O Imperador Lan Huan acordou com o nascer do sol como em todos os dias, antes mesmo que seus servos pessoais lavassem seu rosto e mãos, o homem percebeu que algo estava errado, do lado de fora, era possível ouvir um falatório incompreensível. Ao sair, encontrou vários servos e guardas ao redor de seu tio que gritava coisas como "Prendam-no!" e "Torturem-no até que conte!", foi quando seu eunuco pessoal correu até ele.
-Majestade. - chamou o eunuco alcançando-o.
-Meng Yao, o que está acontecendo? Que comoção é essa? Quem meu tio quer prender?
-O senhor já se banhou? Posso contar tudo.
-Não há tempo para isso agora, conte-me.
-O Príncipe… Ele fugiu de seus aposentos no meio da noite, quando os guardas perceberam, não o encontraram em lugar algum… - a feição do Imperador foi de confusa a desesperada numa fração de segundos - Começou a chover intensamente e quando ele reapareceu, estava nos braços de um homem desconhecido, muito ferido e desacordado o homem também não parecia bem, ambos sangravam. Os guardas disseram que ele balbuciou algo sobre cuidar bem do Príncipe e desmaiou em seguida.
-Isso não faz o menor sentido… Onde está Lan Zhan?!
-Em seus aposentos. - o homem não esperou mais nada, saiu apressado na direção da casa do irmão - Majestade, espere! - ele correu atrás - Ele não se encontra nada bem! A situação está bastante feia.
O homem sequer quis ouvir, apertou o passo até irromper pela porta da casa do irmão, ao chegar lá, se deparou com todos os médicos imperiais, um tomava o pulso de Lan Zhan, outro moía ervas num dos cantos e dois guardas o seguravam sentado e desacordado enquanto o terceiro médico tentava fazê-lo beber algo. A cabeça do Príncipe estava enfaixada e ele parecia mais pálido do que costumava ser.
-Irmão… - o Imperador lamentou diminuindo os passos, incerto sobre entrar ali.
-Majestade… - o médico que tomava o pulso do mais novo foi o primeiro a falar.
-Como ele está? Quanto tempo até que acorde?
-Lamentamos muito, Majestade… Mas temo que ele não possa acordar…
-O quê?! Vocês são os melhores médicos que há nestas terras, como não podem acordá-lo?!
-Majestade, o Príncipe sofreu uma forte batida na cabeça, mesmo com as medicações e a acupuntura, de nada parece adiantar… - disse o que tentava fazê-lo beber a medicação.
-Ele vomitou bastante sangue, além disso está com uma febre muito alta…
-Não… Vocês precisam fazer algo! - o desespero o consumiu - Não podemos perdê-lo. Eu ordeno que façam alguma coisa! - Lan Huan não era de abusar de seu poder, nunca falara daquele jeito com ninguém, entretanto, a atual situação o deixara desnorteado, prometeu a seus pais que sempre cuidaria de seu irmãozinho, que ele cresceria bem, que arrumaria os melhores médicos para tratar de sua doença e agora ele ia morrer assim?
-Majestade, já fizemos tudo que podíamos…
-Não… Lan Zhan, não… - ele se aproximou do irmão que agora já havia sido deitado de volta na cama, com um pouco de hesitação, tocou seu braço inerte sobre os lençóis, a pele estava gelada, sua caixa torácica mal mexia, observando melhor, ele estava cheio de hematomas e arranhões, não saber o que havia acontecido o deixava ainda pior, mas não conseguia pensar apropriadamente em nada, a lógica seria ir até o tal homem misterioso e perguntar ele mesmo sobre o ocorrido, entretanto, na atual conjuntura da situação, sequer lembrou-se do homem, só queria salvar seu irmãozinho daquele trágico fim.
