Capítulo 12: 28/04 - Uma live

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Uma live

Fiquei a manhã toda tirando fotos com a minha mãe e depois fomos almoçar juntas, o sorriso no rosto da minha mãe era tudo para mim nesse momento. A tarde aproveitei sua companhia para andar nas ruas de São Paulo. Minha vida era outra agora, e ela sabia disso, mas algumas coisas nunca mudam... nossa relação como sendo uma dessas coisas. 

À noite, já em casa, fui matar uma saudade que tinha. Abri o IG do Rodolffo e vi sua última publicação: uma foto sua, sentado em uma cadeira, jaqueta de couro, um charme, lindo demais, com a legenda: "Tô aqui sentado esperando seu comentário :P". Comecei a rir, que legenda era essa? Me deu vontade de comentar: "o meu?" Mas no final decidi nem comentar, nem curtir.

Havíamos conversado apenas pela manhã. Um bom dia. Hoje estávamos em uma competição de quem demonstrava menos interesse. Bom... eu não estava competindo, mas também tinha medo de dar moral demais e ele achar que eu estivesse apaixonada ou algo do tipo. A realidade não é essa. A realidade é que eu estava bem com as coisas do jeito que elas estavam: ficar quando desse certo, manter o contato e a amizade.

Mais tarde, resolvi fazer uma live no Instagram, cujo principal intuito era me conectar mais com meus fãs, responder algumas perguntas deles, quem sabe chamar alguns para conversar. Higor sentou-se ao meu lado e colocou um JBL para tocar. Peguei um copo de cerveja, sei que era quarta feira, mas eu estava precisando. Era só um copo, e eu tinha a companhia do Higor e da minha mãe.

Durante a live, me perguntaram sobre projetos futuros, se eu ia fazer algum canal do youtube, respondi que talvez.

– Ó a música aqui. – Falou o Higor. Começou a tocar uma música do Israel e Rodolffo, "só de sacanagem". Esse era o nome da música, mas também definia bem a sacanagem que era sua música tocar enquanto eu estava em uma tentativa de não pensar nele. Comecei a dançar ao som da música, enquanto bebia um copo de cerveja.

– Galera, vamos torcer pro Gil ficar, eu sou Team Gil no BBB. – Continuei lendo os comentários na live. – Deixa eu ver quem mais ta perguntando aqui...

Continuei lendo e respondendo o pessoal, até aparecer um comentário inesperado. O Rodolffo havia aparecido na live e deixado uma pergunta: "Você e o Rodolffo já fizeram as pazes?". Comecei a rir assim que vi, se queria chamar minha atenção, conseguiu.

– Olha o Rodolffo! Tô escutando aqui sua música ó. – E comecei a cantar Só de Sacanagem com a caixinha de música JBL tocando do lado. Será que ele queria entrar na live?

– O Rodolffo deixa eu te chamar aqui. – Falei, enquanto convidava-o para a live. – Tô chamando, não sei se vai aceitar. – E não sabia mesmo, pode ser que ele estava com alguém em Fortaleza, ou estava ocupado. Valia a tentativa.

Ele aceitou o convite, e apareceu na tela do meu celular: Sorrindo, deitado na cama, lindo, só para variar... naquele momento, não liguei para o que as pessoas iriam falar. Éramos adultos e bem resolvidos, certamente as pessoas iriam ter que aceitar nossa amizade, uma hora ou outra. Mas o que a gente ia conversar sobre nessa live de 50 mil pessoas?

– Olha ele, tô aqui escutando vocês. – Falei, sorrindo enquanto o admirava.

– Aí eu botei fé Sarita, aí eu botei fé, escutando Israel e Rodolffo.

– Ta em fortaleza ainda? – Perguntei, como se eu já não soubesse a resposta.

Ele respondeu que estava, com a cara lerda de sempre. Para retribuir o cinismo, perguntou se eu estava em São Paulo, e disse que gostava muito daqui.

– Vou por um filtro aqui. – Falou.

– Eu também tô de filtro, por que a gente não é obrigada né.

– Linda e poderosa. – Respondeu ele, com um sorriso. Eu não quis retribuir o elogio, acho que seria meio demais. Em vez disso, sorri, encostando a cabeça no ombro.

– A gente tenta ne, só na tentativa. – Fui simpática. Bebi um gole da minha cerveja.

Conversamos mais um pouco sobre Fortaleza, sobre São Paulo, uma conversa breve.

– E aí gravou música nova pra galera? – Perguntei, novamente já sabendo a resposta. Se eu fosse perguntar coisa que eu não sabia, a conversa ia tomar outros rumos. "Você tá ficando com alguém ai em Fortaleza?". Melhor não.

– Gravamos uma música topíssima ontem com o Safadão, é... a música se chama... como é o nome – Será que tinha esquecido o nome da música mesmo ou queria que eu respondesse, por que afinal, eu já sabia. Olhou para mim, que não falei nada. Olhou para o lado. – Ai agora fodeu.

Escutei sua irmã Iza rindo ao fundo.

– Faz amor comigo só hoje, é o nome. O refrão é assim ó. – E começou a cantar a música, que eu já sabia de cor e cantei junto. Era a música que ele havia me falado sobre no dia que ele estava em SP.

– Ta vendo aí, tô lembrando da letra da música. – Falei, assim que ele terminou de cantar.

– Aprendeu já.

– Aprendi. – Sorri. Como tinha aprendido? Amigos compartilham músicas com outros amigos. E muito bons amigos compartilham músicas que nem haviam sido lançadas ainda. É sobre isso. – Já sei até a dancinha do Tiktok. – E comecei a cantar e dançar a parte do refrão.

– Uai ocê já aprendeu mesmo o refrão uai. Ocê aprendeu da onde? – Perguntou, cínico e com a cara muito lerda.

– Aprendi um dia aí que me mandaram essa música aí. – Falei, dando uma piscadinha. – Culpa da Iza. – Ele riu.

Conversamos mais um pouco, e depois ele desligou pois tinha que sair com uns amigos ou algo do tipo. Continuei na live por mais uns minutos, mas logo desliguei também. Fiquei pensando, será que falamos algo de mais? Acho que não. Disfarçamos bem, ao meu ver.

– Foi tranquilo né? – Perguntei ao Higor, que estava ao meu lado.

– Foi sim. O pessoal vai entender que vocês são bons amigos... sabia até a música nova dele antes mesmo dela lançar, mas não deu a entender nada mais que isso. Bons amigos... – E sorriu. Isso tirou um pouco a minha preocupação.

Meu celular apitou: notificação do Rodolffo. Abri sua conversa.

"Que isso em Sarita, vc tava linda demais hoje bastiana. Saudade do meu esqueminha preferido."

Sorri ao ler essa mensagem e já respondi:
"Já sou o preferido? Hmm, gostei".

– Vai ser fácil disfarçar que vocês tão ficando, difícil vai ser controlar esse coraçãozinho canceriano... – Comentou o Higor, que me observava sorrindo.

– Esse coração aqui não é fácil de entrar assim não, as coisas não são funcionam assim não. – Balancei a cabeça em negação.

Entao quer dizer que eu sou o seu esquema preferido, então.

Sentimento divididoOnde histórias criam vida. Descubra agora