꧁ঔৣ☬Capítulo Um☬ঔৣ꧂

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Mudanças são de certa forma necessárias, não digo que seja fácil. Anos atrás me mudei de cidade para começar uma nova fase em minha vida, foi difícil, um desafio. Mas agora, após cinco anos, olho pra trás e vejo o quanto aprendi, comigo mesmo e quanto os outros me ensinaram. Hoje foi um dia difícil, trabalho em uma farmácia, e tem dias que somente quero minha casa, hoje é esse dia. Além de ter que aturar a mesma pergunta há cinco anos, tenho que aguentar pessoas duvidando de minha capacidade, se isso me abala? Não mais, hoje em dia ignoro e vivo minha vida.

Moro em uma casinha, dessas financiadas pelo governo, existe melhor sensação do que chegar na sua casa? Sim, chegar na sua casa e ver que não tem louça para lavar, dou um suspiro de satisfação por ontem ter tido uma crise de limpeza e ter limpado cada milímetro dessa casa, ao menos agora posso dormir em paz, e por mais tempo.

Após um banho merecido, coloquei uma camisa e minha calcinha, olhei o que tinha na geladeira e para minha alegria tinha pizza, esquentei ela e a comi enquanto pensava no que tinha acontecido hoje.

Por algum milagre acabei reencontrando uma amiga da minha cidade natal, foi legal admito, mas incômodo. Era sempre a mesma coisa: Você vai casar? Ué você não tem ninguém? Mas você trabalha demais, tem que tirar um tempo para namorar.

Como se eu quisesse isso, namoro não é pra mim, nunca namorei alguém, mas isso não quer dizer que não beijei garotos não. Namoro pra mim é algo sério, e no momento eu não tenho cabeça para isso, não tinha no passado, não tenho e creio que não vou ter. Não namoro porque não sinto atração por ninguém, eu simplesmente não quero. E por que insistem tanto nisso?

Vejo que comi uns três pedaços e dou risada, amanhã rigidez na dieta. Escovo meus dentes, e como sempre, desde o dia que me mudei para aqui, vou para minha sacada para olhar as estrelas.

As estrelas, tão pequenas mas tão reluzentes, e a lua, nem preciso dizer de sua beleza, sou fascinada e apaixonada por ela, e claro pelo sol que lhe permite brilhar na escuridão do universo, é um trabalho conjunto, ela é minha amiga, conto a ela meus segredos, desejos, medos, inseguranças e sonhos. Às vezes não precisamos de um conselho, apenas de alguém ou alguma coisa para que possa nos ouvir.

— É lua, eu tenho inveja de você, ao menos você tem sua alma gêmea, apesar de viverem separados, vocês se amam e podem se encontrar algumas vezes, não digo que não quero ter alguém, é que eu não vejo necessidade sabe? Ainda não encontrei aquela pessoa que faz eu perder a noção do tempo, ou espaço, não encontrei aquele que me faz querer observá-lo por horas e horas, ou aquele que mesmo sabendo que posso ser um pouco maluca, iria pro hospício junto comigo. É lua, você é sortuda minha amiga, tem as estrelas que lhe fazem companhia, o calor de seu amado e um alguém para ansiar encontrar, e eu?

Dou um suspiro pesado, quem eu tenho além de mim mesma? Assim que senti a brisa fria da noite decidi entrar em casa, coloquei meu casaco de gatinho e me aconcheguei nas cobertas, e após muito tempo eu queria ter alguém do meu lado.

Com o raiar do sol me levantei, mentira era porque esqueci de fechar as cortinas e o sol estava me incomodando, me levantei, fiz meu café e me sentei no sofá vendo as noticias, hoje pela glória de Deus era minha folga, ou seja paz. Olho para minha sala e vejo que não decorei ela pro natal que foi a cinco dias, nesse ano não deu, foi tudo um desastre, e agora faltando um dia para o ano de 2024 ter seu fim, vejo que o ano foi difícil. Minha resolução para o ano que vem? Ter menos dor de cabeça do que eu tive nesse ano.

