O medo se espalhava por seu corpo em ondas, o pânico crescendo a cada segundo correndo por todos os seus poros como labaredas de fogo. Sabia exatamente o que iria acontecer nos próximos segundos e, não importava o quanto lutasse, o quanto tentasse impedir; nada poderia fazer para evitar.
Seus belos olhos castanhos estavam presos no Caldeirão, conseguindo ouvir os gritos desesperados e aterrorizantes de suas irmãs ao fundo enquanto lágrimas banhavam o seu rosto alvo com traços delicados. Aquele momento estaria para sempre gravado a ferro em sua mente, enraizado em seu âmago de uma maneira tão profunda que nenhuma outra pessoa seria capaz de compreender. Seu corpo enfim conseguira sair do torpor, reagindo ao chegar ainda mais perto, de alguma forma, sentindo o poder que emanava das águas turvas.
Não, de novo, não posso passar por isso. Apenas me tirem daqui.
Tentou implorar, se debatendo furiosamente nos braços de seus captores. Seu corpo foi erguido, precisou apenas que um de seus pés tocasse a superfície escura da água para que um grito agonizante rasgasse através de sua garganta, dor e escuridão como nunca antes experimentada a preenchendo com o contato simples.
Seus olhos carregados de medo e pavor se desviaram de seu destino, pousando sobre o belo homem ensanguentado no chão, seus olhos cor de avelãs eram selvagens enquanto a encaravam com sombras explicitas de dor, embora conseguisse identificar uma outra emoção presente naqueles mesmos orbes: determinação intrinsecamente ligada ao desespero, o que fez com que seus dedos se movessem minimamente em sua direção, seu corpo arqueando dolorosamente em reação ao veneno do rei meio segundo depois.
Ele batalhava bravamente por sua vida, tardiamente percebendo que também lutava com unhas e dentes pela sua em uma tentativa de livrá-la de seu destino inevitável. Seus olhares se cruzaram durante aqueles poucos segundos que pareceram durar toda uma eternidade, intensamente presos um no outro até que seu corpo fora empurrado sem cerimônias nas águas misteriosas do Caldeirão, a Escuridão envolvendo-a por completo.
O grito que saíra de sua garganta fora alto o suficiente para acordar todas as pessoas existentes na casa quando Elain sentou-se abruptamente na cama, seus longos fios castanhos grudados em seu rosto completamente suado, sua respiração em ondas rápidas, ofegante. Enterrou o rosto nas palmas de suas mãos, soluços fazendo seu corpo espasmar enquanto lamúrias ecoavam baixo por seus lábios.
— Eu não aguento mais. Vou enlouquecer com todos esses pesadelos. — Murmurou para o vazio, puxando uma longa inspiração em uma tentativa de acalmar seu corpo trêmulo. Enxugou as lágrimas que escorriam por seu rosto asperamente, cansada de reviver as mesmas cenas todas as noites, mesmo após meses.
Quando sentiu que havia reavido o controle novamente sobre si, colocou sobre os ombros um grosso casaco e saiu de seu quarto, descendo as escadas da belíssima casa onde agora morava com Feyre e seu companheiro, seus pés a guiando para o único lugar onde conseguia se sentir em paz; aquela sendo uma das ínfimas coisas que não haviam conseguido roubar de si naquele maldito dia.
O Jardim.
Com os pés descalços, alcançou a varanda, descendo cuidadosamente os degraus até que seus dedos sentiram a grama e, então, a terra úmida. Uma das vantagens da transformação era que seu olfato havia ficado extremamente apurado, conseguindo sentir o aroma vindo de suas flores de uma maneira que jamais imaginara ser possível.
Mesmo estando com seus olhos fechados, ela conseguia distinguir facilmente todos os perfumes que dançavam no ar frio da noite: lírios, prímulas, papoulas, begônias, entre muitas outras. Com o passar do tempo, seu coração foi se acalmando, um lento sorriso se formando em seus lábios carnudos enquanto adentrava um pouco mais no jardim, seus olhos ainda fortemente cerrados, apurando, assim, todos os outros sentidos. Fora exatamente naquele momento em que sentira sua presença, seu cheiro pungente era uma mistura rara de amêndoas, sândalo e de algo muito antigo e obscuro, incapaz de nomear, contudo, que unia-se em harmonia com as demais fragrâncias, tornando-o único, inconfundível.
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Flowers and Shadows - HIATO
Fanfiction"Então, eu fui cuidadosamente para o jardim para ver você. Ficamos calados, porque estaríamos mortos se eles soubessem, então feche os olhos, fuja dessa cidade por um tempo. Porque você era Romeu, e eu era uma carta escarlate e disseram: 'Fique long...