Prólogo

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    Megan estava deitada na sua cama abraçada em seu bichinho de pelúcia se perguntando como sua vida tinha parado nesse estágio. Quer dizer, sua vida estava perfeita, tinha uma banda maravilhosa que tinha tudo para dar certo, estavam até começando a fazer shows com amigos incríveis; possuía tudo isso e mais um pouco. Agora ela tinha menos de 45 horas para terminar de embalar suas coisas e entrar em um avião para a sua nova vida. Megan queria gritar, bater em alguma coisa ou dar um tiro em alguém, qualquer coisa estava valendo.

 - Marco? – Perguntou alguém batendo na porta do quarto, interrompendo os pensamentos da garota.

- Polo. – Meggie respondeu com um suspiro. Era Anne, invadindo o quarto com um copo descartável. – Pensei que você não pudesse vir - Megan se ajeitou na cama, sentando de pernas cruzadas.

- Eu dei meu jeito – Anne deu de ombros.

- O que está fazendo aqui?

- Eu só tenho algumas horas com minha melhor amiga, posso aproveitar essas horas sem ser questionada? – Anne disse em um tom divertido que fez Megan sorrir. – Como está se sentindo?

- Nada que Shakespeare não transforme em uma boa peça.

- Ok, Lolerai, toma esse café – a garota ergueu o copo de plástico.

    E nesse momento Megan percebeu que não teria Anne mais por perto para entender suas referências. Claro que teriam ligações, mas até quando esse contato a distância ia durar? As duas amigas mal se falavam pelo celular morando na mesma cidade, imagina morando no outro lugar do mundo – claro que Megan sabia que só era algumas horas de trem para chegar em Paris e vice e versa, mas parecia mais dramático se falasse dessa maneira.

- O que tem aqui? – Megan pegou o copo.

- Café com tampa tripla, espuma e unas cositas más.

   Ela olhou desconfiada para Anne e depois encostou o nariz no café.

 - Botou bebida no meu café?

- Talvez....você só irá descobrir se tomar essa deliciosa bebida.

- Aprecio a sua tentativa de me embebedar - respondeu, colocando a bebida sobre a cabeceira da cama.

   O silêncio se fez presente por um tempo.

- Você está bem? – Perguntou Anne com cuidado.

- Não. – Megan suspirou. –  O pessoal da banda ainda estão com raiva de mim?

    Os integrantes da banda de Megan ficaram furiosos com a notícia tanto quanto ela, não respondiam suas mensagens e não aceitavam suas ligações.

- Ah....- Anne fez um som estranho juntamente com uma careta, fazendo Megan franzi o cenho.

- O que foi?

- Você vai ficar brava.

- Não vou – de repente, Megan sentiu que a ansiedade queria participar da conversa.

- Tá – Anne demorou alguns minutos antes de voltar a falar, e aquilo corroeu Megan por cada milésimo de segundo. – O Tom... ele está procurando outra guitarrista.

  Megan abriu a boca em surpresa, não conseguia acreditar no que tinha acabado de ouvir. Ficou pelo menos dois minutos parada pensando se foi aquilo mesmo que ouvira.

 - Uma....uma....não acredito! – Berrou ela. - Não fazer nem uma semana!

- Foi exatamente isso que eu disse. Ele argumentou com “não podemos esperar que uma guitarrista caia do céu". - Completou Anne.

- Aquele filho da puta! Eu odeio ele. – Megan se levantou e começou a andar de um lado para o outro, como uma barata.

   A garota desesperada e frustrada, respirou fundo e olhou novamente para a amiga que parecia nervosa sem saber o que fazer diante daquela situação.

 - Está tudo bem, está tudo bem – tentou se tranquilizar. – Foda-se ele e aquela banda de merda, eu não ligo.

- Não está parecendo que você não liga muito – Anne levantou e ficou de frente pra amiga. – Calma, vai dar tudo certo.

- Eles não tinham esse direito.

- Claro – concordou a outra olhando para o relógio no pulso. – Eu preciso ir, Meggie. Vou dar uma de Mary Poppins hoje.

- Quem é a criança?

- Luke Rochette. Meu primo de sete anos, lembra?

- Como não lembrar? - Megan deu um risinho irônico. - Ainda tenho pesadelos e receio de usar pasta de dente de outra marca.

   Anne parecia tensa.

- Eu queria poder ficar mais....

- Está tudo bem – Megan deu um sorriso de lado. – Algum conselho antes do último ato?

- Às vezes, precisamos parar de analisar o passado, parar de planejar o futuro, parar de descobrir exatamente como nos sentimos, e apenas ver o que acontece.

- Quem disse isso?

- Carrie.

   Megan olhou para a amiga como se aquele nome não fosse nada.

- Fala sério Megan! Sex and the City? A gente fez maratona a dois meses atrás, você até disse que amava a Carrie Bradshaw! - A loura exclamou indignada.

- Mas eu dormi noventa e nove por cento do tempo, por isso então apenas concordei!

   As duas ficaram se olhando por um bom tempo antes de cairem na gargalhada.

- Vou sentir falta disso – disse Megan triste.

- Podemos brigar pelo telefone, ai eu posso ver como me saio como atriz - a amiga se gabou.

- Mal posso esperar.

   As duas se abraçaram pelos minutos que sobraram. Megan aproveitou cada segundo daquele abraço. Por fim, as duas prometeram ligar todas as noites ou quando pudessem, e logo depois Anne foi embora com seu café alcoolizado em mãos.

   A garota aproveitou que já estava em pé para fazer o resto das coisas e organizar algumas fotos. O café especial da Anne ajudou muito.

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   Megan estava a cinquenta minutos de entrar no avião e mudar tudo para sempre. Nesse meio tempo torcia para a amiga Anne chegar estilo Regina George e a tirasse de lá. De repente, a ideia de ser foragida não parecia tão ruim quanto o futuro cruel que a esperava.

   Anne ligou três horas depois que saiu da casa de Megan avisando para a mesma que tentaria chegar no aeroporto para dar o último abraço. Deu até detalhes bem específicos de como elas podiam chorar e cair no chão, assim talvez os pais de Megan reconsiderariam aquela loucura toda, mas a garota não apareceu. Megan pensou que poderia ter acontecido algo com Anne, mas logo veio a sua mente que a garota não conseguia chegar nos horários e nem ser pontual, um dos piores defeitos dela.

   Quando Megan estava preste a entrar para embarcar, uma voz de longe gritava seu nome. Anne chegou ofegante e cumprimentou os Mckenna antes de se virar para a amiga e a puxar para um abraço apertado.

- A ideia do abraço ainda tá valendo? – Sussurrou no ouvido de Megan.

- A esse ponto seria uma situação humilhante.

- Então é isso?

- Acho que sim.

   Um silêncio percorreu entre elas. Ambas queriam chorar mas se recusavam a deixar a partida de Megan ser triste. O abraço foi interrompido pela Sra. Mckenna dizendo que não poderiam demorar mais um minuto. E dessa forma as duas desfizeram aquele abraço dramático e se entre olharam, ambas com os olhos cheios de água esperando que nenhuma das duas estivesse olhando para deixa-las cair.

   Já sentada no avião, Megan continuou olhando pela janela até que adormeceu em algum momento da viagem e só acordou com seu pai lhe chamando, dizendo que já tinham pousado.



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