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Não sei quanto tempo fico encarando os olhinhos escuros do bicho. De Baz.

Ele não é muito grande (chupa essa, Basil! Quem é o mais alto agora?, não consigo deixar de pensar), sua pele é de um verde-acinzentado meio pálido, e, juro por Deus, ele ainda tem aquela cara de constante tédio. Definitivamente, é a versão menos bonita de Baz até hoje.

Mil e uma questões atingem minha cabeça: é mesmo ele? E se for uma pegadinha? E se ele tramou isso? Ele continua sendo um vampiro? Um sapo pode ser um vampiro? Eu o transformei para sempre? Como, por Merlin, eu vou desfazer isso?

Eu nem sequer lancei um feitiço. Eu nem estava com minha varinha.

Minha varinha! Eu a apanho de cima dos lençóis. Talvez um feitiço simples de reversão seja suficiente para traze-lo de volta ao normal – considerando que eu consiga executar um feitiço simples e minha varinha não se finja de morta, como tende a acontecer.

Eu odeio fazer isso, apontar a varinha para alguém – minha magia é instável ao extremo, nunca sei no que pode resultar –, mas, ainda que receoso, coloco Baz sob minha mira.

Para minha surpresa, ele começa a saltar desesperadamente pelo quarto, emitindo aqueles barulhos agonizantes mais uma vez. Me pergunto se ele tem alguma consciência do que está acontecendo aqui – não me admira se tiver, ele é esperto pra cacete, não acho que ser transformado em sapo o faria perder isso.

Eu tento captura-lo – sem magia –, o que deve ser uma cena e tanto: o maior mago de todos os tempos correndo feito um idiota atrás de um sapo desgovernado, que também é seu colega de quarto e inimigo.

Após uma porção de objetos derrubados, alguns móveis arrastados, muitos xingamentos e gotas de suor escorrendo em minha testa, eu consigo agarra-lo. Baz esperneia entre meus dedos e por pouco não consegue escapar. Me certifico de segura-lo com firmeza, tentando não o esmagar.

Há um pote de vidro cheio de tranqueiras miúdas em cima da minha escrivaninha – tinha uma fita em volta e biscoitos dentro quando Agatha me deu de presente –, eu entorno as coisas em cima da mesa e coloco Baz no pote, cobrindo-o com um livro pesado.

– Eu podia muito bem te deixar desse jeito – digo para ele, para o sapo, porque agora eu converso com sapos. – Então me ajude a tentar te ajudar.

Respiro fundo e aponto a varinha para ele mais uma vez. Não é preciso muito esforço para buscar minha magia, para faze-la subir; apenas a imagino transbordando (e não demais).

Do jeitinho que estava – tento. Nada muda. – Do jeitinho que estava! – despejo um pouco mais de magia nas palavras e agora posso senti-la se acumular no meu braço, no entanto, o encantamento não funciona.

Sei de um outro feitiço que poderia servir (de volta ao começo), mas prefiro não arriscar. Há faíscas saindo da ponta da minha varinha agora. As chances de a situação ficar pior do que já está são muito grandes.

Ando de um lado para o outro, sacudindo o braço para que ele esfrie, para que a magia se assente no lugar.

Penny saberia exatamente o que fazer. Penny sempre-

Isso! É isso! Só preciso pedir ajuda à Penny.

Me inclino, apoiando as mãos nos joelhos, para atingir a altura da escrivaninha.

– Eu sei que você vai odiar que alguém te veja assim, mas também sei que você vai achar um jeito de me matar mesmo estando em corpo de sapo se eu não arrumar isso logo – digo, encarando a versão anfíbia de Baz. Ele me fita de volta (eu acho). – Penny vai saber como ajudar. Eu já volto.

então eu o beijoOnde histórias criam vida. Descubra agora