A enfermeira empalideceu, mas manteve-se calada. Naquele instante, a porta do quarto se abriu, deixando entrar dr. Courtney, sua assistente e a jovem enfermeira Lucas. Hay se afastou da cama e cumprimentou o médico, ao mesmo tempo que a srta. Willians, sua assistente, o lembrava baixinho, do nome da enfermeira, sabendo que o dr. Courtney tinha uma grande dificuldade em se lembrar dos nomes das pessoas.
- É a enfermeira Hay, doutor.
- Sei disso - ele respondeu, pois jamais admitia sua fraqueza. Um homem elegante, com rosto austero e de cabelos escuros, o especialista em neurocirurgia era adorado pelas enfermeiras. Antes de se aproximar da paciente, murmurou, com suavidade: - Bom dia, enfermeira Hay. Parece que temos uma ótima novidade, não é? Há quanto tempo ela está consciente? Sabe o que aconteceu, para despertá-la? Quero que me dê os detalher, por favor.
- Estávamos terminando a higiene dela, doutor, quando abriu os olhos. Não sei lhe dizer se algo excepcional provocou o despertar.
- Humm... E ela falou alguma coisa?
Hay suspirou:
- Apenas uma doutor. Perguntou: "Onde está Ricky?"
O dr. Courtney pressionou os lábios, preocupado:
- Ah... Isto pode ser um problema. O que lhe respondeu?
- Nada. Estava pensando no que dizer, quando o senhor chegou.
Ele sorriu, aliviado:
- Muito bem, enfermeira. Precisamos ser cuidadosos, ao menos por enquanto. Agora, vou examiná-la.
A srta. Williams deu um sorriso educado, fazendo um pequeno sinal na direção da porta, por onde as duas enfermeiras se apressaram em sair. Antes de fechá-la atrás de si, a jovem Lucas teve um relance do rosto de Belinda, e da expressão assustada que possuía. Em que estaria pensando? Como seria estar no lugar dela e acordar de repente, descobrindo que estivera em coma durante oito meses? E por que todos parecereram tão transtornados, quando a enfermeira-chefe informou que Belinda perguntara sobre alguém chamado Ricky? A sua mente fervilhava de perguntas, mas sabia que devia mantê-las para si mesma. Era apenas uma ajudante, em seu primeiro dia de trabalho, e não iria bancar a curiosa, causando má impressão.
- Olá, Belinda! Meu nome e Cortney, e sou o médico que a atendeu, enquanto esteve aqui conosco.
- Oi, doutor - Belinda respondeu, num susurro fraco.
Ela achava que todos ali no quarto agiam de maneira muito estranha. Será que fora gravemente ferida no acidente? Não conseguia se lembrar do que acontecera... O que estaria errado com ela? Um tremor de medo a envolveu, mas não sentia dor e nem tinha curativos no corpo. Com algum esforço, moveu-se um pouco e não sentiu o menor desconforto; seus braços e pernas pareciam bem.
- Sou especialista em neurocirurgia, Belinda, e operei você quando chegou ao hospital.
- N... neurocirurgia... - ela gaguejou- Não sei bem o que significa.
O médico riu como se tivesse ouvido alguma piada.
- Às vezes nem eu sei, Belinda. Incomoda-se se eu a chamar pelo primeiro nome? Já te conheço há tanto tempo, que já me sinto um velho amigo.
- Não me importo - ela respondeu, devagar. A enfermeira também dissera algo parecido, pensou. O que aquilo queria dizer? Há quantos dias estaria ali? E o que acontecera com Ricky? Onde ele estava? Acordara pensando nele, querendo vê-lo... Será que também se ferira no acidente?
Observou o rosto sorridente do cirurgião, imaginando se ele contaria o que acontecera com Ricky. Ou as notícias seriam tão más que preferiam não lhe dizer? Notará na enfermeira um olhar ansioso, de piedade. Por que a fitaria assim? A não ser que... a não ser que alguma coisa terrível tivesse acontecido a ele...
- Nós tivemos um acidente - falou, num fio de voz- Ricky estava dirigindo...
O médico manteve-se em silêncio, continuando a fitá-la, com uma expressão semelhante à da enfermeira, e Belinda retraiu-se, com medo e dor. Por que não lhe diziam nada? Ele não poderia estar morto... não, Ricky... Por favor, meu Deus...
- É melhor não falar muito agora - o dr. Courtney recomendou, com voz suave. - Não queremos que canse demais. Vou apenas lhe fazer algumas perguntas, examiná-la e, mais tarde, tiraremos radiografias.
Belinda assumiu e, mesmo nos dias que se seguiram, quando se submeteu a uma série interminável de testes, não tocou mais no assunto. A equipe médica que assistia se encarregou de enchê-la de perguntas, assim como um policial, que foi vê-la. Nada pôde lhe informar, no entanto, pois não se lembrava do acidente e, como todos os demais, ela também mostrou-se relutante em responder todas às suas indagações.
Belinda, que se sentia fraca, decidiu resguardar suas forças e manter as dúvidas em silêncio. Esperou que Ricky fosse visitá-la e, quando isso não aconteceu, decepcionou-se muito.
