Capítulo 8 - O esconderijo

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À passadas largas, Hedonê corria o mais rápido que podia sem temer as poças d'água que molhavam a barra de sua calça - Que humilhante ficar correndo por aí como se fosse uma criminosa.

Garantindo estar bem longe daqueles guardas, ela retoma seu fôlego diminuindo a corrida. Embora a rua estivesse deserta, um carro aproxima-se de repente passando direto, a uma distância segura ela assiste o veículo entrar numa espécie de portal iluminado e não pensa duas vezes antes de esperar o veículo se afastar para aproveitar a deixa.

***

Na delegacia Cris organiza sua mesa olhando de esgueira para um pequeno grupo de policiais recrutados às pressas para procurar a garota. Se Carlos queria ser discreto falhou miseravelmente – ele pensa. Dentro do carro ele olha com pesar para o espelho de sua mãe, não era para os vivos suprirem esse vazio deixado pela ausência de alguém? Repleto de pessoas ao seu redor e ainda assim sentia-se tão sozinho. Ninguém poderia cobrir a saudade que sentia dela.

se prepara para dar partida, mas é impedido quando Tiago surge na janela com o cenho preocupado.

– Ei parceiro, você vai vazar mesmo? Sabe o caos que vai ficar essa delegacia agora?

– Meu pai deixou bem claro que não devo me meter nos assuntos dele, essas coisas que andam acontecendo não dizem respeito a delegacia.

– Ma-mas...

– Se você for esperto vai fazer que nem eu e não se envolver também – e dizendo isso Cris aperta o volante do carro e acelera deixando o amigo para trás.

Agora que estava sozinho permitiu-se soltar um longo suspiro, como era difícil. Seu celular toca exibindo o nome de Julia em letras grandes e brilhantes, era a terceira vez que recusava uma chamada dela, e quer saber de uma coisa? Ele não estava com saco para mais dramas.

Em frente ao seu condomínio, Cris aperta o interfone e aguarda o portão se abrir. Entre as vagas dispostas, sempre optava pela mais próxima do elevador, porém algo chama sua atenção enquanto passeia com o carro pelo estacionamento. Sentada sob às escadas de emergência, a garota que fugira da delegacia repousava a cabeça nos braços finos, se não fosse a luz tremula do espaço ele nem a reconheceria.

Ao estacionar na vaga de sempre, Cris acaba por alarmar Hedonê quando bate à porta do carro e caminha em sua direção. Ela se levanta de súbito adquirindo uma postura defensiva que intrigava o policial – do que ela tinha tanto medo?

– Sabe que não pode ficar aqui certo? – sua voz sai mais intimidante do que o normal.

– E porque não? – a menina rebate com petulância.

– Porque tem meio mundo te procurando lá fora e você foi azarada o suficiente para se esconder justamente onde eu moro.

Hedonê engole seu orgulho e um sabor azedo parece penetrar sua língua.

– Mas eu posso não te entregar também – o policial recomeça fazendo Hedonê erguer a cabeça cheia de expectativas – Contanto que você fale seu nome verdadeiro e responda minhas perguntas dessa vez.

Chantagem... é claro. Mas como ele sabia que seu nome era falso?

– Pois bem, contarei tudo que quiser – sua voz suave arrepia a pele de Cris.

Ele indica o caminho e Hedonê o segue pacificamente. Quando chegam no elevador não consegue deixar de estranhar a maneira como a garota se comporta, observando ele apertar os botões e seu susto ao senti-lo se mover.

– Você é do interior, não é?

– Porque você acha isso?

– Porque parece... deslocada.

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⏰ Última atualização: Nov 05, 2021 ⏰

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