CAPÍTULO II.2

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      Alguns minutos depois que ele desapareceu, a enfermeira Hay entrou no quarto. Belinda estava deitada de lado, o rosto escondido no travesseiro e desmanchando-se em lágrimas.
    - Pobrezinha... - Hay murmurou, correndo até ela, mas Belinda enxugou o rosto depressa, olhando-a com raiva.
   - Deixe-me sozinha - pediu - Por favor.
    A última coisa que desejava era ter sua dor testemunhada por outras pessoas. Seu orgulho já estava ferido o bastante, especialmente depois de sager que a enfermeira Hay tinha conhecimento de que Ricky a trocara por outra mulher. Todos eles sabiam, todos sentiam pena... E ela odiava aquela piedade.
     - Está bem, vou deixá-la sozinha, daqui a pouco. Primeiro vou lhe dar um calmante, que vai ajudá-la a dormir.
      Belinda não retrucou; estava feliz por poder escapar do sofrimento e mergulhar no sono. Naquele instante, quando desejou não ter retornado à consciência; quando estava em coma, ao menos não ficara sabendo que Ricky a abandonara.
      Será que um dia ele me amou?, refletiu, em desespero. "Terá sido sincero, alguma vez? Como pôde se casar com outra, em tão pouco tempo?".
       Naquela mesma noite, sua mãe chegou, pálida e cansada pela longa viagem. As lágrimas escorriam-lhe pelo rosto, quando entrou no quarto, de braços abertos para abraçar a filha.
     - Ah, Belinda, minha querida! Rezei tanto por um milagre, e aconteceu!
      Em silêncio, Belinda desejou que o milagre tivesse acontecido um pouco antes de Ricky se casar. Porém, tentando afastar a dor, retribuiu o abraço carinhoso da mãe.
     - É tão bom ver você, mamãe. Obrigada por ter vindo...
    - Quem dera se a família toda pudesse estar aqui, mas sabe que não temos condições - Rosemary Clifford respondeu. - Jack e os garotos lhe mandaram todo seu amor. Trouxe presentes e cartões, e prometi que lhe daria um beijo, em nome de cada um. Este é por Jack, este por Billy e este por Steve - falou, beijando-a no rosto.
     Belinda estava comovida. A segunda família de sua mãe podia estar do outro lado do mundo, mas se sentia muito unida a todos.
    - Gostaria de vê-los, também - afirmou, enquanto a mãe se sentava ao seu lado, espalhando pela cama os presentes que trouxera. - Posso abrir agora? - perguntou, esperando que sua tristeza não fosse muito evidente, pois não queria preocupá-la nem estragar aquele momento de alegria.
     Porém, não foi fácil esconder. Ainda se sentia atordoada e vazia, embora fizesse um grande esforço para se mostrar animada.
   - É claro que sim! - Rosemary respondeu, vendo-a abrir cada pacote, com exclamações de surpresa.
     Jack, o padrasto, lhe enviara uma camisola; do garoto mais velho Billy, ganhara uma caixa de sabonetes perfumados, e, do pequeno Steve, um livro.
    Ela leu em voz alta cada um dos cartões, tocada pela mensagens carinhosas e sinceras. Sentia-se menos só, menos traída. Ricky a abandonara, mas ainda possuía sua família. A presença da mãe conseguiu diminuir a intensa solidão que a invadira.
    Rosemary não ficou por muito tempo, naquela noite, pois estava muito exausta pelo vôo desde a Nova Zelândia. Depois de uma hora, despediu-se, prometendo voltar no dia seguinte à tarde. Mas, na verdade, quando chegou, já escurecia.
   - Desculpe, querida. Pretendia vir no horário de visitas, à tarde. Mas estava tão cansada que dormi o dia todo. - Tocou as têmporas com a mão e gemeu baixinho - Estou com uma dor de cabeça terrível! Sinto muito, Belinda, mas acho que não vou poder ficar muito tempo. A correria destes últimos dias parece que  me abalou. Já não sou tão jovem... - Sorriu, tristemente.
     Belinda devolveu-lhe o sorriso, compreensiva:
   - Não se preocupe, mamãe. Também estou cansada e acabei de tomar um sedativo. Mesmo se você ficasse, eu não seria boa companhia.
     No dia seguinte, Rosemary chegou no horário de visitas, mostrando-se bem mais animada. Ficou mais de uma hora, comprometendo-se a voltar mais tarde.
     Porém, antes que ela chegasse, Belinda, recebeu a visita de uma colega do escritório, uma garota pequena e tímida chamada Tracy Beamish.
      Tracy era delicada e frágil, os olhos castanhos possuíam uma expressão sempre alerta. Trouxe cartões e flores dos outros colegas da empresas de seguros em que trabalhavam.
     - Todos foram muito gentis - Belinda comentou, tendo a sua frente os cartões que recebera. O quarto estava repleto de flores, que exalavam um perfume agradável e primaveril.
      Devia estar se sentindo amada, porém, ao contrário, não conseguia evitar a dor que tomava conta de todo seu ser. Tudo que lhe restava era fingir contentamento, e foi o que fez: ria das coisas que Tracy lhe contava, rezando para que a amiga não percebesse sua falsa animação.
    - O que vai fazer quando sair daqui? - Tracy perguntou, e Belinda foi tomada de uma estranha  surpresa. Não havia lhe ocorrido, ainda, que um dia teria de deixar o hospital.
     - Parece que isso vai demorar um pouco... - respondeu, hesitante.
      - Eu sei... mas, isto é... quando estiver recuperada, pretende voltar a trabalhar no escritório? - a amiga tornou, vacilante. - Estou certa de que a empresa ficará satisfeita em contratá-la novamente. É que... bem, há uma nova garota ocupando seu lugar, mas existem outros cargos para serem preenchidos.
    Belinda engoliu em seco, percebendo que Tracy também sabia que Ricky a passara para trás. Todas suas colegas, no escritório, já lhe haviam dado presentes de noivado, pouco tempo antes do acidente. Era humilhante imaginar as fofocas e comentários que deviam fazer sobre ela.
    - Não pensei nisso, ainda Tracy - falou, procurando manter a voz firme. - Talvez seja melhor procurar algo novo.
      Os olhos castanhos da amiga brilharam:
     - Sim, acho que é melhor, mesmo. Depois de tudo o que aconteceu... quero dizer, o acidente, você ter ficado em coma durante meses... Deve ser estranho retornar à vida. Tanta coisa mudou, enquanto você... - Fez uma pausa, virando ligeiramente. - Bem, algumas coisas mudaram. O velho sr. Danvers, que estava há vinte anos  na empresa, morreu outro dia, no caminho de casa. E Anne Derby, lembra-se dela? Casou-se mês passado. E... - Parou outra vez, mordendo o lábio, embaraçada.
    - Sei que quer dizer, Tracy - Belinda comentou, tentando esconder a tristeza. - A vida das pessoas prosseguiram, enquanto a minha ficou parada no tempo. Acho que vou procurar um outro emprego, quando chegar a hora.
     - Puxa, Belinda, eu sinto tanto - Tracy falou, antes de despedir-se  e sair apressada, à beira das lágrimas.
     Belinda permaneceu imóvel em sua cama, olhando fixamente para a parede. Aprendera que isso a deixava mais calma e, respirando fundo, tentou relaxar.
   

Bianca: As Mais Belas Histórias De AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora