O tempo na capital argentina estava maravilhoso e Calista saboreava um delicioso sorvete, olhando Sabine dançar um tango numa apresentação em praça pública. Fazia uma semana que havia chegado e a serenidade parecia ter se tornado um sentimento permanente em sua alma. Na tarde anterior, Megan Tennant havia ligado aos prantos, levou um bom tempo para acalmar a moça e entender o que ela dizia e sorriu, também aos prantos, quando compreendeu que a nova amiga pedia perdão pela confusão, pelo julgamento prévio. Por tudo. Prometeu que conversariam quando ela voltasse para a Escócia e cortou a ligação quando o assunto se voltou para Liam, porque apenas pensar naquele escocês lindo de viver ainda causava muita dor no coração partido dela.
Sabine tinha mantido uma rotina digna de maratonista olímpico para elas, desconfiava que era para Calista chegar ao fim do dia tão cansada que não pudesse pensar em nada. O bebê voltaria para casa com tanta roupa que daria para vestir um orfanato inteiro, pior era a dançarina ter certeza que seria uma menina e isso se converteu em um mala repleta de vestidinhos, sapatinhos, boinas e toda sorte de penduricalhos que iria custar muito para ser embarcada devido ao peso. Terminavam sempre o dia com um bom vinho e um bom jantar em algum restaurante de algum amigo, paquera ou só um contato sexual da argentina de alma muito livre.
Naquela manhã, Calista surpreendeu a amiga numa discussão pouco gentil com algum pobre coitado que exigia alguma coisa dela. Os homens deveriam entender que garotas como Sabine não aceitavam com muita elegância cobranças quando sequer mantinham algum tipo de relacionamento com eles. Quando a dançarina a viu entrar na cozinha, apenas informou onde o pobre sujeito poderia encontrá-la e desligou com um clique e um palavrão que faria muitas senhoras corarem. A antiquária não consegui controlar o riso que contagiou a amiga mal humorada e terminaram sem lembrar porque mesmo tinham começado a rir feito duas idiotas.
- Não tem ideia de como me senti uma inútil quando te vi chorando pela tela do computador – contou Sabine na primeira noite delas pela boemia noite de Gardel – Deus Santo, nem quando sua mãe morreu eu a vi tão frágil, precisando tanto de colo como naquele dia!
- É que naquele tempo eu tinha o Victor ainda e, de certa forma, eu contava com um porto seguro e um colo, entende – confessou com um sorriso de saudade do octogenário judeu – Quando soube do bebê e depois aquela história toda, cara, nunca quis tanto minha mãe ou Victor de novo.
- Espero que possamos fazer um pouco esse papel na sua vida. Javier prometeu que vai para a Escócia no mesmo dia que você, quer ficar até o nosso bebê chegar – contou a amiga e Calista se sentiu uma pessoa muito abençoada por tê-los em sua vida – Se apaixonou até o tutano pelo tal professor escocês, não foi ?
- Não foi pelo Daniel, ele foi minha aventura insensata. Só que fiquei indefesa com a ternura do Liam – Calista admitiu até para si mesma – Estar com ele é tão fácil, conversar e fazer planos parece tão natural, tão certo. Então, sim, está doendo para burro e vai demorar um bocado para sarar.
- Nada que centenas de fraldas, noites insones, dentes nascendo e peitos inchados de leite não resolvam – zombou a amiga, levando um pontapé por baixo da mesa naquela mesma manhã.
O sol se pondo sobre a praça repleta de turistas e moradores aproveitando o final do verão na capital argentina se tornou um espetáculo à parte para Calista, que encontrou uma mesa bem perto do local aonde a amiga serpenteava nos braços do competente parceiro numa sofrida canção de um trágico amor, como só o tango era capaz. Seguia tão encantada com a encenação que demorou muito a perceber que alguém havia puxado uma cadeira e se sentado bem ao lado dela, só quando uma pequena caixa de madeira antiga foi empurrada sobre o tampo que a jovem se voltou, surpresa, para saber quem lhe dava um presente.
- Quando deixei minha garota há alguns dias, nunca pensei que me recusar a trazer o Bono Vox a levasse a me abandonar – Liam a olhava repleto de expectativas nos lindos olhos azuis e a voz profunda causou arrepios nela – Talvez viajar numa terça-feira não tenha sido auspicioso, afinal.
