Capítulo I

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Espanha 1919

Acima das colinas verdejantes , havia uma pequena casa . Lá vivia a família Wicowisky, composta por Júlia e suas três filhas.

Helena, a mais velha, saía toda semana para colher as flores que cultivava em seu pequeno jardim perto de uma colina ao lado do mar. Cássia e Sofia caminhavam até a pequena vila , poucos quilômetros dali para vender as flores que a irmã colhia e escolhia as mais belas. Júlia chamou as filhas para o almoço :

- Helena! Cássia! Sofia! Depois vocês terminam o trabalho , o almoço está pronto!

As três entraram e se acomodaram em torno de uma simples mesa de madeira.

- Mãe, estou com medo.- murmurou Helena - Estão perseguindo e matando Judeus, estão nos procurando em quase todos os países.

- Calma filha , não nos acharão.

- É muito difícil isso acontecer. - afirmou Cássia, a mais nova.

- Tudo bem. Se vocês dizem , eu me acalmo um pouco. - Helena sorriu levemente, mas no fundo sentia-se preocupada. Se as achassem, sabia o que poderia acontecer a ela e sua família.

***

No dia seguinte, alguém bateu na porta. Helena correu para abrir e , surpresa, viu um rapaz parado sobre o pequeno degrau de sua casa, com as mãos apoiadas na parede ao lado . Ele estava com as roupas rasgadas e encharcadas , e seus cabelos castanhos caíam no rosto colando na testa, respirava com dificuldade e seus lábios se moviam como se quisesse dizer algo.

- Quem é você? ! Você está bem? -perguntou ela, o olhando levemente espantada.

- Me ajuda... Por...favor... - sussurrou ele, logo despencando desmaiado ao chão.

A jovem wicowisky o viu cair penalizada e o arrastou, colocando-o logo no sofá da sala. Sofia saiu pela porta do quarto com os olhos inchados, eram 5 da manhã e após os barulhos levantou-se assustada, podia ser algum ladrão.

- Helena, o que está havendo? Eu ouvi uns barulhos e... - ela olhou para o rapaz no sofá apontando para ele - Quem é ele?

- Ele bateu aqui na porta pedindo ajuda. - respondeu Helena, caminhando até a irmã.

- E você o trouxe para dentro de casa?

- E eu por acaso iria deixar o coitado desmaiado na frente de casa? Pense um pouco Sofia! Mesmo se ele não for uma boa pessoa, não podemos deixá-lo assim.

- Tudo bem, você está certa. - Sofia sentou-se em uma cadeira respirando fundo - Nem sabemos quem ele é. Tomara que não seja um mal caráter qualquer. Vamos esperar a mamãe e as garotas acordarem.

Horas depois, cássia e Júlia acordaram e Helena explicou tudo o que aconteceu para elas junto com sua irmã. Júlia se penalizou ao ver aquele maltrapilho, largado ao sofá, sentia que podia ajudá-lo e depois o mandaria para casa, aonde quer que fosse.

- Meninas , fiquem em casa. Eu vou até a vila comprar algumas roupas para o rapaz. - disse ela, pegando um xale sobre a mesa e cobrindo os ombros. - Já que o trouxe para dentro, não podemos deixá-lo assim. - falou, e se retirou de casa, seguindo para a vila.

Depois de um tempo , o rapaz acordou desnorteado. Sentia a cabeça doer e sentou-se no sofá com dificuldade.

- Onde estou? - perguntou atordoado, olhando ao redor.

- Em Liérganes, Espanha. Meu nome é Helena, e o seu?

- James. Desculpe o grande incômodo, eu vim de muito longe e... É uma longa história!

- Não incomodou, estava lá fora e parecia muito mal. Fiz o que achei certo e lhe trouxe para dentro. - observou ela, sorrindo. Reparou que ele estava levemente machucado, e não parecia ser daquela região, por ser um lugar pequeno quase todos se conheciam.

Minutos depois ,Júlia chegou da vila com as roupas que comprou.

- Helena, eu trouxe umas camisas, calças e também alguns sapatos. Olha, ele já acordou! E parece um pouco melhor ...

- Ele disse que se chama James. - falou Helena, olhando a mãe chegar com as compras.

- Tudo bem, James. Pegue, vá se trocar e venha tomar café conosco. - a mãe Wicowiscky entregou as roupas para ele e se afastou o olhando seriamente. - Você parece fraco. Minha filha lhe mostrará o banheiro.

- Obrigado. - agradeceu James, sorrindo levemente e se levantando. Sofia segurou na mão dele e o guiou para o banheiro perto da varanda dos fundos da casa.

- É aqui, moço. - falou a jovem, e se retirou em passos rápidos.

Ele entrou. Ao passar pelo pequeno espelho perto da pia, parou encarando a própria imagem. Nunca se imaginaria naquele estado, mas devido à atos que jamais se arrependeria de ter feito, ele chegou ali. Tirou uma foto do bolso, amassada em levemente borrada, uma mulher sorridente em um longo vestido a estampava, aquela seria a única lembrança que teria de sua antiga vida.

Depois de alguns minutos, James chegou arrumado na cozinha e sentou-se para o café, com a permissão de Júlia. Estava diferente, o cabelo penteado para trás, a barba feita e pele limpa.

- Bem, James , deixe-me apresentar-te a minha família. - falou Júlia, sorrindo. - Esta é Cássia, minha filha mais nova, Sofia a do meio, e Helena a mais velha.

- Prazer. - Cumprimentou ele, timidamente.

- Então rapaz, de onde você veio? - perguntou Cássia, curiosa segurando uma xícara de chá.

E James começou a contar sua história.

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