CAPÍTULO II.1

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      Belinda agarrou-se aos lençóis, num gesto de proteção, como se desejasse se esconder sob eles.
     - Você?! - exclamou, surpresa. - O que está fazendo aqui?
      Vicent entrou no quarto e, calmamente, fechou a porta. Caminhou até a cama, fitando-a com intensidade, tornando-a muito consciente da sua fina camisola, que lhe deixava os ombros e o profundo vale entre os seios à mostra. Depois de meses vestindo apenas os camisolões de algodão do hospital, começara a usar as próprias roupas, que, segundo a enfermeirq Hay, a mãe lhe  trouxera logo após o acidente.
     Porém, naquele instante, desejou não ter tido a ideia de colocar a fina lingerie. Não gostava da maneira com que os olhos frios de Vicent examinavam-lhe o corpo, detendo-se em seu rosto.
    - Estava começando a pensar que você nunca mais abriria os olhos - ele falou, com voz profunda.
    Ao ouvi-lo, Belinda ficou chocada ao perceber como aquele som lhe era familiar, pois não esperava recordar-se dele com tanta facilidade.
   Franziu a testa, intrigada. Será que ele estivera em seu quarto, outras vezes? Teria vindo vê-la, enquanto estava inconsciente? Odiava imaginá-lo ali, observando-a enquanto dormia, totalmente indefesa.
    Ele escondia algo atrás das costas e, somente quando chegou bem perto da cama, lhe entregou a surpresa:
    - Você acordou bem a tempo de ver a primavera!
    Era um enorme buquê de flores do campo, de cores e formas variadas: narcisos brancos, margaridas amarelas, tulipas vermelhas... Belinda arregalou os olhos, sentindo o rosto ruborizar, intimamente feliz com a lembrança.
    Porém, logo foi assaltada pela realidade: era apenas um gesto de cortesia, pensou. As pessoas sempre levam flores aos doentes, quando vão visitá-los. Por isso, agradeceu friamente:
     - Obrigada, são lindas. - não se sentia obrigada a ser polida, mas, afinal, ele viera visitá-la.
      E por que viera? Vicent mal a conhecia e, certamente, não gostava dela. Por que estava ali? De repente, lembrou-se de Ricky lhe entregando flores, no primeiro dia em que se haviam encontrado. Seus olhos encheram-se de lágrimas e, quando tentou engolir em seco, a garganta ardia. Sabia por que o irmão dele viera vê-la... Sentia-se culpado pela hostilidade que demonstrara no passado.
    Mordeu o lábio, lutando para recuperar o controle. Não olhava para Vicent, embora estivesse consciente de que ele a observava com atenção.
    Depois de um instante de imobilidade, ele retirou o casaco e colocou-o sobre uma cadeira. Estava vestido com um terno escuro, sóbrio e elegante, no mesmo estilo que Ricky costumava usar no trabalho.
    Puxou a outra cadeira e sentou-se cruzando as pernas confortavelmente, como se pretendesse ficar ali por muito tempo.
    Belinda esperou que ele dissesse alguma coisa, que explicasse o motivo de sua presença, mas ao ver que ele permanecia em silêncio, respirou fundo, enchendo-se de coragem.
    - Pode me contar - falou.
    Vicent continuou olhando-a, como se não soubesse o que ela queria dizer, embora fosse óbvio que entendera seu pedido. Com um misto de raiva e medo, Belinda insistiu:
    - Conte-me o que aconteceu com Ricky.
    Ele examinou-lhe o rosto, demoradamente, como se quisesse se certificar de que ela estava forte o bastante para ouvir as notícias. Belinda devolveu-lhe o olhar, deixando as palavras explodirem, incontroláveis:
    - Preciso saber. Já perguntei a todo mundo, aqui no hospital desde o dia em que acordei, mas ninguém me diz nada. Isto está me deixando maluca! Ele está morto, não é? Morreu no acidente, e é por isso que evitam tocar no assunto! Acredite, o suspense é muito pior do que saber a verdade, qualquer que seja. Por favor, diga-me o que aconteceu com ele!
     Vicent estreitou os olhos e, então, encolheu os ombros largos:
    - Bem, imagino que mais cedo ou mais tarde você terá de saber. Prometi ao seu médico que não lhe diria nada, por enquanto, mas acho que tem razão: é pior ficar imaginando do que saber a verdade. Ricky não morreu...
    - Ah! - Belinda deu um suspiro de alívio que soou quase como um soluço. Fechou os olhos e, por um instante, Vicent parou de falar, esperando que ela se acalmasse.
    Logo ela voltou a fitá-lo, ansiosa:
  - Ele está ferido? - perguntou - Gravemente? Está aqui, neste hospital?
   - Não. Ele não se feriu gravemente, teve apenas alguns arranhões, além de um braço quebrado. Foi muita sorte. - sorriu, com fria ironia. - Aliás, Ricky sempre teve muita sorte.
   - Então, por que não veio me ver, desde que recobrei a consciência? - Belinda perguntou, as palavras lhe saindo com dificuldade. - E por que o pessoal do hospital fica tão hesitante, cada vez que menciono o nome dele? Alguma coisa está errada, sei disso! - Tentou se erguer da cama, mas de imediato Vicent se levantou segurando-a pelos ombros, obrigando-a a deitar nos travesseiros. Aquele toque foi como um choque elétrico que a atingisse de repente, enchendo-a de medo e repulsa. - Não me toque! - falou, entre dentes. - Não se atreva a me tocar!
