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Kagura estava em frente a porta de Gintoki e travava uma batalha interna. Deveria ou não entrar no quarto de seu pai terráqueo? Em ocasiões normais, entraria sem hesitação e exigiria dormir com o mais velho, mas agora que sabe que a pessoa dentro do corpo dele era seu rival e amor, entrar naquele quarto estava sendo a coisa mais difícil do mundo. 

O barulho do trovão foi o que trouxe a garota de volta de seus devaneios. Seu pesadelo ainda era vívido em sua mente e nenhum sádico no mundo superaria a angústia que sentia quando sonhava com sua família. Estava começando a considerar boa a ideia entrar naquele quarto.

Com um longo suspiro, Kagura decidiu cruzar essa porta. Abriu a mesma com cuidado e andou calmamente até o platinado que dormia tranquilamente. Engoliu em seco pensando se valia a pena estar ali e quando estava pra desistir, sua mente acusou "Você já dormiu com ele antes de saber que ele era o Sádico, qual é a diferença agora?" A diferença é que agora ela tinha consciência de que ele era a única pessoa que ela não queria que visse seu lado frágil e infelizmente ele já havia visto. "Bom, se estamos na chuva, vamos nos molhar." Pensou se dando por vencida.

Bufou alto, frustrada com seu pensamento, acordando o platinado que deu um pulo de susto ao ver a garota ao seu lado. Nem mesmo ela percebeu que o barulho tinha sido tão alto.

Sougo com o pouco de consciência por conta do sono, tentou discernir se o que via era a realidade ou resquícios do sonho que estava tendo até ser acordado.

-Pesadelo de novo?- Perguntou com a voz rouca de sono. Kagura gaguejou antes de responder.

-Sim.- Disse simples, mas se condenando por ter gaguejado antes de falar. Sougo se afastou da ponta da cama e estendeu os braços para que ela se aconchegasse no abraço dele. 

-Vem cá.- Chamou com as mãos ainda estendidas e Kagura se deu por vencida, sabendo que não conseguiria dormir por conta própria naquela noite. Sougo a abraçou e deixou um beijo no topo de sua cabeça. - Fica tranquila, eu tô aqui.- A abraçou com mais força e voltou a dormir.

"Por que você faz isso?! Nem o Gin chan age dessa forma, para de me fazer gostar ainda mais de você, seu bastardo." Pensou irritada, mas ao mesmo tempo sentindo-se segura e aquecida naquele abraço. Com esse último pensamento, Kagura se permitiu dormir. Era estranhamente confortável estar abraçada a ele.

...

Na manhã seguinte, Sougo foi acordado com batidas frenéticas na porta e gritos estridentes que logo reconheceu como seus. Bufou irritado por ter sido acordado e na base do ódio, se levantou. Sem nem ao menos trocar de roupa, Sougo se dirigiu até a porta com passos pesados, mostrando toda sua insatisfação e era bom que a pessoa no outro lado da porta tivesse algo muito importante para falar em uma hora tão cedo.

-Espero que tenha um bom motivo para me acordar.- Disparou com mal humor matinal. Gintoki apenas o olhou com um olhar de peixe morto e braços cruzados.

-Pensei que ficaria feliz em saber que a máquina tá pronta e podemos voltar ao normal.- Na mesma hora em que Gintoki terminou a sentença, todo o sono que ainda habitava em Sougo desapareceu. 'Podemos voltar ao normal' Escutar essa frase parecia um sonho e o platinado se questionou se estava realmente acordado. 

-Está falando sério?! Vamos mesmo voltar ao normal?- Perguntou com certo desespero na voz. Precisava resolver seus assuntos pendentes.

-Mais sério impossível, vá se arrumar.- Disse olhando o pijama que ele usava. Sem esperar mais nenhum minuto, Sougo fechou a porta na cara de Gintoki e correu de volta para o quarto. Parou no lugar quando viu que Kagura ainda dormia, então calmamente pegou suas roupas. Foi para o banheiro para não correr o risco da rosada acordar e ver algo não muito agradável. 

Quando se viu pronto, voltou ao quarto e se ajoelhou ao lado de Kagura. Deixou um beijo na testa dela com ternura, vendo seu rosto sereno.

-Eu volto logo, China, mas como eu mesmo.- Disse acariciando os fios rosados dela.- Tente não me odiar quando eu te contar a verdade.- Pediu mais para si mesmo e saiu do quarto.

Kagura riu anasalado e abriu os olhos.

-Você tem que parar de falar as coisas para mim achando que eu tô dormindo.- Se sentou na cama coçando os olhos.- Se bem que foi assim que eu descobri isso.- Riu com a constatação. " 'Volto logo', 'como eu mesmo', 'tente não me odiar quando eu te contar a verdade' Então ele arrumou um jeito de voltar ao normal." Pensou afastando o edredom do corpo. - Vamos ver o que ele vai falar na defesa dele antes de eu quebrar aquela cara de Chihuahua maldito.

Sougo e Gintoki andavam apressados até a oficina de Gengai ansiosos por retornarem a seus devidos corpos. 

-Qual a primeira coisa que vai fazer quando voltar ao normal?- Perguntou Gintoki feliz com a possibilidade de voltar a sua vida antiga, sem o vice comandante demoníaco no seu pé.

-Vou ter uma conversa séria com a China.- Ao contrário do que Sougo imaginou, Gintoki não ficou preocupado ou tão incomodado como antes, ele parecia até feliz e isso o intrigou.

-Boa sorte.- Riu imaginando a surra que ele levaria em algum momento naquela conversa.

Parecia que quanto mais ansiosos estivessem, mais o caminho se estendia. Quando finalmente chegaram à oficina, encontraram o velho conversando com um robô gigante. Apesar de acharem estranho, nada comentaram, pois a necessidade de destrocarem os corpos era maior que qualquer piada ou pergunta que pudessem fazer.

-Vejo que estão ansiosos.- Observou a euforia da dupla. - Bom, podem entrar nas cápsulas. - Disse apontando para as duas cápsulas que estavam acopladas a uma máquina quadrada.

Não foi preciso um segundo comando, ambos foram para as cápsulas e Gengai foi atrás, fechando as duas.

-Certo, isso pode ser um pouco desconfortável.- Avisou ligando a máquina.- Vai levar alguns instantes para a máquina aquecer. - Informou ligando uma segunda alavanca, fazendo um barulho preencher o local. 

"Se isso não der certo e acabar pior, eu mato ele." Pensaram os dois homens trocados. 

O barulho se intensificou e uma luz esverdeada começou a ser emitida em intensidade cada vez maior.

Uma corrente elétrica passou pelo corpo deles, enquanto a luz cegava a todos os presentes na oficina. 

Trocados (Okikagu)Onde histórias criam vida. Descubra agora