Quando as pernas do Imperador falharam e ele caiu aos prantos de joelhos ao lado da cama do irmão, o terceiro médico, compadecido da situação, resolveu falar:
-Majestade, nesse momento só há uma esperança. - ao dizer isso, os outros dois profissionais da saúde o olharam como se o repreendesse. Lan Huan pareceu sentir um sopro de esperança no coração e o encarou.
-Qual? Diga-me! Vou providenciar.
-Majestade, não é ortodoxo… - disse o primeiro médico - Seus antepassados jamais aprovariam.
-Eu não me importo. Se há uma forma de impedir que meu irmão morra, irei fazer. Diga-me.
Os três se entreolharam preocupados e o terceiro voltou a falar.
-Bruxaria.
-O quê?! - o monarca ficou atônito por um momento.
-Nós somos médicos, o que fazemos é ciência, infelizmente ela tem um limite de conhecimento. Se quer salvar Sua Alteza, o único jeito nesse momento é recorrer à magia.
-Há uma bruxa que mora na floresta isolada nos limites de YiLing, eu soube que ela é tão poderosa que não envelhece há décadas e já até mesmo ouvi histórias de que ressuscitou um soldado uma vez.
-Vamos atrás dessa mulher então! Guardas! - um pequeno grupo de guardas imperiais apareceu na frente dele e se ajoelhou, esperando uma ordem - Encontrem essa bruxa, tragam-na aqui o mais depressa possível!
-Majestade, temo que o Príncipe não aguente até o pôr do sol. - disse um dos médicos.
-Vocês têm até o meio da tarde para trazê-la. - disse o Imperador aos guardas.
-Senhor… YiLing fica muito longe… Não dará tempo.
-Partam imediatamente, se ela é uma bruxa deve saber se teletransportar ou algo assim. Corram!
Os guardas fizeram uma reverência e saíram em disparada. Lan Huan pediu que cancelassem todos os seus compromissos do dia e ficou com o irmão, chorando e orando em silêncio para os deuses.
Durante um momento, ainda pela manhã, seu tio entrou pela porta, enlouquecido.
-Lan Huan! O que pensa que está fazendo?! Ordenou que nossos homens fossem atrás de uma bruxa?! Ficou louco?!
-O que esperava que eu fizesse, tio? - perguntou sem virar para olhá-lo, continuava sentado de costas para a porta, segurando a mão do irmão - Lan Zhan está morrendo…
-Se os médicos não podem fazer nada, só temos que lamentar e dar-lhe um funeral digno! - ao ouvir aquelas palavras, o Imperador colocou delicadamente a mão que segurava sobre o peito do irmão e levantou-se indo até o tio.
-O senhor está dizendo que é melhor deixar meu irmão morrer?
-Bruxaria não é ortodoxo. Seu irmão não vai querer estar vivo sob essas circunstâncias.
-Tio… - começou respirando fundo para manter a calma - Lan Zhan nunca se opôs a nada disso, o senhor que sempre fala essas asneiras. Se é ortodoxo ou não, não me importa. Eu quero salvar meu irmão.
-Te proíbo de fazer isso!
-Me desculpe, mas eu sou o Imperador, eu dou as ordens. Se meu irmão, o Príncipe, precisa do que quer que seja e eu posso providenciar, ele terá. E, por favor, nos dê licença. - disse dando às costas para ele e voltando a sentar ao lado do irmão.
-Lan Huan!
-Por favor, tirem-no daqui. - pediu o Imperador a um dos guardas de prontidão.
-Isso é um absurdo! Eu sou mais velho que você! Seus pais iriam odiar saber dessa sua conduta! Não me toque! - disse ao guarda. Lan Huan parou de prestar atenção, lidaria com o chilique do tio depois, quando seu irmão estivesse fora de risco.
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Scarlet Eyes [concluída]
أدب الهواةSinopse: Séculos atrás, havia um jovem imperador que comandava com gentileza e benevolência, no seu império, a fome e a pobreza da população foi diminuída, bem como a violência. Entretanto, a família do imperador não era perfeita, seu irmão mais nov...