A neblina negra se dissipa rapidamente conforme a brisa noturna a espalha pelo ar, Hedonê demora a recobrar os sentidos permanecendo no mesmo lugar, algumas partes de seu corpo doíam como o lugar onde fora acertada com um chute, mas principalmente sua energia parecia ter se esvaído mais um vez. Com os olhos ainda fechados, ela tremula as pálpebras ao sentir uma luz súbita se aproximar, os ouvidos pareciam estar imersos na água de forma que sentia vibrações muito próximas, mas não as escutava.
Quando consegue abrir os olhos as pupilas se reduzem irritadas pelo clarão, porém ao acostuma-las é surpreendida pela silhueta desconhecida de um homem. Ele permanecia de pé bem acima do rosto angelical de Hedonê, a direção da luz não a permitia visualizar seu semblante mesmo ao agachar-se para mais perto dela, seus lábios mexiam, mas não saiam som deles. A figura masculina se inclina para erguer a garota do chão e repousar seu corpo cuidadosamente sob uma superfície seca e macia, a última coisa que Hedonê vê, antes de adormecer novamente, sãos os olhos cinza daquele homem refletidos no retrovisor.
***
Um bom tempo se passa até que Hedonê desperte novamente, a agitação incomum da delegacia faz com que ela passeie os olhos pelo local, a confusão toma seu semblante ao encarar uma de suas mãos algemadas no apoio do sofá. Acordar em lugares desconhecidos como este estava começando a satura-la, ela agita o pulso tentando se livrar do objeto metálico, mas tudo o que consegue fazer é chamar ainda mais atenção.
Conforme dois policiais se aproximam, ela força o corpo dolorido a permanecer sentado sobre o sofá de couro bege. Os homens param em frente a ela, um deles era mais magro, os olhos estreitos expressavam seriedade em contraste com seus cabelos lisos arrumados perfeitamente sem que nenhum fio sobressaísse. Logo a frente dele, o parceiro estudava Hedonê com suas íris cinza, os cabelos castanhos espetados e a barba por fazer revelavam seu jeito descuidado, porém ao fixar a atenção em seu peito rígido e os músculos discretos de seus braços, a garota umedece os lábios com desejo.
Cris não sabia por onde começar, enquanto procurava aquela mulher por toda a cidade nem tivera tempo de pensar em como aborda-la, talvez o fato de tê-la achada desacordada no meio fio tivesse facilitado as coisas, mas agora olhando-a mais de perto, a descrição que o atendente fizera batia, até os estranhos olhos lilases estavam ali, encarando-o com desconfiança e medo.
Para os dois policiais a aparência de Hedonê chegava a ser intimidante, os longos cabelos âmbar ondulavam até a cintura, as bochechas rosadas acompanhavam a beleza de seu rosto simétrico, e o olhar, tão penetrante quanto à bala de um revolver, aquela mulher parecia ter saído ou de uma revista ou de um conto de fadas.
– Olá – ele começa – Eu me chamo Cris e esse é meu parceiro Tiago – ele indica o homem asiático atrás dele – Pode nos falar seu nome?
Hedonê pirragueia um pouco antes de olhar para os lados, como se procurasse a resposta, não sabia se podia falar seu nome verdadeiro ali, não conhecia aquelas pessoas, foi então que o reflexo de Psique surgiu em uma das janelas da delegacia, aos sussurros ela dizia:
– Minta!
– M-meu nome é... Helen! – ela responde tentando soar convincente.
Cris e Tiago se entreolham rapidamente antes do policial retomar.
– Tudo bem Helen – Cris soa com desconfiança – Pode nos dizer o que aconteceu? Encontramos você desmaiada próximo a um bar, você se lembra de algo?
E agora? O que ocultar e o que revelar? – Hedonê pensa consigo mesma – não podia falar de onde vinha ou como viera parar ali, ela mira as pontas dos dedos como se fossem a coisa mais interessante no momento fazendo Tiago soltar um suspiro desaprovador.
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Ímpetos
RomansaApós cair em uma praia deserta, a formosa Hedonê precisa fugir de uma ameaça desconhecida. Fraca e vulnerável nesse mundo estranho, ela usa seus poderes incomuns para sobreviver. Cris, um jovem policial, decide ajuda-la ao mesmo tempo em que lida co...