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O sol quente batia nos rostos dos caminhantes daquela manhã. O galo solto do fundo de algum quintal cacarejava em cima do telhado de uma das casas de Hallstatt. As ruelas tortas subiam em uma rua asfaltada e, acima da torre da igreja católica, o sino batia.

Os cachorros corriam pela calçada acompanhando o leiteiro, que tentava espantá-los com chutes e gritos, em vão. Os caninos eram persistentes, quem sabe não ganhariam algum leite?

O leiteiro deixou a motocicleta encostada e desceu. O homem que usava branco até em seu boné carregava pequenos litros de leite, caminhou pela passarela de concreto, cercado pelo jardim, que parecia não ser molhado a tempos. Ao lado, o oposto, um jardim que no momento era aguado por uma simpática senhora de coques.

- Olá, bom dia Sra. Lockwood. - O leiteiro cumprimentou.

- Olá, bom dia Marley, como tem passado? - a senhora, que usava um longo vestido lilás de seda perguntou. Ela virou-se para olhar melhor o rapaz e apertou com os dedos a ponta da mangueira verde, que ocasionou na maior pressão da água, alcançando as plantas mais distantes.

- Bem, graças a Deus! - ele responde, colocando os leites na sacada. - Minha irmã se casou. - Ele revela.

- Não brinca! - a senhora exclamou, abandonando a mangueira e indo até próxima de Marley. - A pequena Lily? Lembro dela quando ela era desse tamanho. - A senhora Lockwood levou a mão até um pouco mais abaixo da cintura. - E já casou? Nossa, mande meus parabéns quando a ver.

- A senhora em pessoa poderá dar, ela virá daqui a uns meses nos visitar. - Informou sorridente.
Antes que a senhora pudesse falar algo, a porta em frente de Marley se abriu.

O homem saiu lentamente, aparentando estar cansado, como se tivesse sido atropelado por uma manada. O senhor abaixou-se devagar, recolhendo os dois litros de leite. Sua roupa, manchada de um vermelho que se encontrava escancarado, e seu olhar, mais vago que qualquer outro.

- Bom dia padre, sua benção. - Marley ergue a mão em cumprimento. O padre ainda abaixado olhou nas mãos do rapaz e levantou-se sem tocá-las.

- Que Deus Pai lhe abençoe, filho. - Abençoou silenciosamente como uma cobra ao rastejar, e como uma raposa adentrou sua casa sem troca de mais nenhum olhar ou palavra.

Marley e a senhora Lockwood pensaram em continuar a conversa, mas o barulho de algo caindo fez o leiteiro quase surtar.

Os cães haviam derrubado as últimas garrafas de leite.

- Não, suas pestes! - reclamou, tentando retirar os seis cachorros que bebiam do leite caído.

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Estava tudo escuro, em todas as direções quase nada podia ser visto. Caminhei para os lados, devagar, tateando a esmo para que não esbarrasse em nada perigoso, fiquei caminhando até, curiosamente, encontrar um espelho caído, todo quebrado, seus pedaços grandes e pequenos exibindo meu reflexo. Uma garota com medo, era o que eu via, estava com frio e medo, mas segui adiante e, por cima dos ombros, observando cada detalhe daquela pequena floresta.

As árvores eram muito altas e próximas umas das outras, e se caso houvesse lua naquela noite, com certeza não a veria. O frio era constante, e o pavor também. Abracei minha jaqueta, pressentindo que o calor que procurava não viria. Meus lábios tremiam descontrolados e percebi que brevemente iria ceder.

Ávido AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora