Capítulo 2

14 3 0
                                    

Calista percebeu o desconforto de Daniel desde que entraram na maravilhosa livraria que Paul lhe deu para trabalhar. Porque aquilo era um presente, não trabalho de verdade. Ele a fitou por um longo momento e depois o rosto cinzelado tomou um ar arrogante e francamente hostil, com certeza, desejando ardentemente que as lembranças fossem falsas e não fora com ela que passou a outra noite. Afinal, estava anos luz da beleza mignon de Angélica ou da perfeição física de Sabine ou Monica, possivelmente acreditava que ela fosse o tipo de garota cabeça de vento que dormia com qualquer desconhecido que encontrasse. Mentalmente deu de ombros, simplesmente por não precisar se explicar com alguém que não a conhecia e que ainda por cima tinha trocado o nome dela.

Eles voltaram para o hotel e, como Paul tinha avisado, Daniel tomou parte dos passeios da tarde. Calista olhava de soslaio sempre com ironia ao ver as mulheres o rodeando como se fosse um ator famoso, mas admitia que era o homem mais bonito que conheceu e dono de uma masculinidade potente que fazia as pernas tremerem. E, apesar do melhor sexo que teve na vida, ela preferia se manter ao seu dia com homens que gostassem dela pelo conjunto da obra, não apenas pelos atributos físicos. Nesses incluía os rapazes do grupo, amigos e ex-namorados brasileiros e, claro, Paul e Javier.

- Existe algum lugar por aqui onde possamos colocar uma boa música e dançarmos até doer os pés? – quis saber Rafael, um publicitário porto-riquenho, mantendo o olhar astuto sobre Calista.

- Há uma sala ampla na cobertura do hotel. Se prometerem não quebrar tudo como estrelas de rock e me convidarem, claro, libero o espaço – informou Paul com um jeito malandro.

- Ah, Sr. Saunders, nos deve uma festa de despedida já que nos roubou nossa garota favorita – devolveu Claudio, o designer gráfico pouco comunicativo, único brasileiro além dela no grupo.

- Tudo bem, entendi que sou voto vencido – passou o braço pela cintura de Calista e a puxou para ele – Como me deixarão a baby girl, libero a festa. Daniel, também está na lista de convidados.

Para Calista não havia nada melhor na vida do que se ser querida pelas pessoas que a rodeavam e aquela gente que se uniu aos seus amigos na viagem demonstraram um carinho imenso por ela ao incentivar aquela festa latina em plena Highland escocesa. Quando chegou com Sabine, todos já estavam por ali numa briga intensa com o avançado sistema de som e desanimando com a falta de música. Ela limpou a garganta ao lado de Rafael, sósia lindo de Chayenne, plugou o Ipod dela e ligou a playlist com um floreio.

- Eu te amo! – gritou o portenho agarrando a cintura dela e a puxando para o meio do lugar para iniciarem a festa.

- Jesus! O que está usando, ou melhor, deixando de usar? – Javier a mediu de alto a baixo e a fez girar – Esqueceu o resto da roupa no quarto?

- Ana Paula agora é Natasha, usa salto 15 e saia de borracha – cantarolou ela em espanhol para o amigo, batendo nos sapatos altíssimos e na microssaia de couro e piscou para Sabine que conhecia a canção.

Daniel pegou uma cerveja que alguém entregou e se sentou ao lado de Paul, admirando a farra com a sensual música latina que dominava o lugar. Admitia que o amigo tinha razão e esse grupo parecia mais animado que os escoceses, trocando de par e rindo dos dois pés esquerdos de alguns. A risada divertida de Calista, entretanto, levou o olhar dele para o outro lado onde ela se alternava entre dois dos rapazes do grupo e a temperatura do corpo subiu ao ver as pernas expostas numa saia curtíssima de couro e o rebolado exigido pelos passos da rumba.

- Que isso? Vão reprisar aquele filme do Banderas com os moleques meio marginais? – gritou alguém para ela.

- Aquilo era um tango, Larissa. Isso é rumba! – devolveu o sujeito que acreditava ser Rafael e tinha um sorriso irritantemente sedutor – Deus, não nos envergonhe na frente dos gringos. Honre sua latinidade.

DESCOBERTA EXTRAORDINÁRIAOnde histórias criam vida. Descubra agora