Estava sentada na cama, usando um robe e um pijama de seda verde, que ganhara da mãe. Lia uma revista, enquanto ouvia o rádio. Quando a porta se abriu, ergueu a cabeça, ficando frente a frente com ele.
O choque a deixou sem fala por alguns segundos, e logo largou a revista, tentando sair da cama. Porém, uma forte tontura provocada pelo movimento brusco, quase a fez cair.
- Cuidado! - Vicent correu para ampará-la e , por um breve instante, suas mãos se tocaram.
Belinda forçou-se a ficar de pé, apoiando-se na cama, e evitou encará-lo, o coração batendo descompassado.
- Já lhe disse para nunca mais se aproximar de mim - falou tentando parecer fria e objetiva. Enfureceu-se ao perceber o tom de pânico na própria voz. Tinha medo da presença daquele homem, embora tudo fizesse para que ele não percebesse.
Ele a observou atentamente:
- Você parece... - começou, mas logo se interrompeu. Um sorriso irônico lhe surgiu nos lábios, incompreensíveis para Belinda. - Parece muito melhor. - finalizou, deixando claro que não era o que pretendia dizer.
- Vamos lá - ela desafiou-o, indo até a janela. - Diga o que tem em mente!
- Você não devia ficar aí.
- Fico onde quiser! - Belinda recostou-se contra o peitoril da janela, numa atitude de desafio, o queixo erguido. Com a claridade que vinha de fora, seus cabelos adquiriam uma aura dourada pelo reflexo do sol. Não iria acatar as ordens daquele homem, e desejava que ele não a olhasse de maneira insistente com que fazia. O que estaria pensando?
- Bem, você é quem sabe - ele retrucou. - Só acho acho que não faz a menor ideia que a luz atrás de você deixa esta sua roupa quase transparente...
Ela se afastou depressa da janela, odiando-o mais do que nunca.
- Como se atreve a voltar aqui? - perguntou. - Ainda não está satisfeito com o que me fez? Você e seu irmão destruíram minha vida: não tenho mais casa, nem emprego, perdi oito meses de minha existência, e Ricky... - Parou, engolindo a amargura que a deixava sem fala.
- Se for esperta, deve esquecer que um dia conheceu Ricky - ele recomendou.
- Ah, tenho certeza de que isso o deixaria muito feliz!
Belinda detestava a maneira como ele a olhava, detestava aquele rosto anguloso e arrogante. Vicent sempre fora seu inimigo desde o início: com apenas um olhar, ele a desprezara, por não ser boa o suficiente para o irmão. Conseguira o que pretendia, e ela perdera tudo. No entanto, como se vingar?
A única coisa que realmente importava para Vicent era o dinheiro, e seria exatamente aí que ela o atingiria, obrigando-o a lhe pagar uma fortuna em troca de tudo o que lhe roubara.
- Vou falar com um advogado, amanhã mesmo - comunicou, procurando dar um tom indiferente à voz. - Pretendo processar seu irmão, e vou exigir uma grande soma de indenização, por todos os danos causados pelo acidente.
Vicent puxou a cadeira e se sentou, cruzando as longas pernas e abrindo o paletó do terno impecável. Belinda não pôde evitar um olhar: a maneira com que ele se movia era hipnótica, quase sensual.
Ele percebeu sua atenção, e isso deixou-a irritada. Não lhe daria a satisfação de imaginar que o achava atraente. Pois não achava; ao contrário, odiava-o mais do que qualquer coisa no mundo.
Porém, tinha que admitir que ele possuía uma classe natural, um brilho de autoconfiança e estilo muito próprio, que sempre chama atenção das mulheres.
- Quer dizer - ele começou - que, afinal de contas, é dinheiro mesmo que você quer!
Tais palavras a fizeram empalidecer, e fitou-o novamente, cheia de raiva:
- Eu devia ter adivinhado que reagiria com ofensivas - falou - Bem, nem vou me dar ao trabalho de responder, pois não estou disposta a descer a seu nível! Seu irmão destruiu minha vida, e qualquer juiz me dará ganho de causa. Isso é tudo que tenho a lhe dizer, portanto, vá embora, por favor.
Desejava aparentar calma, mas sua voz tremia. Começava a descobrir que o ódio podia ser tão intenso e desgastante quanto o amor. Desprezava aquele homem e, no entanto, não conseguia afastar os olhos de sua figura.
Vicent não fez menção de se levantar, ou de sair. Apenas ergueu as sobrancelhas.
- Quanto calcula que pode conseguir?
- Meu advogado é quem vai tratar disso - ela respondeu.
- Ora, Belinda, precisa me dar uma ideia de quanto imagina arrancar de Ricky, para que eu possa preveni-lo, assim que ele voltar. Ou será que está pensando em estragar a lua-de-mel dele, tentando encontrá-lo a fim de lhe comunicar suas ameaças.
Ela voltou para cama, puxou as cobertas até o pescoço e deu-lhe as costas, decidindo que a única maneira de lidar com os insultos seria ignorá-los.
Depois de um momento de silêncio, ele voltou a falar:
- Se deseja culpar alguém, então culpe a mim...
- Eu culpo você! - ela tornou.
- Parece que está zangada...
- Você é muito perspicaz - Belinda retrucou, irônica.
Ele suspirou, impaciente:
- Já não lhe disse que o melhor que tem a fazer é se esquecer do Ricky. Não tente destruir o casamento dele, pois isso não fará com que se sinta mais feliz.
- Estou falando sobre uma indenização pelo acidente. Não estou ameaçando detruir o casamento de ninguém!
- O acidente não aconteceu por falha do Ricky, e você está sendo injusta acusando-o. - Vicent fez uma pausa e acrescentou: - Além disso, alguns meses se passaram, antes que ele perdesse a esperança em vê-la consciente outra vez.
Belinda virou-se para ele, os olhos brilhando de revolta:
- Tenho certeza de que chamou a tal garota na França assim que soube do acidente, para que ela ficasse ao lado de Ricky, consolando-o e lhe dando apoio. Era sua grande oportunidade, não é? E não perdeu tempo em agarrá-la!
- Você está nervosa - ele falou e, naturalmente, tinha razão. - Meg veio da França tão logo soube do acidente, mas não fui eu quem a chamou, e nem sugeri que viesse. Aliás, isto não era necessário: Meg sabia que tinha todo direito de estar ao lado dele, pois estavam noivos. Ricky não lhe dissera nada sobre você, ou que havia mudado de ideia em relação ao compromisso entre eles.
Aquelas palavras foram um choque para Belinda. Permaneceu imóvel, os olhos fitando o vacuo, como se tivesse sido congelada.
- É mentira - murmurou, quando conseguiu falar. Porém, no fundo, sabia que era verdade. Acreditara que Ricky havia rompido com Meg, mas não sabia o quanto ele odiava encarar os fatos desagradáveis. Certamente ficara adiando o momento de dizer a verdade à noiva esperando a hora apropriada, que, afinal, nunca chegara.
CONTINUA
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Bianca: As Mais Belas Histórias De Amor
RomanceDuas histórias: SUBLIME DESPERTAR, de Charlotte Lamb. Amor e ódio. Duas forças poderosas conduzindo o coração de Belinda... "A porta do quarto se abriu e, relutante, Belinda virou a cabeça esperando ver a enf...