     Ele endireitou-se, lançando um olhar aterrorizante. Belinda o observou, resignada. Era evidente que não gostava daquela reação a sua proximidade, mas, e daí? Era seu inimigo, e por que iria esconder o quanto o detestava?
    - É você que o está afastando de mim! - acusou. - Está proibindo-o de  vir me visitar, não é? Deve ter dado ordens às enfermeiras para mantê-lo afastado!
    - Ora, mas deixe de ser... - Vicent interrompeu-se, como se pensasse duas vezes antes de lhe dar uma resposta cheia de raiva. Respirou fundo, e prosseguiu. - Entendo que sinta prazer em me culpar, mas não vou servir de bode expiatório, neste caso. Não proibi Ricky de  fazer nada, e nem dei ordem alguma às enfermeiras!
   - Por que ele não vem... - ela começou, mas foi brucamente interrompida.
  - Ricky está casado!
   Por um segundo, Belinda não pôde acreditar em seus ouvidos. Porém, aos poucos, seus olhos se arregalaram e seu rosto tornou-se pálido como cera:
   - Não! Isso é mentira, não acredito em você! - protestou, num fio de voz - Não pode ser verdade... ele não iria... Nós íamos nos casar, Ricky me amava!
      A face de Vicent cobriu-se de uma expressão indecifrável.
    - Casou-se há uma semana. Ele e Meg estão, agora, aproveitando uma longa lua-de-mel  a bordo do iate do pai dela, no Caribe. Só voltarão daqui a alguns meses.
     Belinda balançou a cabeça, devagar, querendo afastar aquelas palavras, desejando que tudo não passasse de um terrível pesadelo.
   - Não... - murmurou. Não podia ser verdade... Ricky a amava, jamais se casaria com outra. Queria gritar, negar, recusar-se a crer no que Vicent dissera, porém, sabia que era verdade.
     Aquilo explicava os olhares de piedade que recebia, cada vez que perguntava sobre Ricky, os silêncios embaraçados das enfermeiras, a comiseração de seu médico.
    Fitou-o com uma hostilidade amarga:
   - Afinal, você conseguiu o que queria. Deve ter ficado contente com o acidente, e com meu estado de coma. Tudo isso lhe deu a chance que esperava, para nos ver separados!
   -Sei muito bem o quanto você o amendontrava - prosseguiu, os olhos verdes reluzindo de dor. - Ricky já havia me dito o quanto você era maldoso, mas estava subestimando sua capacidade de jogar com nossas vidas... Vendo-me seguramente fora no caminho, e tendo Ricky acuado, estou certa de que usou todas as armas para obrigá-lo a se casar com aquela garota!
    No entanto, nem aquelas palavras acusadoras foram capazes de provocar alguma reação em Vicent. Ele continuava frio, arrogante, sentado ali e fitando-a sem emoção, indiferente à dor que lhe afligira. Era imune a qualquer sentimento.
    - Não devia ter lhe contado tão de repente - falou, afinal, quase para si mesmo. - O médico tinha razão ao afirmar que você não estava pronta para receber a notícia. E posso compreender que, pondo a culpa em mim, fica mais fácil suportar o choque. Porém, não vou mentir e dizer que não queria que Ricky se casasse com Meg. Mas acredite em mim, Belinda, sinto muito que tudo isso tenha lhe causado tanto sofrimento.
    - Chega! Saia daqui, agora! - ela gritou, as mãos agarrando-se às cobertas, como em busca de apoio. Como ele se atrevia a consolá-la, olhando-a com evidente piedade? Depois de ter estragado sua vida, como era capaz de se mostrar solidário? - Vá embora, antes que eu faça uma loucura! Queria poder feri-lo tanto quanto você me feriu, queria vê-lo sangrar e gritar de dor!
    Finalmente pareceu haver alguma reação na face impassível de Vicent. Os músculos enrijeceram e a pele bronzeada perdeu um pouco a cor. Porém, os olhos continuaram frios, fixos nos dela, deixando-a ainda mais transtornada.
   - Saia da minha frente! Eu odeio você! - ela gritou, pegando o maço de flores e atirando em sua direção. - E leve isso com você, não quero nada de você, nada!
   As flores caíram no chão, espalhando-se numa desordem colorida e perfumada.
   Vicent levantou-se e, pisando sobre as flores, sem se importar em recolhê-las, aproximou-se mais da cama onde Belinda agitava-se, fora de si.
   Ao vê-lo chegar mais perto, ela tornou-se consciente da força evidente daquele corpo vestido com roupas caras e elegantes, que mais pareciam um disfarce para um intenso poder de dominação.
    - Você está histérica - ele falou. - Vou chamar a enfermeira.
    - Só quero que vá embora e não volte aqui, nunca mais! - ela voltou a gritar, enquanto Vicent se virava e caminhava para a porta.

                    

Ê ê, o que estão achando do Vicent? Ô homenzinho pé no saco! E o Ricky?
Tô amando compartilhar essa história com vocês, aproveitem e digam o que estão achando!!

                                              

  Com amor,
Cinthya.


Bianca: As Mais Belas Histórias De AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora