6- esperar

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𝐽𝐴𝐾𝐸

Meu tio pegou todas as drogas de minha mãe, fez ela prometer que não havia mais nada. Daqui uma semana iríamos lá novamente e se tudo ocorresse bem no final da semana ela poderia ter alta.

Estamos no caminho pra checar.

O carro antigo de tio Jack me lembra a infância, quando ele vinha nos trazer um pouco de alegria dentre as intermináveis brigas.

Ele aparecia por lá pelo menos um final de semana por mês. Nos trazia lembrancinhas, às vezes uma maquiagem para Claire, um controle de vídeo game para Conrad e um livro ou uma bola para mim.

E eu o amava por isso, por que era o que nós precisávamos de nossos pais, um pouco de carinho, ver que eles se importavam com a gente.

A reabilitação fica um pouco longe do centro de Londres, onde minha família mora. Fico olhando pela janela, observando o cenário tão bonito da cidade.

Por conta da estação o clima está
extremamente frio. Há de crianças a velhinhos vestidos até a cabeça com roupas pesadas e quentinhas, tivemos sorte de hoje não estar nevando, pelo menos.

Ao chegarmos é difícil sair do carro aquecido e encarar o frio mas estou tão ansioso que isso me motiva.

O quarto de minha mãe fica no fim do corredor e quando a vejo entro em desespero.

Seu corpo pequeno e magro largado na cama, o cabelo loiro bagunçado como nunca.

"Mãe?!"- agito seu corpo esparramado, tentando acorda-lá.

Meu tio tento o mesmo e nos entre olhamos decepcionados. Ela não podia fazer isso, a fizemos prometer que não iria usar nada.

Diana ri e sua risada ecoa pelo quarto. Não acredito.

"Vocês realmente acharam que não iria fazer de tudo pra sair daqui?!"- ela diz e solto o ar que não percebi que estava prendendo.

"Realmente peguei vocês."- minha mãe fala, se divertindo com sua própria palhaçada.

"É, muito engraçadinha Di."- meu tio diz com meio sorriso no rosto.

Passamos mais um tempo conversando enquanto a médica da reabilitação ainda não chega no quarto de minha mãe.

Ela mesma diz que não fez nada na semana e que acredita poder ter alta, porém continuaria com um supervisor. O que seria bom.

"Bom, vamos ver se você se comportou essa semana."- a médica entra no quarto com seu jaleco e sua prancheta com o nome de minha mãe escrito no começo da folha.

Diana Matthes
Idade: 59
Peso: 42,7 kg
Tempo na reabilitação: 5 anos
Causas: drogas, depressão, ansiedade, bebidas.

A coisa é certamente complicada...

Louise, a médica, faz uma série de exames rápidos e pede pra que minha mãe faça um teste de urina apenas para confirmar.

Ou seja, teremos que esperar.

𝑆𝐸𝐿𝐼𝑁𝐴
Uma semana depois.

Não estou acostuma com o clima frio de Nova York. Tudo parece estar congelado e não sei quem inventou a mentira de que as pessoas ficam elegantes no frio.

Se estar de touca, roupas pesadas, bota, luvas, cachecol... que nem combinam é ficar elegante então estou por fora da moda de hoje em dia.

Caminhar de aula a aula no frio do campus é desgastante, mas pelo menos rio das piadas e reclamações de Nessa.
Desde que descobri que Carter é seu irmão venho relembrando das noites em Las Vegas, fico repassando o que falei, pensando se disse alguma bobagem.

Minha amiga diz que não são próximos, que Carter se gaba do dinheiro que tem, quer dizer, que o pai tem e ela não suporta seu irmão se achando. Mas que sente falta dele mesmo assim.

Estamos indo almoçar agora e por incrível que pareça eu, Nessa, Ester e Layla viramos bem próximas em tão pouco tempo. Bom, três meses para ser exata. Almoçamos sempre juntas, fazemos encontrinhos em nossos alojamentos e vamos em festas.

Até agora não fomos em muitas, não aguentamos o frio e o vento gelado como as outras garotas do campus parecem aguentar. Mas as que fui por ora foram ainda mais loucas e movimentadas em comparação as festas que Mare me puxava para ir.

Mare.

Conversamos um pouco todos os dias, matamos as saudades por ligações de vídeo e agradeço por não termos nos afastado.

"Ei, fiquei sabendo de uma festa hoje à noite, vocês topam ir?"- Layla pergunta enquanto come seu lanche.

"É de um tal Fitz? Acho que ouvi comentarem."- Nessa entra na conversa.

Ester adiciona mais alguma coisa mas não escuto direito o que.

"E você? Não vai falar nada?"- Nessa mexe seus cabelos ruivos enquanto pergunta olhando pra mim.

"Hum... com licença estou apreciando minha lasanha. E não, não posso ir. Hello? Gente estamos indo pra semana final de provas antes do intervalo para as festas de fim de ano."- as digo e recebo pares de olhos se revirando.

"Selina, você pode estudar durante o resto da semana, pode ser o dia inteiro se quiser, não vai ser uma noitada que vai te fazer ir mal nas provas finais."- Ester me responde, ela tem um ponto.

"Qual é, estamos todas de provas que o frio não nos faz ficar muito tempo nessas festas."- revido.

"Aposte então. Vamos apostar, quem ficar por mais tempo na festa ganha um... sei la, alguma coisa."- Ester me responde novamente, isso vai ser divertido.

"Estou fora."- digo, enfiando uma garfada de lasanha na boca. Orgulhosa.

"Estou dentro!"- Layla e Nessa dizem em uníssono.

Aí caramba, aqui vamos de novo.

Outro momentoOnde histórias criam vida. Descubra agora