ShortFic - IV

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Elain despertou com o som de gritos vindos do corredor próximo ao seu quarto. Resmungou inaudivelmente uma maldição ao puxar o lençol azul claro até a altura de sua cabeça, cobrindo-a completamente. Virou-se para o outro lado com a intenção de bloquear as vozes ao seu redor; com o passar do tempo, havia se tornado boa naquele movimento.

Contudo, as imagens da noite anterior inundaram sua mente sem aviso e ela sentou-se na cama abruptamente, ofegante. Soltou um gemido de frustração ao se lembrar de como havia se deixado influenciar por seu poder; como havia permitido que ele assumisse completamente o controle para que enfrentasse sua irmã mais velha; a maneira como havia agido com Lucien e por fim, mas não menos importante, a proteção agressivamente possessiva que havia adotado para com Azriel diante de todos os presentes.

Não acredito que me deixei influenciar por você!

Grunhiu mentalmente, ainda conseguindo sentir os resquícios da autossatisfação que seu poder sentia por seus atos, parecendo imperturbável em seu sono nas profundezas de seu subconsciente.

Apurou sua audição aguçada para que pudesse captar qualquer som vindo de fora do seu quarto, estourando assim a bolha isolada que havia criado para si mesma. Contribuindo ainda mais para o aumento exponencial de seu desespero, ouviu a voz impossivelmente raivosa de Lucien, sendo imediatamente seguida pelo tom desdenhosamente impassível de Azriel sobrepondo a tentativa apaziguadora de Feyre. Sem um segundo pensamento, pulou da cama deselegantemente e escancarou a porta sem aviso, deparando-se com a cena desagradável que se desenvolvia no corredor.

― Deixe-me passar. Ela é minha parceira! ― O ruivo rosnou, sua expressão sendo completamente dominada por ódio genuíno. Contudo, o espião mantivera-se imperturbável em sua posição no meio do corredor, com suas asas semi-abertas e seus braços cruzados sobre o peito.

― Não dará mais um passo à frente, seja ela sua parceira ou não. ― Diferentemente do outro feérico que parecia prestes a perder toda e qualquer centelha de controle, o illyriano mantinha consigo uma aura de calmaria letal e perigosa.

Elain nem mesmo ousou duvidar.

Assim que o som de seus passos se fez ouvir no corredor e sua respiração ruidosa os alcançou, todos voltaram-se em sua direção automaticamente, fazendo-a estancar atordoadamente em seu lugar sem saber ao certo como deveria proceder dali em diante. Contudo, uma certeza afundou em seu peito.

Ela era a única culpada por aquela situação.

Seus olhos castanhos buscaram os de sua irmã em desespero mudo, notando que ela mantinha uma mão firme sobre o braço de seu parceiro como se tentasse dissuadi-lo de avançar ou para impedi-lo de cometer a estupidez de atacar o espião. Alguns segundos de silêncio incômodo se estenderam após sua repentina aparição, que fora quebrado pelo aparecimento sutil de um cheiro no ar que não passou despercebido por seus olfatos aprimorados.

Elain contraiu-se visivelmente, inconscientemente dando um passo para trás enquanto desviava o olhar para Lucien que, pela primeira vez, parecia completamente inebriado por sua presença. Seus olhos estavam presos em seu colo ao passo em que engolia com dificuldade sua própria saliva, o cheiro característico de sua excitação tornando-se pungente no ambiente, fazendo com que um calor atingisse suas bochechas coradas devido a situação constrangedora.

Um rosnado irritadiço escapou da garganta de Azriel que, mais rápido do que qualquer um pudesse prever, caminhou até a jovem de modo que suas asas cobrissem completamente seu corpo protetivamente mesmo que não a tocassem, mantendo seus olhos no ruivo que tivera a decência de parecer envergonhado.

― Saia daqui! Agora! ― Diante de seu tom autoritariamente glacial, até mesmo Elain encolheu-se atrás de seu corpo, percebendo suas mãos fechadas em punho, os nós dos dedos esbranquiçados pelo esforço extra. Suas sombras dançavam tremulantes ao redor de seus pés, cobrindo quaisquer pedaço de pele exposta que ainda estivesse visível, incluindo sua cabeça.

Flowers and Shadows - HIATOOnde histórias criam vida. Descubra agora