Com um ânimo do tamanho de uma semente de um pé de mostarda, me levantei e me troquei, iria sair, peguei uma mochilinha e coloquei meu companheiro, o livro, uma ficção pós apocalíptica fantasiosa, era interessante. Meus documentos e um gloss, meu all star preto, ferrado por ser velho, e sai. Descendo a rua tinha uma pracinha, me sentei embaixo de uma árvore e fiquei ali a tarde toda, lendo o livro e observando famílias, casais, animais, correndo, aproveitando o tempo.

Por algum milagre havia levado uma maçã na mochila, mas eu queria comer um doce, apesar da minha dieta não permitir, eu queria, então me levantei decidida a comprar um doce, estava passando por uma rua abaixo da minha casa e encontrei uma cafeteria, entrei e pedi um café. Paguei ele, e quando ia saindo um grupo de garotos esbarrou em mim, derrubando meu copo com o café, quentinho, que nem tive a oportunidade de tomar.

Quando fui me agachar para pegar o copo e jogar no lixo, uma mão apareceu em meu campo de visão, pegando antes de mim.

Wow, somente, wow.

Quem era esse moço?

— Você está bem?

Concordo com a cabeça, por algum motivo tinha medo de gaguejar em sua presença. Isso nunca aconteceu.

— Posso lhe pagar um café então?

E então eu acordei, estava sorrindo, meu coração estava acelerado, sentia meu rosto quente, olhei em volta e bom eu estava em meu quarto? Foi tudo um sonho? Uma ilusão de minha mente? Não. Não pode, foi real. Eu senti as crianças esbarrarem em mim, a grama do parque, eu senti o olhar dele em mim, eu me senti diferente com ele.

E depois de meses guardados na gaveta de minha mesa tirei meus papéis, e escrevi novamente, uma carta. E algo me dizia que seria a primeira de muitas.

30.12.2024

"Posso lhe pagar um café?"

Foi com essas palavras que eu te conheci.

Olá, é tecnicamente eu sou uma estranha para você ainda, hoje umas crianças derrubaram meu café e você num ato de cavalheirismo me ajudou.

Acontece que eu nunca vi você em minha vida.

Quem é você?

Infelizmente eu não disse meu nome nem você o seu. O que não adianta muito já que sou péssima com nomes. Mas tem uma coisa que compensa, sou ótima em lembrar de rostos, e o seu será impossível de ser esquecido.

Com seu corte de cabelo undercut, jogado pra trás, sua feição séria, mas calma, sua boca carnuda com um sorriso delicado passando tranquilidade, suas pintas em seu lado esquerdo do rosto formando uma constelação única, seu cheiro me lembrando dos dias em que chovia e a chuva caia na madeira e na terra trazendo consigo um ar de lar, e seus olhos.... escuros como a cálida noite, sem estrelas ou o luar.

Eu lembro de você, lembro do seu olhar de preocupação querendo saber se me queimei ou machuquei, lembro de você com sua voz grave como trovão me oferecendo um café novo.

Eu lembro de você, mas não sei quem você é. O cérebro não tem essa capacidade de criar um novo rosto, uma nova pessoa assim do nada.

Estaria eu tão necessitada de atenção que consegui ter essa façanha impossível?

Ou, eu apenas não prestei atenção em você enquanto passava na rua ou algo assim? E por algum motivo meu cérebro armazena sua imagem em minha mente?

Sinceramente? Acho que enlouqueci, mas convenhamos, caso você passasse por mim eu lhe olharia certamente, seria um pecado não olhar....

Então quem é você?

Creio que essa dúvida irá me consumir pelo resto do dia...

Caro garoto dos olhos negros. (Irei lhe chamar assim...)

Nós nos conhecemos hoje, numa cafeteria.

Em meu sonho.....

A garota do café.

Caro garoto de olhos negrosOnde histórias criam vida. Descubra agora