Agora, deitada em sua cama no hospital, Belinda olhava pela janela, avistando uma árvore florida no jardim. Era primavera, estivera com Ricky durante nove meses, e cada dia que haviam passado juntos fora repleto de felicidade, a despeito da evidente oposição da família dele, ao descobrirem que pretendiam se casar.
Quando Ricky a levara para conhecer seus pais, eles a trataram com uma hostilidade educada. Fora um choque para Belinda descobrir que moravam numa casa imensa e luxuosa, e que eram ricos e influentes. Pela primeira vez, tivera dúvidas a respeito do futuro dos dois juntos. Os irmãos dele não estavam presentes, pois a irmã casada morava em Worcester e o irmão mais velho, também casado, vivia na Irlanda.
Durante a visita, a mãe de Ricky se lamentara, dizendo que era uma pena que Vicent, o outro filho, estivesse nos Estados Unidos. O comentário deixara Ricky agitado e, percebendo tal reação, Belinda imaginou se ele não a levara para conhecer os pais exatamente por saber que o irmão não estaria ali. Já sabia que havia um estremecimento entre os dois e estava curiosa por conhecer Vicent.
Vicente Garret dirigia o banco onde Ricky trabalhava, e o pai deles era o sócio majoritário, embora estivesse aposentado.
Ricky odiava aquele trabalho, uma vez que achava-o aborrecido e monótono. Porém, não tendo conseguido se formar com boas notas, nem possuindo experiência, era obrigado a aceitar o que lhe davam.
- Se pelo menos não fosse Vicent quem dá as ordens! - ele se queixava. - Meu irmão é um feitor de escravos, que tem prazer em aterrorizar as pessoas!
Certamente Vicent fora notificado da visita de Belinda, pois assim que voltou dos Estados Unidos, apareceu em seu apartamento, sem sequer avisar. Apanhou-a de surpresa, tendo acabado de tomar banho e já vestida para dormir.
Belinda atendera à porta com os cabelos molhados, descalça e com um robe de flanela sobre o pijama cor-de-rosa.
Vicent a olhara de cima a baixo, a boca curvando-se ligeiramente, com um ar de zombaria.
- Srta. Belinda Hunt? - perguntara, em duvida, como se estivesse esperando algo bem diferente do que se encontrara.
A julgar pela expressão de seu rosto, Belinda percebera que Vicent estava atônito ao ver que era uma pessoa simples e inocente, e não a vampe que imaginara.
Era muito diferente de Ricky, com pele morena, olhos verdes e traços anguloso e marcantes.
- Sim - ela respondera e, ainda sem saber de quem se tratava, deixara apenas uma fresta na porta, impedindo-o de entrar.
- Sou Vicent Garret.
- O irmão de Ricky? - ela se surpreendera.
- Exatamente. Será que vamos ficar conversando aqui fora na porta?
Num gesto automático, ela o deixou entrar no apartamento, desculpando-se pela desordem. Não estava esperando visitas e algumas poucas coisas se encontravam fora de seus lugares: uma toalha sobre a poltrona, onde estivera secando os cabelos, um livro no tapete, o jornal aberto no sofá.
Embora fosse uma desordem superficial, os olhos verdes de Vicent examinaram o cômodo, avaliando cada objeto que ali se estava. Estranhamente, ele lhe provocara um efeito muito parecido com o que tivera ao ver Ricky pela primeira vez, só que ao contrário. Amara Ricky à primeira vista; mas detestara Vicent imediatamente, antes mesmo de ele lhe dizer por que viera.
No entanto, tentara ser educada:
- Gostaria de beber alguma coisa? - oferecera, cumprindo seu papel de anfitriã.
- Não, obrigado. Tenho de ser muito franco, srta. Hunt. Ricky me falou tudo a seu respeito, e acho que a senhorita precisa estar ciente de certos fatos. Ele próprio deveria ter lhe contado, mas, como acabou admitindo para mim, não teve coragem. Sei que lhe pediu em casamento, mas isto será impossível de acontecer. Ricky vai se casar com outra garota, de quem está noivo há mais de dois anos.
Belinda não pudera evitar uma exclamação chocada, de protesto e incredulidade, e os olhos verdes de Vicent se estreitaram, examinando-lhe o rosto.
