu caso — piscou de volta e saiu de braços dados com Yoongi para longe das pessoas — gostou do casamento?

— Está perfeito, obrigado Kook.

— Não tem que me agradecer, organizei de bom grado.

— Preciso agradecer Taehyung depois também, sei que ele ajudou a pagar. Aliás, vocês estão juntos ou ainda estão com drama?

— Juntos, porém depende. Quando ele me irrita nos separamos, aí depois voltamos.

Os dois riram e pararam de frente um para o outro na ponta do monte.

— Depois de tanto perrengue, nem acredito que agora posso passar o resto da minha vida com ele.

— Você viu como ele está bonito?

— E quando ele não está? Aquele terno branco, o cabelo loiro...parece um anjo.

— É...pena que está morto. – disse pesarosamente.

— O que você disse?

— Eu disse pena que está morto.

— Do que você está falando? Ele está bem ali... — apontou de onde vieram e Jimin não estava lá, na verdade, não havia nada lá. Girou a cabeça de volta para Jungkook e ele também havia sumido.

Estava sozinho lá, as pessoas sumiram, a decoração sumiu, não havia nada além dele e do sol que terminava de se pôr.

Um forte aperto em seu peito o derrubou no chão, gemia apertando os músculos com as mãos tentando fazer passar.

— Eu gostei tanto dele, — a voz abafada de Jimin cessou sua dor, respirou fundo e olhou em volta: não estava mais no monte – será que vamos conseguir adotá-lo?

Jimin segurava firme sua mão, olhos em zigue zague seguindo um pequeno menininho que corria entre as outras crianças. Não era uma criança asiática, na verdade, quase ninguém ali era asiático.

— Can you please follow me? — uma mulher bem vestida que segurava uma prancheta começou a falar com eles em inglês, pedindo que eles a seguissem.

— Of course! — Jimin respondeu entusiasmado, arrastando Yoongi com ele.

Havia uma placa na entrada do recinto que traduzida dizia "Orfanato da benevolência de Los Angeles".

Los Angeles, Yoongi se lembrava de Jimin comentar que pesquisava outros lugares para eles morarem, lugares que aceitassem eles serem a família que tanto sonhavam ser.

A mulher conversava com Jimin em uma sala privativa sobre as etapas da adoção, Yoongi preferiu ficar um pouco mais do lado de fora observando a criança que eles supostamente queriam adotar.

O menininho correu até ele e entregou um papel, voltando logo em seguida para o brinquedo que estava.

"Vocês vão me levar?"

Yoongi sorriu para o papel e com uma caneta em seu bolso respondeu, levando a cartinha de volta até o garoto.

"Vamos, querido"

O pequeno sorriu ao ler aquilo, escreveu novamente e entregou para Yoongi, sem dizer nada.

"Que bom! Queria que o homem loiro fosse com a gente, pena que ele está morto."

Pena que ele está morto.

Tudo sumiu. Névoa branca cobrindo seus olhos. Tudo doía.

Assistindo ao seu programa favorito na tv com Jimin sem seus braços.

— Queria assistir ao final desse programa — ele disse — pena que estou morto.

Deitado no banco de trás do carro de Park Minji com Jimin em seu peito.

— Queria tanto fazer isso de novo, pena que estou morto.

Os dois se despedindo na estação de trem.

— Queria ter me casado com você, pena que estou morto.

Jimin parado na sua frente embaixo da chuva com os olhos arregalados.

— Queria dizer que te amo mais uma vez, pena que estou morto.

As gotas de chuva pararam onde estavam, os passos que as pessoas davam nas ruas cessaram, todo e qualquer som se calou, o gatilho que ameaçava ser apertado, paralisou.

Yoongi tinha mudado a realidade de novo.

No momento em que se separaram, a realidade foi alterada, e tudo dali para frente era corrente para fazê-los se juntar novamente.

No momento em que seu pai atirou, a realidade foi alterada, e Yoongi viajou por todas as realidades possíveis esperando que existisse alguma que consertasse aquilo.

Realidades que ele estava presente, outras que passaram tão rápido que não conseguia ver o que tinha acontecido.

E então ele acordou, exatos segundos antes de perdê-lo, seus lábios ainda estavam conectados, se devorando com toda paixão. Quando o mesmo som foi ouvido, dessa vez mais alto, dessa vez diferente.

Jimin o olhou assustado, mas não tinha semblante de dor, não estava sangrando, não estava morrendo. Os dois olharam rapidamente para onde ouviram o tiro e havia um homem caído no chão, era seu pai, caído de barriga para baixo e uma arma em mãos.

Do terceiro andar de um prédio abandonado, Jeon Jungkook ainda olhava pela mira do rifle, derramando lágrimas como nunca tinha derramado antes. Yoongi não foi o único que viajou entre as realidades tentando salvar Jimin, eles estavam conectados, e o levou junto com ele.

O levou para uma memória passada que o assombrava densamente, seus pais, que ele perdeu tão cedo, foram mortos por Min Kwan, por tentarem salvar uma criança inocente. Yoongi tinha visto sim um futuro paralelo onde seu pai estava morto, mas nunca foi a polícia, força secreta, ou até outra máfia; sempre foi Jungkook. Min Kwan estava destinado a morrer nas mãos da criança que ele deixou órfão, esse sempre foi o seu destino.

As luzes vermelhas apareceram piscando ao longe, junto com um homem de cabelo azul saltando desesperado do carro e correndo até eles embaixo de chuva. Taehyung olhou para o homem esticado no chão e em seguida para Yoongi e um homem loiro abraçados os olhando assustados, soltou um suspiro de alívio e caiu de joelhos no chão. Homens da força tarefa, ambulâncias, policiais, todos começavam a chegar e correr para todos os lados em busca dos capangas que foram com o chefe até lá.

Yoongi e Jimin ainda em completo choque foram empurrados para as ambulâncias sem trocar uma palavra sequer. Olhando para a movimentação, Yoongi viu Jungkook ser cercado por vários homens enquanto Taehyung corria até lá para afastá-los. Também viu Seokjin, abraçado com um homem que o Min não conhecia.

Sentiu um toque quente em sua mão, Jimin a segurava ainda com os olhos focados no nada. Ainda não sabiam o que dizer, "eu te amo"? "eu te odeio"?, ele tinha lido a carta que Sooyong entregou, e também leu o caderno de anotações, os que continham toda a trajetória de Yoongi com seus poderes. Não entendeu nada do que estava escrito lá, mas agora tinha a chance de perguntar.

Tinha a chance de fazer tudo de novo.

Farewell Sonnet Onde histórias criam vida. Descubra agora