7- chamadas perdidas

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𝑆𝐸𝐿𝐼𝑁𝐴

"Vamos Selina! Ainda da tempo de mudar de opinião..."- Layla me diz enquanto se olha no espelho de meu quarto.

Estou sentada em minha escrivaninha, com livros e anotações cobrindo a mesa inteira. Quero terminar o semestre com as melhores notas possíveis, e sempre fui assim, desde o colégio. Passei as últimas três horas lendo e revendo tudo que vi nas aulas. Será que estudei o suficiente?

"Voce está sentada aí ja faz muito tempo, e outra, ainda tem o final de semana pra estudar. Da tempo amiga."- Ester fala, como se tivesse ouvido o que falei.

Resmungo mas levanto e ergo às mãos como inocente.

"Ok ok... vou ir com vocês."- digo, minhas amigas batem palmas comemorando.
"Mas só por que já estudei o que precisava pra hoje."- digo por fim.

Me arrumo rápido. Visto uma calça jeans e uma blusa gola v, nunca que vou usar vestido num frio desses. Aliso meu cabelo e faço um delineado nos olhos, nada muito chamativo também. Em minutos estamos no carro de Ester, que felizmente está aquecido.

O trajeto leva menos de dez minutos, pela republica ser próxima de nosso alojamento.

Ao entramos na casa repleta de universitários somos empurradas pelo excesso de pessoas e a música estridente parece alfinetar meus ouvidos, fazia tempo que não passava por essa situação, as pessoas estão vestidas como se fosse verão e eu literalmente estou me tremendo de frio. São definitivamente um bando de loucos.

Rio de meus pensamentos e minhas amigas me encaram.

"Hum, isso aqui está mais cheio do que imaginei."- Nessa nos diz.

Fazemos uma filinha, para não nos perdermos umas das outras, e andamos juntas até acharmos a pessoa de que Nessa que encontrar.

Andamos até uma mesa, que está cercada de um monte de gente. Minha amiga leva um tempo até achar a pessoa e quando acha e o abraça tenho vontade de abrir um buraco e literalmente sumir. Mas não da tempo, seus olhos me acham antes mesmo de conseguir me esconder.

Sabia que não era uma boa ideia eu vir, sou uma pessoa extremamente com má sorte, só pode ser, não é possível.

"Oi."- seu jeito estranho e fechado familiar me lembra das loucuras que disse em meus ouvidos depois tarde naquela noite em Vegas.

"Oi... Carter."- o cumprimento.

"Ah... Vocês já se conhecem?!"- Nessa me pergunta.

"Sim"- digamos em uníssono-"bom, você me contou de seu irmão Carter... lembra?"- digo o mais rápido que pude. Não posso deixar minha amiga saber que quase transei com seu... irmão!

Carter me encara e sorri com seu copo preso nos lábios.

"Ah sim. Como sou esquecida!"- Nessa diz e se afasta, rezo pra que alguma de minhas amigas me tire daqui. Mas não, todas elas já estão conversando com seus colegas de classe presentes na festa.

"Então você conhece minha irmãzinha?"- Carter se aproxima de mim.

Inspiro fundo.

"Mundo pequeno não."

"Sim. Muito."- ele me olha fixamente e desvio o olhar.

Deus, o que fiz pra merecer passar por isso?!

"Voce nunca me mandou mensagem depois de Las Vegas..."- ele começa e volto meu olhar para seus olhos castanhos-"bebada fugitiva."- ele ri.

Me limito dar uma risadinha.

"Bom, eu não achei que você estaria a espera de uma resposta."

"E por que não estaria?"- Carter pergunta imediatamente.

Reviro os olhos e ele se aproxima de mim.

"Por que não estaria?"- ele pergunta novamente, porém agora tão perto de mim que consigo sentir seu perfume.

Fico olhando em seus olhos por tempo até demais e quando enfim saio do transe sinto meu celular vibrar a cada segundo.

Chamadas perdidas e mensagens preenchem minha tela de bloqueio, só não consigo acreditar que são de...

Jake.

"Hum, você me dá licença?"- digo a Carter e saio andando antes mesmo dele responder.

Procuro a porta e saio correndo do mar de pessoas até chegar no gramado na frente da república.

Desbloqueio o celular e tento ligar a Jake, que não atende nenhuma sequer vez.

Porra, o que aconteceu?

Ligo a Liam, que diz não saber de nada porque Jake está em Londres, mas que tentará falar com seu pai, que certamente terá notícias.

O ar de inverno congela a ponta de meu nariz e meus dedos, vejo a fumaça branca saindo de minha boca quando suspiro.

Quando volto a checar o celular noto minha caixa postal cheia de recados de Jake.
Clico rapidamente para ouvi-los.

"Oi, hum... sei que não nos falamos há um bom tempo mas eu não sabia pra quem decorrer. Porra, beija-flor quando achei que tudo estava indo bem... quando achei que ia dar certo minha mãe pisou na bola."

Sua mãe? Jake viu sua mãe?!

Clico no próximo recado.

"Ah! Você não sabe, desculpe, bem, eu finalmente decidi enfrentar o passado e voltar a Londres, revi minha família e visitei minha mãe na reabilitação... fizemos ela ficar melhor pra ter alta mas ela decidiu ficar na merda novamente. Vi ela usar drogas e logo depois a vi desmaiada no quarto, seu corpo mole no chão. Caralho, por que ela não muda?!"

Ouço o próximo.

"Oi sou eu, de novo. Puta que pariu não devia estar te ligando."- ele faz uma longa pausa e olho o celular pra ver se não desliguei ou algo assim-"que se foda, tá tudo uma merda e só tenho você pra ligar. Desculpa. Eu queria te ver e acho que... é a coisa que mais preciso agora. Sinto sua falta. Todos os dias."

Sinto meu coração se apertar ainda mais.

"Bem, já que você não pode largar Nova York, eu irei até você. Aliás, não tem porra nenhuma que me prenda aqui nesse país de merda."

Sua voz está totalmente diferente nesse recado e só tenho uma certeza, ele bebeu.

Minhas mãos trêmulas desligam o telefone e não sei o que fazer. Não tem como chegar até ele, ele não pode dirigir bebado.

Olho ao redor em busca de algo... não sei o que, ajuda talvez.

Outro momentoOnde histórias criam vida. Descubra agora