A mão que tocava meu ombro era macia e pesada pelo modo como a pessoa segurou meu ombro. Meus olhos se encheram de lágrimas. Parecia que eu estava em um buraco que não tinha fundo e que eu caía a cada segundo. Olhei para trás e nunca vi olhos tão lindos em toda minha vida. Era um garoto alto, bronzeado, a cor dos olhos dele parecia ser hipnotizante, era um azul claro comparado a cor do céu. Me encantei por cada detalhe do seu rosto, ele parecia ter uma pele macia, seus cabelos eram totalmente pretos e seus lábios eram carnudos e finos. Ele me olhava de um jeito angelical e carismático. Senti ele colocar a outra mão em meu outro braço e começou a acariciá-lo.
!: - Eu vi o que aquele cara ia fazer com você. Está tudo bem agora. - o garoto de olhos claros disse com uma voz aliviada, mas também, preocupada. - Quero dizer, você está bem? - ele concluiu.
- Sim. - encolhi meus braços. Olhei pro céu e estava começando a ficar nublado e frio. - Estou.
!: - Não é o momento certo, nem o lugar certo, nem a hora certa. - uma voz tranquila, soou como uma melodia, boa de ouvir e calma. - Mas eu sou o Lucca. - ele sorriu. Pude ver as covinhas dele que davam mais desenho ao seu rosto.
- Me chame de Lua. - disse sorrindo sem mostrar os dentes.
Lucca tirou suas mãos dos meus braços e olhou pro céu, parecia pensar o mesmo que eu. Iria chover muito. Olhei pela rua, vi uma padaria ao final da calçada e comecei a caminhar até lá.
- Onde vai?! - Lucca perguntou.
Sorri, acenei para Lucca e comecei a correr em direção à padaria. Olhei para trás e vi Lucca correr também, vi o céu escurecendo cada vez mais, comecei a sentir gotas caindo sobre mim. A padaria parecia estar aberta quando vi de longe, mas estava fechada quando vi de perto. Senti os braços de Lucca me agarrarem, meu coração acelerou no mesmo segundo, meu rosto parecia pegar fogo. Ignorei o que senti. Fiquei observando o portão da padaria, me aproximei, olhei mais de perto e percebi que tinha uma brecha aberta. Levantei o portão tentando não fazer barulho, foi totalmente em vão. Abri, observei o local, um breu daqueles de ser impossível ver alguma coisa. Fui entrando e Lucca puxou minha mão.
- É perigoso! - ele disse preocupado.
- Perigoso é ter medo! - sorri.
Continuei andando, senti Lucca vindo atrás de mim, vi uma escada que parecia dar em um sótão. Segurei no corrimão e fui descendo a escada lentamente, ouvi barulhos de copos se quebrando, coisas sendo arremeçadas. Desci mais um degrau e de repente, tudo ficou silencioso, a única coisa que conseguia ouvir era minha respiração e de Lucca que parecia estar apavorado.
Cheguei ao sótão, segurei na mão de Lucca o mais forte que conseguia, não estava enxergando nada. Dei um passo e tentei ver se tinha alguma claridade ali e só vi uma janela no final do sótão e parecia estar bem longe. Prossegui andando, ouvi facas sendo afiadas no breu, meu coração acelerou em menos de um segundo. Lucca correu me puxando, forcei-o a parar de correr, porque ouvi pedras sendo atiradas na janela com força. Lucca correu e no mesmo segundo, o vi cair no chão.
Me abaixei e vi um copo quebrado do lado da cabeça de Lucca e vi sangue escorrendo por todo chão. Observei tudo ao meu redor, vi a janela que dava claridade e uma escada, sem pensar duas vezes, levantei Lucca que estava inconsciente e andei com ele nos meus braços. Arrastei-o até a escada, ouvi cadeiras serem derrubadas, levantei o corpo de Lucca mais rápido e subi as escadas que davam em direção a uma porta. Girei a maçaneta. Trancada. Perfeito, nunca pensei que teria tanto azar na minha vida quanto hoje. Um garoto lindo nos meus braços perdendo sangue da cabeça, pessoas me perseguindo, um sótão que não tem saída, nada pode ficar pior.
Interrompi meus pensamentos quando vi a maçaneta girar lentamente. A porta abriu. Um breu. Que novidade!
Puxei o corpo de Lucca e pisei no último degrau, dei impulso e quase cai, porque não era um degrau e sim, um buraco.
Ouvi passos vindo de trás da escada, olhei e vi uma senhora, o rosto dela sangrava e ela segurava uma faca pontuda grande e afiada. Piscava os olhos lentamente conforme olhava pra mim e se aproximava aos poucos.
- Você não tem saída agora! - ela disse convicta com um tom de certeza, sua voz era rouca e alta, voz de velhinha que rouba doce de criança.
- Será?! - Lucca disse enquanto se levantava.
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O medo está em você.
AcakÀs vezes, nem tudo é do jeito que pensamos. Tudo muda em questão de segundos, mas sabemos que existe um medo dentro de você. https://8tracks.com/luana-l-89685/omeev/edit