Sempre estava sozinha, apenas acompanhada da enfermeira de plantão, que ficava sentada atrás de um painel de vidro no centro de terapia intensiva, ela permanecia deitada, pensando em Ricky, em sua mãe, nos amigos e no trabalho. Nestas ocasiões, uma sensação estranha a invadia, como se estivesse se lembrado de fatos que haviam acontecido num passado muito distante.
Quando perguntara pela mãe, a enfermeira Hay lhe respondera:
- Já a avisamos que você recobrou a consciência. Ela disse que estaria aqui em três dias.
- Não deviam tê-la incomodado!- Belinda protestara. - Ela não tem condições financeiras de ficar viajando tanto para cá!
A enfermeira argumentara:
- Ora, sua mãe jamais nos perdoaria, se não a avisássemos. Da outra vez, veio no instante que soube do acidente, e ficou por mais de um mês. Porém, tivemos que informá-la que você poderia permanecer em coma durante anos, e não havia motivos para ficar, por isso ela voltou para casa. Mas telefonava regularmente, para saber de seu estado e, assim que soube que você tinha acordado, mal podia esperar para pegar o avião!
Belinda ficara feliz ao saber que a mãe iria chegar, pois não a via há muito tempo. O padrasto deixara claro que sempre haveria um lar para ela em Nova Zelândia, mas, apesar de gostar muito dele e de seus dois meios-irmãos, crescera em Londres e temia não se acostumar em outro lugar.
Sentia falta da mãe, embora lhe escrevesse todas as semanas, contando-lhe, em detalhes, tudo o que acontecia em sua vida. Falava sobre o trabalho, os amigos, os namorados. Nenhum deles havia sido muito importante, até que conhecera Ricky.
Na primeira vez que o encontrara, escrevera uma longa carta para a mãe:
"Tudo começou num ônibus, mamãe, você acredita?! Ele me viu no parque, em minha hora de almoço. Eu passeava, distraída e, de repente, demos um encontrão, pois ele estava correndo, fazendo exercícios. Estava atrasada para voltar ao trabalho e mal lhe dei tempo para se desculpar. Mas ele me seguiu, e subiu no ônibus atrás de mim e, então, viu que estava sem dinheiro para pagar a passagem! Paguei para ele, que anotou meu endereço e prometeu que me devolveria o empréstimo. Minhas amigas riram muito, quando souberam, dizendo que nunca mais eu o veria de novo, e nem ao meu dinheiro. Porém, na mesma noite ele apareceu no meu apartamento, com um enorme buquê de flores e insistiu em me levar para jantar, num restaurante maravilhoso. Passei a noite olhando para aquele homem, sem conseguir acreditar que pudesse ser real. Devia ver o terno que ele usava! Tão elegante..."
Descrevera, então, em detalhes a aparência de Ricky, mas secretamente, preferia a maneira como o vira vestido no parque com um conjunto esportivo de malha. Ele era atraente demais, e este era o problema: loiro, olhos azuis, alto, musculoso e esbelto, embora tivesse modos simples e simpáticos.
Por semanas, depois do primeiro encontro, Ricky não lhe falara sobre a familia, contando apenas alguns fatos esparsos: que trabalhava num escritório, que estivera na universidade, mas nunca fora bom aluno.
- Não sou nenhum gênio! - ele dissera, rindo. Quando lhe respondera que também não era, ele a beijara: - Bem, e daí?
- Você tirou as palavras de minha boca! - ela havia brincado.
Ricky tinha consciência da própria aparência e sabia a reação que causava nas mulheres. Fora franco a este respeito e admitira que tivera muitas garotas, antes dela. Às vezes, isto a preocupava, pois como poderia ter certeza de que ele não a abandonaria, como fizera com as outras? Ele afirmara que a amava, que era a única... mas não teria dito o mesmo às anteriores?
Logo ficou sabendo que ele possuía um apartamento em Chelsea, um bairro de Londres, e que morava sozinho. Sua família vivia em Buckinghamshire, no interior, e Ricky a mencionara vagamente, demonstrando gostar muito da mãe, embora parecesse temer o pai. Contara-lhe que tinha dois irmãos e uma irmã, todos mais velhos que ele.
Ele não apenas praticava corrida todos os dias, mas adorava qualquer tipo de esporte: jogava tênis, críquete, squash... Na verdade, o que o interessava era a competição. Gostava de se manter em forma e nadava diariamente na piscina do condomínio onde morava. Era sete anos mais velho que Belinda, e ela achava que a diferença de idade era perfeita. Mas, naquela época, achava perfeito tudo o que se relacionava àquele homem.
Apaixonara-se perdidamente no minuto em que colidira com ele no parque, naquele dia de outono e, para sua alegria, ele também demonstrara sentir o mesmo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Bianca: As Mais Belas Histórias De Amor
RomanceDuas histórias: SUBLIME DESPERTAR, de Charlotte Lamb. Amor e ódio. Duas forças poderosas conduzindo o coração de Belinda... "A porta do quarto se abriu e, relutante, Belinda virou a cabeça esperando ver a enf...