9- você sabe quem

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𝑆𝐸𝐿𝐼𝑁𝐴

São tres da manhã quando acordo com meu celular tocando, coço os olhos no seu último toque. A tela de início me indica quatro ligações perdidas de Liam, provavelmente com notícias de Jake, espero eu.

Saí da festa assim que terminei de ouvir os recados de Jake, não me importei com minhas amigas, muito menos com Carter, tudo o que mais precisava era sair dali e associar tudo.

Associar que depois de meses Jake finalmente me mandou mensagem, associar tudo o que ele me disse e associar que ele supostamente viria me ver.

Retorno a ligação e Liam atende no segundo toque.

"Oi."- digo com a voz ainda sonolenta.

"Oi, desculpa por ter provavelmente te acordado, tive notícias antes mas eu e meu pai estávamos resolvendo os problemas. Então..."- Liam para antes de continuar e eu o encorajo, implorando pela notícia.

"Jake sofreu um acidente."- Liam simplesmente cospe as palavras e tenho a certeza de que meu coração para de bater no instante seguinte.

"Co-como assim acidente?"- o pergunto depois de uma pausa para me recuperar.

"Não sei como explicar, não sei o que ele estava pensando, mas depois de horas infinitas encontramos o destruído carro de Conrad, irmão do J, e la estava ele. Não sei se quer saber dos detalhes mas ele está bem... ruim. Ruim não seria a palavra correta, Jake está destruído, Lina."- a voz de Liam treme a cada letra que diz.

E pela palavra "destruído" sei que Jake está completamente acabado. Imagino o pior cenário que consigo e odeio minha imaginação por projetar a imagem.

"Está sendo impossível de ter noção das coisas daqui da Califórnia, não estou em Londres."-ele me lembra-"Lina, você precisa ir pra lá. Quando Jake acordar, se ele acordar, ele só vai ter olhos pra uma pessoa e você sabe quem."

Me recolho na cama. Meu coração dói e aperta. E se ele não acordar? E se nunca mais ver Jake? E se... ele morrer?!

Como que seria minha vida se Jake se fosse?

"Não tem como eu ir. Não tenho dinheiro pra literalmente ir pra Londres em uma sexta-feira."- lembro a mim mesma, mesmo tão transtornada com a situação.

"Posso falar com o meu pai... talvez ele possa pagar pra você e depois vocês acertam."- ele faz uma pausa-"É vai ser isso mesmo. Mandei um alô pra ele, certeza que ele não vai negar."

Não hesito em aceitar a oferta, estou tão preocupada com Jake que faria qualquer coisa pra conseguir vê-lo, pra conseguir tê-lo em meus braços, bem e lúcido.

"Aliás, desculpa, mil perdões por colocar você no meio disso, de verdade. Sei que as coisas não estão tão bem entre vocês faz um tempo... mas não posso deixar que ele não te veja em um momento como esse."- Liam, sensato como sempre, me diz e fico grata por ele reconhecer que certamente isso não vai ser fácil pra mim.

Faz meses que nem toco no nome de Jake abertamente, meses que literalmente não falo, não troco um oi com ele. Assim que entrei na faculdade, dei um tempo a mim mesma pra pensar no que havia acontecido, o furacão que eu e Jake nos tornamos e me mantive o mais longe possível de tudo que me lembrava dele.

Hoje, depois de um verão as loucuras, sei que as coisas não mudam da água pro vinho. Não mais.

"Olha Lina tenho que ir, obrigada por isso, sei o quanto Jake vai precisar de você quando acordar."-Liam diz confiante e isso me deixa esperançosa, talvez ele realmente acorde.

Nos despedimos e Liam agradece mais umas mil vezes.

Olho pro despertador, são três e vinte.

Fico olhando pro teto, me reviro na cama, fecho meus olhos, os abro novamente, mexo em minhas cutículas, me reviro novamente. Até que me levanto e encaro a janela. O ronco baixinho de Ester me assusta por uma fração de segundo, me puxando pra realidade.

Olho novamente pro despertador, são quatro em ponto.

Não consigo dormir, não depois da notícia que recebi.

Me sento na cama e pego meu celular, procuro os recados de Jake, e ouço eles novamente, um por um.

E se nunca mais poder ouvir sua voz novamente?

Já não basta perder meu próprio pai, tenho que perder meu único amor também?

Me deito e clico em minha galeria de fotos, passo por cada foto minha e de Jake. Fotos que nunca nem percebi que tirara.

Fico as olhando, isso é tortura seria o que América me diria agora nesse momento.

Desligo o celular e olho pra parede novamente.

Quando acordo, já são oito da manhã. Estou tão ansiosa que não me sinto cansada pela noite mal dormida.

Esse seria o sábado que supostamente estudaria porém lá vai eu viajar pra Londres às custas de um homem que nem conheço pessoalmente.

É difícil sair da cama e encarar o ar gelado presente no quarto, tomo um banho sob a água quente e isso já ajuda a me aquecer.

Liam: vou te enviar o contato do meu pai, ele está muito grato por você o acompanhar. Você consegue ficar lá até quando?

A mensagem de Liam acende minha tela, e ela me faz cair na real.

Tenho as provas finais em dois dias, não poderia ir de jeito maneira, mas pelo menos já estudei bastante.

Mas mesmo assim deveria estudar mais.

Explico a situação pra Liam e na mesma hora ele diz que devia ficar por aqui e estudar.

Mas quero mesmo estudar mais ou ter a chance de ver Jake? Quero mesmo?

Teria tempo pra revisar a matéria no avião, ou até mesmo quando Jake estiver dormindo no hospital.

Selina: Sem problemas, já estudei como louca nessas últimas semanas. Eu vou.

Combinamos os últimos detalhes e logo em seguida começo a me arrumar.

Penteio meu cabelo e o seco, passo rímel e um protetor labial, visto minha calça jeans e minhas roupas de frio, faço minha mala de dois dias e quando estou saindo de casa Ester acorda.

"São nove e meia da manhã por que está saindo?"- ela me pergunta com sua voz grogue de ressaca e sono.

Seu cabelo bagunçado me faz querer rir, mas me limito com uma risadinha.

"Volto em dois dias, explico depois. Beijo, e vê se descansa mulher. Volte a dormir."-a digo e logo fecho a porta de meu quarto.

Os corredores do alojamento estão em silêncio completo, mostrando que todo mundo provavelmente vai dormir até as meio dia, resultado das festas loucas que tiveram ontem.

Chamo um táxi, e ele me leva até o aeroporto. Mesmo no frio congelante que Nova York enfrenta, a cidade continua com seu movimento habitual, essa cidade realmente está sempre acordada.

Mando uma mensagem pra minha mãe, a explico o que estou fazendo e o que aconteceu com Jake. Ela me responde desesperada e diz que vai orar muito pra que ele melhore logo.

Minha mãe tomou Jake como filho dela, sempre gostei da relação deles. Amava observar ela rir das caras e bocas que ele fazia e o dizer que era o filho que ela nunca tivera.

Ao chegar no aeroporto, faço tudo o que tem que fazer. Check in, despacho de bagagens... ao finalmente embarcar a ansiedade percorre meu corpo. Respiro fundo e me acomodo no assento.

América me manda uma mensagem dizendo que está com os dedos cruzados e que vai dar tudo certo. Liam faz o mesmo e me agradece novamente por ir. Jack, pai de Liam, me deixa a par com os planos pós voo e me deseja uma boa viajem, assim como minha mãe.

Coloco meus fones e clico em minha playlist, então realmente irei fazer isso. Vou ir ver Jake.

Outro momentoOnde histórias criam vida. Descubra agora