Os olhos dela transbordaram sem que ela pudesse impedir, enquanto olhava para o homem capaz de fazer o sangue dela cantar sentado bem ali, em carne e osso, implorando para conversarem. Tudo que Calista conseguiu foi tocar o rosto cansado e com a barba de alguns dias, para verificar se não estava alucinando de saudade. Era loucura ter se apaixonado daquele jeito por alguém a quem quase não conhecia, mas a vida era assim, não era? Não tinha certeza se foi Jane Austen quem escreveu que o amor pode nunca nascer, mesmo após sete anos de convivência, mas que, às vezes, ele simplesmente acontecia no prazo de apenas sete dias.
- Liam – sussurrou antes de ser arrebatada para um beijou repleto de tanta saudade quanto a que ela sentia dele que a canção de Gardel tocando ali perto traduzia a perfeição.
- Nunca mais, moça, nunca mais me abandone de novo – ele acariciava o rosto dela com os polegares, ignorando os olhares ao redor – Tem algumas ideia de como eu me senti quando liguei e Saunders me mandou ao inferno?
- Eu mesma apontei a saída para decidir sobre nós, 007, na última vez que falamos – as lágrimas irritantes não paravam, parecia um regador – Então, entendi porque perguntou sobre Daniel e quando não me ligou mais...
- Eu liguei, acushla, todos os malditos dias, desesperado para saber o que estava acontecendo, imaginando um milhão de coisas para não me retornar – ele encarava o rosto dela, analisando cada detalhe como se não se vissem há anos e não há pouco mais de uma semana – Meu telefone teve uma colisão fatal com a mesa de um velho contato irlandês, precisei comprar outro e fiquei um tempo sem o meu número.
- Defina colisão fatal? – ela ganhou tempo, pegando o celular sobre a mesa e mostrando o número desconhecido nunca atendido – Eu vi essas ligações, mas só descobri que era você quando cheguei aqui e ouvi todas as dezessete mensagens que deixou.
- Colisão fatal quer dizer que quebrei o maldito aparelho na cabeça do imbecil que me tirou da Escócia porque queria curtir uma orgia como nos velhos tempos – o militar transpirava indignação e nem percebeu o sorriso quase triste da namorada até focar novamente os olhos escuros – Não, nem pense nisso, eu acabei de dizer que soquei o infeliz, explicando durante o processo que sou um homem quase casado e há poucos meses se ser pai.
- Liam... – ela começou a se afastar, mas ele a segurou com firmeza, esquecidos que discutiam no meio de uma praça argentina lotada.
- Eu estou com muita vontade de bater em alguém ou em alguma coisa no momento, porque te deixaram com essa dúvida aí dentro – Liam encarou o rosto de Calista por um longo tempo, ela sentia o coração bater em descompasso dentro do peito com tudo que ele dizia sem falar – Já ouviu falar em encontro de almas, baby girl? Eu percorri o mundo em missões diplomáticas para o Reino Unido, como um homem saudável tive minha cota de amantes em todas a nacionalidades, cores e belezas. E, entretanto, precisei voltar para casa, para a Escócia, sem imaginar que encontraria a mulher da minha vida na sala de visitas de um velho amigo.
Calista emudeceu diante daquela declaração vinda do homem mais maravilhoso com quem já cruzou, um sujeito que poderia ter qualquer mulher quando quisesse e dono de uma ternura improvável. Daniel e Liam Tennant possuíam aquele magnetismo capaz de colocar uma mulher de joelhos sem nenhum esforço, era prova viva disso, mas enquanto o professor se valia dessa sexy appeal para realmente manter uma alta rotatividade em sua cama, o homem diante dela naquele momento havia decidido – sabe Deus, por que – colocar um ponto final nesse carrossel de conquistas ao escolhê-la para se tornar a companheira dele.
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DESCOBERTA EXTRAORDINÁRIA
RomanceCalista Vincenzo chegou às Terras Altas da Escócia com o objetivo de se divertir com os amigos mais queridos. Acontece que a diversão a levou para a cama de um escocês escandalosamente sexy. Numa reviravolta, ela termina aceitando o emprego na livra...