Capítulo 1

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Quando o braço forte de alguém pesa sobre seu corpo e a acorda, algo vai muito errado, especialmente se for musculoso e com uma linda e estranha tatuagem que cobre do ombro até pouco acima do cotovelo. Piora circunstancialmente se você não se lembra onde exatamente está e muito menos a quem pertence o referido membro que, diga-se de passagem, está anexo a um dos corpos masculinos mais espetaculares de que já se teve notícia em muitos séculos. No entanto, foi assim que despertou Calista Vincenzo, cuja memória extraordinária retornou em questão de minutos.

Enquanto recolhia as roupas espalhadas pelos quatro cantos do imenso quarto, amaldiçoava em silêncio a total falta de bom senso. Olhou de relance a cama e o deus nu ali em repouso dizia a seu cérebro analítico que valeu a pena ser insensata ao menos uma vez na vida. Assim, Calista tomou um banho rápido num banheiro onde caberia com folga metade do seu apartamento e voltou para o hotel que, na verdade, não ficava muito longe de onde terminou a noite.

Ela estava em Invernes, principal cidade das Terras Altas da Escócia, há dez dias, em merecidas férias, com os três melhores amigos de viagens do mundo. Na noite anterior foram a uma festa tradicional da simpática e acolhedora cidade e Calista se divertiu como há anos não fazia. Sempre tinha ouvido que os escoceses eram animados e comprovou durante toda a noite, Sabine e Javier já tinham encontrado uma paquera com a qual sumir e ela ficou com outra moça que viajava no mesmo grupo com eles e que acabara de dar um fora num dos homens mais bonitos que ela já viu na vida.

- Tenho um noivo, Callie. Quero só me divertir – comentou Angélica, dando de ombros, ao explicar porque havia dispensado o monumento.

- Entendo, amiga, você está certa. Então, vamos dançar – Calista sempre foi conhecida pela alegria e bom humor.

Ela sempre acreditou que os homens escoceses fossem os mais belos do mundo, culpa dos romances medievais e vitorianos que lia e dos atores favoritos entre os quais o octogenário e eterno James Bond, Sean Connery, e o sexy Gerard Buttler. Por isso, tinha apreciado até demais o paquera da nova amiga que seguiu ciscando e bebendo perto de onde elas dançavam. Surpresa foi ao final da noite, o sujeito a prensar contra a parede de um pub e a beijar como se não houvesse amanhã, levando a sempre sensata menina paulista a acordar com um braço tatuado sobre o quadril.

No hotel, Sabine a esperava com uma sobrancelha elevada e cara de quem viu passarinho verde. Contou a amiga a loucura da noite passada com o gigante escocês divino e que o deixou dormindo aquela manhã numa das casas mais incríveis do planeta. A única omissão de Calista se converteria em problema em poucas semanas, mas naquela manhã não pensou nisso, simplesmente não disse a melhor amiga que o sujeito a chamou pelo nome de Angélica quando saia. "Ele devia estar tão bêbado que sequer se lembrará com quem tinha dormido. Graças a Deus!", pensou com um sorriso.

Pelo mérito de aturar por dez anos um octogenário meio maluco e completamente maravilhoso, Calista ganhou de presente a tão sonhada viagem a Invernes, por onde vagueava com um grupo bastante heterogêneo originário da América Latina. Levava consigo seu imenso bom humor e os melhores amigos de viagens, a argentina Sabine Reina e o caribenho Javier Dujoir e, desde que desembarcou em Londres, também Paul Saunders, que servia de guia turístico, e incluiu na lista a mexicana Angélica Magdala.

Viajar era a paixão suprema de Calista desde que fez o primeiro intercâmbio aos dezesseis anos e nunca mais parou. Os três se conheciam desde esse intercâmbio que participaram e, ao longo dos anos, juntos, exploraram grande parte do Brasil e cidades incríveis da América do Sul. A partir do momento que encontrou trabalho no antiquário do octogenário imigrante judeu Victor Zukeran, depois de deixar a casa onde viveu até os dezoito anos, também se viu imersa num novo mundo cheio de possibilidades que a levou a lugares pouco conhecidos da maioria dos turistas.

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