Prólogo II - O Rugido do Rei Caído

24 3 14
                                    

— Abra os olhos, meu senhor — sussurrou uma voz feminina.

— Ele apanhou tanto que mal distingue o real do inconsciente — zombou uma voz masculina, rindo. — Mas sinceramente, eu não me sentia tão bem há anos. Chega de ordens, chega de regras. Agora, nós estamos no comando... e ele já era.

— Eu os salvei... Eu criei este grupo, cuidei de cada um de vocês. Quando isso acabar, eu matarei todos, um por um... Só então talvez eu morra. Mas até lá, vou viver o suficiente para ter minha vingança. — Eldon murmurou com fúria crescente.

— Olha só, o desgraçado ainda está vivo e consegue falar! Dá pra acreditar? — debochou outra voz masculina, mais grossa — Eldon, aposto que você nem consegue mais nos enxergar.

Eldon abriu seus olhos. Ele era um leão humanoide, de pelagem marrom e juba tão negra quanto a noite. Seus antigos aliados, agora traidores, o carregavam amarrado em direção de uma queda d'água, rindo e trocando insultos.

— Vai ser bom seguir sem você, sabia? Sem seus sermões, sem as histórias de como nos salvou e blá-blá-blá. Finalmente, estamos livres de verdade — disse uma hiena humanoide, segurando o rosto de Eldon com um sorriso malicioso. — Você está acabado, campeão.

— Não, Niguel... Eu não estou acabado. Mas vocês estão. Eu não vou morrer hoje, não me permitirei. E vou voltar... por cada um de vocês. Niguel, a hiena. Dankan, o crocodilo. Angela, a lynx. Drake, o tigre.

— Ameaças engraçadas de quem tá prestes a cair — riu Niguel. — Mas beleza, acho que você tem direito a umas últimas palavras. Adeus, campeão! Hahaha!

Niguel ajudou Drake a arrastar Eldon até a borda do penhasco. No instante em que se preparavam para jogá-lo, os olhos de Eldon brilharam com ferocidade. Com um rugido primal, ele arrebentou as amarras e agarrou Niguel, lutando com ele enquanto os dois despencavam juntos.

Na queda, Eldon usou Niguel como escudo contra o impacto na água. Emergiu da correnteza, arrastando a hiena quase inconsciente para fora. Niguel tossia desesperado, engasgando-se enquanto olhava para Eldon com medo.

— Eldon, perdoe-me! Foi ideia do Drake, ele nos manipulou! — a hiena ria nervosamente, tremendo. — Ele disse que, se fizéssemos o que ele mandasse, seríamos recompensados! Perdoe-me, por favor!

Eldon o observou com olhos frios.

— Eu acredito em você, Niguel. E por sua sinceridade... também vou te recompensar.

Niguel, aliviado, estendeu a mão para Eldon. Num movimento rápido, o leão agarrou-a, puxou Niguel para perto, pegou sua mandíbula e a quebrou com um golpe brutal, diante do olhar horrorizado dos traidores, que fugiram apavorados. Eldon soltou um rugido que ecoou pelas montanhas, sua fúria pura. Mas, ferido, caiu inconsciente logo em seguida.

Quando recobrou a consciência, estava em uma cabana modesta. Uma jovem neko, de cabelos castanhos escuros, cozinhava algo, de costas para ele, enquanto cantarolava.

— Onde estou? Quem é você? — murmurou Eldon, tentando se levantar.

— Sou Alice — respondeu ela, virando-se com um sorriso calmo. — E você deveria estar deitado. Esses ferimentos são graves, até mesmo para alguém como você.

— Como eu vim parar aqui?

— Eu o carreguei o máximo que pude. Quando não aguentei mais, tive de arrastá-lo. Mas, o que aconteceu com você? Não me diga que foi só aquele cara-hiena que te deu tanto trabalho.

— Éramos cinco... Agora sou eu contra três.

Eldon, ignorando a dor, pegou sua camisa de cima da cadeira. Alice o observava com surpresa. Mesmo gravemente ferido, ele se movia como se nada pudesse detê-lo.

— Agradeço por me ajudar, mas preciso ir.

— Só isso? Eu salvei sua vida, e você vai me deixar aqui enquanto se mata de novo? Que ideia mais absurda!

— Eu sou grato por ter me ajudado, mas eu não pedi e nem estava morrendo. Além disso, há pessoas lá fora que podem estar me caçando agora, e eu não posso dar a eles essa vantagem. Você não deveria ter se envolvido me trazendo para cá. Agora, eles podem vir atrás de você também.

— Ótimo, agora me sinto muito mais tranquila — ironizou Alice. — O que faço agora? Espero que venham me matar?

— Ou pode vir comigo — disse Eldon, sem rodeios. — Se souber lutar, será útil ao meu lado. E forte você é, já que me trouxe até aqui sozinha.

— Dois contra três, então?

— Não sei quantos enfrentaremos, mas os três que me traíram são meus. Você cuida do resto. Nenhum deles será burro o suficiente para me enfrentar sozinho.

— Então você vai matá-los? O que eles fizeram com você?

— Não só vou matá-los, eles irão pagar caro por me trair. Lembre-se de minhas palavras.

— E você tem ideia do motivo que os levou a isso?

— Não, mas vou descobrir. E você, se decidiu?

— Estou logo atrás de você.

Eles saíram da cabana, prontos para o que vier pela frente. Eldon não mostrava arrependimento ou dor. Alice, porém, olhou para trás, refletindo sobre a decisão que mudara sua vida. "Minha escolha valeu a pena?", ela se questionou enquanto partiam.

Rebellion: Ascenção do Pesadelo (Lançando Semanalmente)Onde histórias criam vida. Descubra agora