- Esta é a pura verdade - ele insistira, brevemente.
- Mas ele não falou que...
- Não conhece Ricky tão bem quanto imagina - Vicent interrompera, com frieza. - Ele prefere ignorar os fatos que julga inconvenientes e desagradáveis, em vez de enfrentá-los. Não tenho duvidas de que, quando a conheceu, não pretendia que o relacionamento se tornasse tão sério. Mas Meg, a noiva dele, insistiu em terminar o curso universitário na França, antes de se casar, obrigando-o a esperar. Ricky ressentiu-se disso, pois não podem se encontrar com frequência e ele se sente sozinho e abandonado. No entanto, ama Meg, sempre amou. Eles se conhecem desde crianças, e formam um par perfeito.
Belinda ficara zonza com aquela revelação; jamais imaginaria que Ricky fosse capaz de enganá-la. Embora tivesse lhe falado sobre suas aventuras amorosas anteriores, não mencionara a tal garota. Uma onde de ciúme a envolvera. Como seria esta Meg? Bonita? Ricky a teria amado de verdade, ou Vicent estaria mentindo?
- Não acredito em você - dissera, baixinho.
-Pois não precisa acreditar em mim, se não quiser. Basta perguntar a Ricky.
Ela erguera a cabeça, odiando-o por tê-la ferido tanto.
- Disse que seria franco, sr. Garret, então me responda: na verdade é sua família que acha que não sirvo para Ricky, não é? Sou uma garota de classe média, que trabalha pra sobreviver e não pertenço a seu mundo. É por isso que não quer que eu me case com seu irmão?
Controlava toda a dor que sentia, desafiando-o. Vicent a olhava com curiosidade, embora parecesse impassível ao seu sofrimento.
- É verdade. Não quero que você se case com meu irmão - admitira, com um sorriso irônico e impenetrável.
- E esta moça... a que você diz que está noiva dele... imagino que esteja de acordo com as exigências da família - Belinda dissera, cheia de amargura - Deve pertencer a uma família rica e tradicional, e possui as qualidades que não tenho. Estou certa?
- De fato, a família de Meg é rica -ele respondera- Mas isto não vem ao caso.
- Ah, claro que não! - ela forçara um sorriso- Pois está me parecendo que vocês escolheram uma noiva adequada para Ricky, mas ele se recusa a ser um bom menino e obedecer aos pais. Ele quer escolher a própria esposa, e isso os deixa furiosos!
- Não é nada disso - Vicent retrucara, e Belinda o olhara, desconfiada.
- Não é mesmo? Bem, se alguma coisa entre eu e essa enxurrada de bobagens que você acabou de me dizer for verdade, então Ricky irá me contar! Ele me ama, e eu sei disso. Não mentiria para mim, e não acredito numa palavra do que que acabou de me dizer. Agora, por favor, vá embora.
Caminhara com passos duros até a porta, abrindo-a de todo, e Vicent se aproximara com um franzir de testa ameaçador. Não sairá, no entanto. Segurando-a pelos ombros, sacudindo como se fosse uma boneca, os dedos fortes machucando-lhe os braços.
- Esteve dormindo com ele? É por isso que está tão segura de que ele te ama?
Belinda se desvencilhara, revoltada.
- Isso não é da sua conta!
- Acho que é. Preciso saber até onde foi este caso, e você vai me dizer! Então, dormiu com ele? - a voz era uma ameaça, e seu rosto estava a poucos centímetros do dela, mas Belinda se recusou a responder.
- E se tivesse? - desafiara- Você não tem nada a ver com isso!
Quase empurrando-a para longe, ele havia se virado e sairá. Ela permaneceu estática, tremendo violentamente, como se tivesse sido exposta a um furacão, uma tempestade, ou qualquer outro fenômeno natural capaz de destruir tudo a sua frente.
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Bianca: As Mais Belas Histórias De Amor
RomantizmDuas histórias: SUBLIME DESPERTAR, de Charlotte Lamb. Amor e ódio. Duas forças poderosas conduzindo o coração de Belinda... "A porta do quarto se abriu e, relutante, Belinda virou a cabeça esperando ver a enf...