10- bem aqui

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𝑆𝐸𝐿𝐼𝑁𝐴

O longo voo de horas me deu tempo de estudar e revisar o que queria, de apreciar a vista e ouvir uma boa música, eu até dormi, assim teria mais energia para o que me espera, tentei ser positiva na maioria do trajeto.

Quando o avião aterrissa faço como o combinado e espero no aeroporto pelo pai de Liam me buscar. No meio tempo eu converso com a minha mãe.

"Seja positiva, filha. Vai dar tudo certo, eu sei que sim."- ela me conforta.

"Espero. E você? Como você está?"- eu respiro fundo e tento mudar de assunto.

"Estou bem, a casa está muito vazia sem você..."- ela diz e isso me entristece, já faz três meses q saí de casa, ela está sozinha faz três meses-"mas o vizinho me chamou para um jantar mais tarde."-ou na verdade não.

"Hummm, que vizinho?!"- eu brinco.

Minha rua havia muitas casas, mas com a maioria de casais recém casados, quando era criança lembro de conhecer muitos nenens, mas muito mesmos, a rua era repleta de casais jovens e pequenos bebês. Eu adorava. Quem não gosta de nenes risonhos e cheirosinhos?

As únicas famílias que já tinham filhos maiorzinhas era a minha e a de América.... e

"Lucas?!"- digo assim que lembro do homem
que me dava balinhas toda vez que ia pedalar pela rua.

Ouço minha mãe dar um risinho pelo telefone e pronto, já sei.

"Ele me chamou para jantar na casa dele, disse que não me via a anos, o que é um exagero, nos esbarramos varias vezes, disse que eu precisava de uma companhia, principalmente agora que você foi pra faculdade."-ela explica.

Se ele for a companhia que minha mãe precisa, ótimo! Conheço Lucas minha vida inteira, então é engraçado e estranho ele chamar minha mãe tão de repente. Mas acho uma ótima ideia, sem dizer que desde a morte de meu pai minha mãe nunca mais teve interação com quase nenhum homem.

"Bom mãe, acho ótimo, talvez seja o que você precise. Não se esqueça de se divertir."- a digo e ela agradece.

Conversamos um pouco mais, a desejo boa sorte e desligo a ligação quando recebo uma mensagem do pai de liam falando que está na entrada do aeroporto me esperando.

Levo um tempo até me achar novamente entre tantas pessoas entrando e saindo e ando atentamente até ver o cara que reconheço pela foto de perfil.

"Sou o pai de Liam e tio de Jake, Jack."- o homem alto e loiro grisalho diz e estende a mão pra mim.

Me apresento e ele arregala os olhos.

"Então você é a tal da Selina..."-ele diz com um risinho e isso me faz ficar envergonhada.

"Sou sim, se ele falou algo ruim de mim, não era eu."- brinco e ele ri.

"Na verdade, fez o contrário. Me falou muitas coisas boas, já gosto de você menina."- ele me da um sorriso amarelo e fico pensando no que Jake talvez tenha falado, mas nunca se sabe o que pode sair de sua boca.

O vento congelante bate em meus cabelos enquanto acompanho Jack até seu carro. Agradeço aos deuses pelo carro já estar aquecido quando me sento no banco do carona.

Pra quem nunca saiu da Califórnia o frio de Londres é de matar, estou mal acostumada, se achava frio os dias de chuva em minha cidade é porque não conhecia o vento constante daqui.

A temperatura parece estar abaixo dos -3 graus e sinto que vou congelar.

"Muito frio, não é?"- Jack me pergunta.

"É sim, estou mal acostumada, sou da Califórnia."- digo, mesmo sabendo que Jack também mora lá, Jake me contava que ele visitava o apartamento todo mês.

"Eu sei, nasci e cresci aqui mas moro por lá desde que me casei."- ele me conta e quando toca no assunto do casamento seu rosto se fecha por completo, assim como Jake faz quando fala da família.

Me pergunto o que possa ter acontecido, não me recordo de Liam ter me contado nada sobre sua mãe... acho que, na verdade, nunca o ouvi falar sobre ela. Meu lado curioso faz minha língua estremecer para perguntar o que houve, mas não posso pergunta-lo, não é da minha conta.

"Vamos até o hospital?"- Jack desperta do assunto e me pergunta.

Respondo que sim, mesmo estando tensa para este momento.

O trajeto não demora tanto quanto achei que demoraria, a radio que toca possui as apresentações das musicas e as notícias com uma voz feminina britânica, é engraçado como eles falam algumas palavras.

Fico olhando pela janela, tendo um gostinho de como é a cidade, que não poderei explorar tanto, aliás, não vim a passeio.

"Sabe, foi um acidente feio, mas não quero que se preocupe com o que vai ver, ok? Ele está bem, e tenho que dizer que o filho da mãe consegue continuar bonito até após um acidente."- ele brinca e me faz rir, realmente, Jake deve continuar bonito mesmo depois disso tudo.

"Não acredito que ele vá acordar completamente hoje, mas acho que ele precisa de você."- Jack diz, sincero, como o filho.

"Entendo, acho que preciso vê-lo também."- digo por fim.

Assim que chegamos, respiro fundo antes de entrar ao hospital. O lugar é mais organizado, por ser privado, e menos cheio do que seria um hospital público.

Somos direcionados a recepção e nos acomodamos no sofá de couro bege.

Há revistas na mesa de centro e um bebedouro no canto da sala. Tem poucas pessoas, e a que está por lá tem uma bebezinha que sorri pra mim quando me sento.

Dou um sorrisinho pra ela e ela ri, uma fofa.

"Soube que você tem que voltar para Nova York para a faculdade amanhã, o que você cursa?"- Jack puxa assunto.

"Faço publicidade e jornalismo."- o digo e conversamos sobre o que ele sabe da área, é um homem muito bom de papo, sempre sabe algo de algum assunto, como o filho.

Liam e Jack são muito parecidos. Tenho que destacar isso.

Fico triste quando a mãe da neném é chamada e ela segue à frente. Era uma graça ela rindo e fazendo barulhos tentando falar algo.

Logo em seguida somos chamados pela recepcionista e sinto meu estômago se revirar.

"O quarto é o S-19, no fim deste corredor."-ela aponta e seguimos as instruções.

Enquanto andamos pelo corredor em direção ao quarto Jack me lança um sorriso confortante.

Vai dar tudo certo, vai dar tudo certo.

Entramos no quarto e Jake está deitado na cama, ligados à muitos fios, com máscara para ajudar a respirar e uma faixa em volta da cabeça.

Me contorço, a coisa foi realmente feia, mas assim como Jack disse, Jake continua bonito.

Fico dura como pedra, não sei o que fazer.

Toco seu rosto avermelhado e machucado com delicadeza, ele não se meche, e fico o olhando.

"Vou deixá-los um pouco a sós."- Jack diz, se retirando do quarto.

Agradeço e assim que a porta se fecha solto o ar que estava prendendo.

Com todo o cuidado me aproximo de Jake, o abraço, deito a cabeça em seu peito de forma mais leve possível, não quero machuca-lo.

Ter seu corpo perto do meu me conforta, meses que não tinha isso, e agora ele está bem aqui.

Outro momentoOnde histórias criam vida. Descubra agora