O dia estava lindo, o sol brilhava como nunca, as pessoas pareciam estranhamente felizes, irônico que aquele fora um dia horrível, mas aparentemente só pra mim. No meio de uma aula entediante eu levei minha cabeça pesada ao encontro de meus braços e encarei com a visão embaçada a mesa rabiscada do colégio, minha mente já havia mutado a voz persistente da professora de sociologia. Eu chorava em silêncio na minha carteira, porque simplesmente não era da conta de ninguém. As aulas mudaram e eu fui obrigada a me mover num par de escadas até a quadra da escola, eu subi acompanhada de uma sala barulhenta que parecia não respeitar aos ouvidos alheios, passei direto pela quadra e os quase trinta alunos empolgados por uma partida de algum jogo incrivelmente bobo que resultaria em briga, como sempre. Eu olhei eles se divertindo e eu estaria lá se pudesse, fingindo que me importava em estar, em participar, mas aquele fora um dia terrível para mim. Eu me desliguei das crianças que decidiam qual seria o jogo da manhã e me sentei na escadaria da arquibancada, fixei meu olhar em frente, sempre em frente, as lágrimas vieram na mesma velocidade que meus pensamentos surgiam e me dilaceravam, ali eu deixei escapar algumas, fui levemente consolada e então deixada de novo solitária com minha própria mente destrutiva. Logo, que pra mim parecia uma eternidade sem fim, o sinal toca estrondoso por toda a escola, avisando que é hora de comer. Eu acalmo meus olhos pra que eu, ao menos, pareça uma pessoa equilibrada. Naquele dia eu até comeria, mas eu não tinha forças e nem fome, tratei logo de encontrar para mim um canto do palco do pátio que estivesse vazio. Neste dia eu não incomodei nenhum amigo com a minha dor, eu só me sentei, silenciosamente, num canto afastado, abracei minhas pernas tão fortes, que era como se eu abraçasse, de fato, aquela menina que teve que passar por tudo, era como se eu abraçasse enfim, a menininha que ninguém abraçou.
Eu apoiei minha cabeça nos joelhos e desfiz de tudo o que eu era, ali naquele chão gelado como meu coração estava, eu chorei, chorei como se não pudesse respirar, chorei de soluçar. Eu deixei tudo o que me acorrentava simplesmente sair e soltei de mim tudo o que me doía, chorei em silêncio porque não queria que ninguém escutasse, mas o meu coração gritava feito louco. Nesse dia eu não esperava que ninguém fosse ao meu encontro, de alguma forma parecia que eu estava invisível, e de alguma forma eu até preferia porque o plano era mesmo passar por isso comigo e mais ninguém.
Mas naquele dia uma amiga que eu não falava a muito tempo chegou e me abraçou, ela pôs os braços em mim e não disse nada, eu soltei minhas pernas e a segurei exatamente com a mesma força que eu sentia, completamente fraca, ela ainda não me disse nada, me abraçou forte, com uma força inimaginável e isso nem é sobre força física, eu confesso, não sabia que precisava tanto de abraço até receber este. Não sei se um dia eu vou encontra-la de novo, então fiz o que eu faço de menos pior, escrevi. Eu queria agradecer, pelo abraço, aquele gesto simples significou um mundo de força pra mim, naquele dia ela me salvou, de verdade, naquele dia ela salvou um pedaço de mim que estava morrendo bem ali, naquele dia você me salvou, salvou um pedaço do meu coração que depois daquilo eu guardo com tanto cuidado que ninguém nunca vai machucá-lo mais.. .
Eu não sei se um dia eu vou conseguir te agradecer pessoalmente, espero que sim, espero que algum dia eu possa conseguir te dizer que você salvou o melhor de mim com um simples abraço, que nunca teve nada de simples, talvez você nem lembre deste dia, deste abraço, mas se você não estivesse ali, eu teria desistido, teria visto morrer o meu melhor e talvez o meu eu inteiro.. .Hoje, anos depois, eu ainda me pego em silêncio lembrando com carinho,
Ela que me salvou.
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Cartas Para A Droga Do Amor
PuisiEssas são linhas escritas para os amores da minha vida boba. São para aqueles amores que me fazem suspirar; Para aqueles amores que me arrancaram o coração; Para aqueles amores que poderiam ter sido incríveis; Para os amores que nunca serão; E para...