Capítulo 2 - A busca

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A cidade era grande e na maior parte do tempo movimentada, a delegacia em que Cris trabalhava não era diferente, por mais bem distribuída que a cidade fosse em relação à segurança. Entretanto o estabelecimento parecia estar sempre vivo, a não ser pelas raras madrugadas em que a cidade toda dormia, àquela hora da manhã policiais e funcionários andavam de um lado pro outro, ora atendendo telefonemas, resolvendo casos e analisando documentos.

Nas últimas semanas a única pessoa que não parecia fazer parte dessa dinâmica era Cris, ao contrário de alguns rumores, Cris sempre fizera seu trabalho e estava ali bem antes de noivar com a filha do homem mais influente da cidade, era de se esperar que com o tempo começassem a pensar que fora Henrique, seu sogro, quem colocara ele ali. Ainda bem que sempre tivera facilidade em ignorar as fofocas. Parado em sua mesa encarando o antigo amuleto de sua mãe, Cris parece vaguear entre o presente conturbado e seu passado confuso.

Ele aperta o amuleto dourado entre seus dedos e visualiza seus próprios olhos castanhos claros refletidos no espelhinho do objeto, infelizmente não puxara sua mãe, talvez se tivesse os cabelos loiros como os dela e os traços delicados de seu rosto, poderia vê-la refletida ali. Nunca soubera bem o que era aquilo, um espelho, um amuleto, um suvenir, a única lembrança que possuía era de Sarah carregando o pequeno objeto dourado em volta de seu pescoço, ela dizia que combinava com tudo o que usava, e provavelmente tinha sido um presente de casamento. Se fechasse os olhos quase conseguia visualiza-la com a bijuteria, se banhando no sol da praia enquanto ele cavava um buraco na areia, Cris a chamava para brincar e Sarah ia até ele sorrindo.

De repente, Cris abre os olhos quando ouve Tiago chama-lo de longe, ele esconde o espelho no bolso de sua calça tentando parecer discreto, mas era difícil evitar passar as mãos em seus cabelos, o que fazia quando ficava nervoso. Tiago não era considerado o MELHOR amigo de Cris, tinham uma relação limitada a colegas de trabalho, é claro que Tiago o fazia rir de vez em quando e era uma ótima companhia para beber, mas de improviso todos pareciam muito interessados nele recentemente, era difícil confiar se alguém não tentaria tirar vantagem.

– Você nem sabe disfarçar – o colega fala exibindo um sorriso despreocupado ao se aproximar da mesa de Cris – Eu vi o que você tinha nas mãos.

Tiago tinha ares de despreocupado e como Cris, morava sozinho em um conjunto de condomínios próximo ao centro, era popular ali na delegacia por suas brincadeiras e bom humor, e até um pouco cobiçado dado seu físico esbelto, o rosto ovalado acompanhado de olhos escuros gentis e a boca fina sorridente, seu cabelo castanho, como de habito, era arrumado em um topete revelando a testa um pouco avantajada, que para ele significava "indicação de inteligência".

– I-isso não era nada eu... – Cris deixa um suspiro escapar quando afunda na cadeira – Só não menciona nada pro meu pai.

– Ei, ei, calma – Tiago solta uma risada descontraída erguendo as mãos para se render – Eu não vou te revistar ok? Vamos mudar de assunto, como tá indo os preparativos do noivado?

Cris se sente mais calmo quando o colega disfarça, era bom quando não perguntava nada, ao contrário de outras pessoas. Odiava ouvir o nome da sua mãe na boca dos outros, era um sentimento estranho como se ela tivesse morrido com o passar do tempo, mas Cris sabia que ela estava em algum lugar, viva.

– Er... está indo bem, eu acho, na verdade eu não preciso fazer nada, Julia sempre quer as coisas do jeito dela e...

O telefone de Cris toca interrompendo a conversa, quando Cris desbloqueia a tela percebe uma chamada da noiva, rapidamente ele rejeita a ligação colocando o celular de volta no bolso.

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