Capítulo 5 - A fonte

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A menina para de respirar, qualquer ar ou som que soltasse poderiam nota-la ali novamente. Ela se afasta do grupo dando passos leves para trás enquanto a pequena multidão vira o corredor, porém  não esperava trombar em algo, ao se virar é surpreendida com a cabeça de Medusa a poucos centímetros do nariz, ela leva um susto, mas deixa escapar um riso ao ver que era só mais uma escultura . A estátua de Perseu trajada em sua armadura, em uma mão a espada e na outra a cabeça de cobras, mesmo olhando assim ainda era assustador.

No entanto, ao prestar mais atenção, notara que a cabeça parecia olhar em uma direção especifica, ao segui-la Hedonê finalmente encontra o que a levara ali, o Oraculo de Delfos.

Ela atravessa o Panteão dos deuses desviando-se de várias pessoas para chegar a uma sala ainda maior, o teto em formato de abóboda era coberto de pinturas renascentistas, receitas de como os sacerdotes falavam com o oráculo, Hedonê admirava tudo com brilho nos olhos. O salão era imenso e seria ainda mais espaçoso não fosse a enorme fonte instalada ali e as pessoas que a circulavam.

Seus beirais eram feitos de mármore salmão, ao meio uma plataforma elevada por pedras brancas bem lapidadas davam destaque as estátuas de várias mulheres espartanas, todas seminuas em poses diferenciadas, mas que denotavam reverência e santidade. Hedonê ainda se lembrava da primeira vez que viu o oraculo ser invocado, ao lado de Eros e Afrodite ela assistiu Dracos, um rei muito poderoso de uma terra distante clamar aos sacerdotes uma resposta divina.

O grande rei precisava saber se a união entre sua filha e um príncipe de outro reino seria benéfica ou acabaria em guerra e morte, uma mulher virgem foi trazida pelos sacerdotes como receptáculo do Oraculo, ela se contorcia e falava estranho. Mais fantástico ainda foi ver Afrodite sussurrando através da virgem as respostas que Dracos precisava, por sorte tanto seu pai como a sua avó aprovaram o casamento deixando o rei satisfeito.

Como eram nostálgica e ao mesmo tempo triste essas memórias que insistiam em afirmar a total ignorância de Hedonê para com o mundo humano. Apartando as lembranças para longe, ela atravessa a linha que limitava a proximidade entre a fonte e os visitantes entrando na água com naturalidade, as estátuas eram ainda mais lindas vistas de perto, brilhando conforme a água refletia em seus corpos colorindo-as sutilmente com uma faixa arco-íris.

Se estivesse certa e esse fosse o Oraculo uma das estátuas sussurraria a Hedonê uma resposta, era seu único meio de comunicação com o mundo divino. Ela abaixa a cabeça e une às palmas das mãos em oração, após esperar um tempo ela retorna a abrir os olhos, mas nada acontece. As sobrancelhas arqueiam confusas e a garota analisa a fonte mais uma vez procurando algo que estivesse errado, por conseguinte só encontra uma placa de ferro anexada a plataforma onde as estátuas estavam.

Em letras miúdas Hedonê consegue ler: Representação em mármore dos receptáculos de Delfos.

– Representação?

– Ei você! ­­­ – uma voz grita ao se aproximar.

A menina se vira automaticamente sem perceber que o homem que vinha em sua direção era um segurança. Com serenidade ela encosta a palma da mão em uma das estátuas e fecha os olhos concentrando seus sentidos ao máximo sob o objeto gelado.

– Saia daí imediatamente – o guarda volta a dizer impaciente, mas Hedonê o ignora.

Como pensará, não há nada ali, nenhuma energia, nenhuma áurea e quanto mais o tempo passava e ela enfraquecia, reconhecer as áureas humanas não era mais uma tarefa simples também. Perdida por suas preocupações, ela mal nota quando dois seguranças entram na fonte para tira-la de lá, conforme eles a encaminham para os fundos do museu sua mente se enche novamente de neblina e angústia.

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