Rebellion: Ascenção do Pesadelo (Lançando Semanalmente)

Prólogo III - O Arauto do Fim

A chuva castigava as ruas da cidade medieval, enquanto as chamas consumiam tudo ao redor. Um rapaz de vestes modernas corria em meio ao caos, seus passos ecoando desesperados nas pedras molhadas. Atrás dele, uma sombra colossal se movia com velocidade aterradora, aproximando-se como a própria morte.

O coração do jovem pulsava tão forte que ele sentia que poderia explodir a qualquer momento. O terror era visível em seus olhos arregalados, e a sua respiração ofegante o deixava à beira de perder os sentidos. Virando abruptamente em um beco, ele se deteve, os pulmões queimando pelo esforço. Ao olhar para trás, seu sangue gelou ao ver a criatura que o perseguia: um lobo gigantesco de pelos negros como a noite, com olhos rubros que pareciam brilhar no escuro.

Antes que pudesse reagir, o monstro avançou, e com um golpe devastador, atingiu seu peito. O impacto o lançou contra a parede de pedra, sua boca se abriu num grito de dor que nunca saiu. Lágrimas escorriam pelo rosto, misturando-se à chuva que caía incessante.

Aos poucos, a forma da besta começou a mudar. O corpo imenso e bestial transformou-se, ganhando uma silhueta humana. Agora, diante dele, estava um homem imponente, vestindo uma armadura com detalhes de lobo. Seus olhos verdes eram a única coisa visível sob o elmo, e com passos lentos, ele se aproximava. As garras metálicas da armadura cintilavam sob a luz da lua, e o som que faziam ao cortar o ar ressoava como um presságio sombrio.

— Eu esperava que o destino me enviasse um oponente à altura da minha grandeza. — A voz do homem era serena, celestial, sem qualquer traço de remorso ou urgência. — Em vez disso, recebo uma criança assustada, tremendo com o que espreita nas sombras além da luz.

— Quem é você? O que quer de mim? — perguntou o jovem, a voz trêmula enquanto pressionava o ferimento no peito, tentando se erguer.

— Trevor teve uma visão do fim dos tempos. Buscou o oráculo e recebeu dele um artefato que o guiaria até aquele que poderia mudar o curso do destino. Dentro desse objeto, senti sua presença. — O homem parou diante do rapaz, os olhos verdes cintilando sob o elmo. — Neste exato momento, não sou o único à sua caça. Há outros lá fora que o procuram, e eles não permitirão que cruze a linha entre seu mundo e o nosso. Mas devo dizer, estou decepcionado. Esperava uma ameaça... real. Mas o que vejo é apenas um garoto assustado. Stephan... será você mesmo o salvador? Ou o oráculo perdeu sua visão?

— Oráculo? Destino? Fim do mundo? — Stephan gritou, a mente à beira de um colapso. — Eu não sei do que você está falando! Não conheço ninguém chamado Trevor, e menos ainda tenho medo de pesadelos ridículos! Isso tudo é... absurdo! Nada disso pode ser real!

A chuva cessou. As labaredas que dançavam ao redor congelaram no ar. Tudo, exceto Stephan e o homem, ficou suspenso no tempo. O jovem tremia, tentando processar o que estava acontecendo, enquanto o homem diante dele parecia ligeiramente divertido, com um brilho de satisfação nos olhos.

— Nightmare é meu nome. — A criatura riu, uma risada fria e distante, antes de sua armadura se fundir com seu corpo, transformando-o agora em um lobo humanoide. — E você está enganado. Eu não sou um simples pesadelo.

Num movimento súbito, Nightmare atacou novamente, suas garras rasgando o peito de Stephan. A dor foi tão intensa que tudo ao redor se apagou. Quando o jovem abriu os olhos novamente, estava de volta ao seu quarto, suado e ofegante. O vento frio agitava a cortina da janela, e uma neblina espessa cobria a paisagem do lado de fora.

Ele se deitou, tentando controlar o pânico que o tomava. "Foi só um pesadelo... apenas um sonho...", murmurou para si mesmo. Mas algo estava errado. Ao puxar o lençol, Stephan notou o tecido encharcado de sangue. Horrorizado, ergueu o cobertor e viu que seu peito, onde o lobo havia o cortado no sonho, exibia feridas que estavam lentamente se fechando.

— O que está acontecendo? — Ele sussurrou, o terror começando a dar lugar à confusão. Depois de um tempo, o cansaço o venceu e ele adormeceu novamente, dessa vez sem sonhar.

Na manhã seguinte, o despertador tocou às 6:43. Stephan se levantou e começou sua rotina, tentando ignorar o que havia acontecido. O rádio tocava baixinho enquanto ele se arrumava, a cafeteira borbulhando ao fundo.

— Bom dia, ouvintes da 76.0. Fiquem ligados para a previsão do tempo. John, é com você. — A voz do radialista soava normal, mas Stephan não conseguia se livrar da sensação de que algo estava terrivelmente errado.

— Obrigado, Bruno. Uma neblina densa cobre a cidade desde a noite passada, e embora alguns especialistas acreditem que seja resultado do derretimento das calotas polares, nada foi comprovado...

Stephan desligou o rádio. "Preciso parar de pensar nisso", disse a si mesmo. Mas ao abrir a porta para sair, um arrepio percorreu sua espinha. Uma voz feminina, suave como um sussurro, parecia falar diretamente em seu ouvido.

— Não...

Ele olhou ao redor, procurando a origem da voz, mas a casa estava vazia. Trancou a porta e deu alguns passos para fora, mas novamente ouviu o sussurro.

— Você deveria ficar em casa...

Stephan arrancou os fones de ouvido e olhou ao redor, o coração acelerado. "Estou ficando louco", pensou enquanto tentava afastar os pensamentos sombrios e seguir seu caminho.