Enquanto caminhava lentamente pela calçada movimentada, Hedonê sentia as consequências doloridas de seus esforços, os pés pareciam ter criado feridas e os músculos tremiam tentando manter seu corpo aquecido. Nunca passara frio na vida, então sentir suas mãos geladas era algo novo, ela para por um momento aproximando os dedos dos lábios e começa a aquecê-los com seu hálito quente.
De súbito, alguém esbarra em seu ombro quase a levando ao chão, aquilo mexe com ela de alguma maneira, quem imaginaria que uma das deusas mais poderosas do Olimpo seria tratada como uma ninguém. Salões inteiros paravam de respirar quando ela aparecia para dar os ares de sua companhia, tantos convites e propostas de casamento rejeitadas para agora não passar de uma humana miserável. Todos os deuses deviam estar rindo dela nesse momento e a raiva que sentia por isso era capaz de esquenta-la.
Hedonê continua os passos lentos de modo que algumas pessoas impacientes precisam se desviam dela para continuar seu caminho, ela permite admirar as vitrines das lojas e distrair os olhos nos imensos outdoors brilhantes fixados nos prédios enormes do centro. Teria continuado olhando para eles se uma energia mais forte não tivesse chamada sua atenção.
Como era possível? Realmente havia outro deus ali como Psique previra? – ela pensa correndo os olhos ansiosos ao redor – Hedonê fecha os olhos concentrando ao máximo seus sentidos, aquela energia quente por entre as áureas acinzentadas dos humanos não estava muito longe. Ela apressa os passos para alcança-la, vez ou outra trombando em alguém, mas a afobação vale a pena quando ela avista um corpo virando a esquina, sim! Estava vindo dali.
Ela segue o desconhecido até ruas mais calmas, onde a agitação do centro não alcança e os postes se esforçam para iluminar minimamente os becos escuros. O corpo no qual a garota insistia perseguir era alto e forte denotando ser um homem, a casaca preta cobria todo o tronco descendo até a cintura e a barra da calça se arrastava no chão, era preciso estreitar bem suas percepções para ver a fina áurea dourada que o circulava.
O homem desce as escadas íngremes de uma ruela estreita e por fim abre uma porta mergulhando na luz amarela que saia lá de dentro. Hedonê toma coragem e gira a maçaneta da porta entrando com tudo, grande foi seu alivio ao perceber que não havia muitas pessoas ali, o local não passava de um pub apertado, mas acolhedor de certa forma.
Alguns homens pingados entre as poucas mesas do bar ocupavam-se de diferentes formas e entre jogadores, trapaceiros e bêbados inconscientes, Hedonê fora capaz de avistar o homem de antes, escondido mais ao fundo do pub acompanhado apenas de uma garrafa de uísque. Mesmo a poucos metros de distância Hedonê ainda não o reconhecera, a cabeça baixa não permitia visualizar seu rosto, mas agora sob as luzes fortes do estabelecimento, ela conseguia ver os cabelos crespos e compridos caídos em seus ombros largos, a barba mal feita e a pele escura.
Os lábios rosa entre abertos e a cabeça pendendo levemente para os lados entregavam seu estado de embriagues de forma que mais duvidas brotavam na cabeça da garota, aquilo era um deus? Alguns passos receosos levam Hedonê a ficar de frente para sua mesa, ele não demora muito para erguer a cabeça e reconhece-la de imediato, ao mesmo tempo em que os olhos vermelhos brilham ao sentir sua presença divina.
– Você?
Se não fossem as íris vermelhas como brasa, Hedonê nunca o teria reconhecido, deveria se lembrar da última vez que um deus caíra do Olimpo.
– Saudações, Hefesto – ela estreita os olhos ainda verificando sua áurea – o deus do fogo e do ferro não passa de um ser de carne vivendo as reles dessa humanidade pecadora.
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Ímpetos
RomansaApós cair em uma praia deserta, a formosa Hedonê precisa fugir de uma ameaça desconhecida. Fraca e vulnerável nesse mundo estranho, ela usa seus poderes incomuns para sobreviver. Cris, um jovem policial, decide ajuda-la ao mesmo tempo em que lida co...