Capítulo três

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"Isso me deixa ansioso, me dá paciência, me acalma
Deixe-me encarar isso, deixe-me dormir e quando eu acordar
Deixe-me respirar."
The Neighbourhood - Afraid.

Rosalie Bianchi

*ALERTA DE GATILHO*

O vento frio bate no meu rosto e joga alguns fios do meu cabelo para trás enquanto a música Afraid da banda The Neighbourhood ressoa nos meus ouvidos. O moletom grosso está protegendo meu corpo, mas não a minha cabeça, que está tão desprotegida quanto a minha mente.

Em momentos assim, sozinha na varanda do apartamento com um cigarro entre os meus lábios, a minha mente vira totalmente contra mim, trazendo à tona toda a escuridão da qual eu tentei e tento fugir. 

Tento afastar o cigarro, repetindo para mim que isso não faz bem, mas sei que enquanto o pequeno cilindro de tabaco for o responsável pela pequena produção de dopamina no meu corpo, não conseguirei deixar de lado.

Pelo menos não completamente, já que me impede de surtar toda vez que estou à beira de uma crise. 

Recordações da minha cidade natal sempre me deixam com o humor abaixo de zero. Muitos acham que vim para a Carolina do Sul devido à prestigiada Universidade, porém não é verdade, não completamente, na verdade, já que agarrei a primeira oportunidade que tive de sair de lá por causa dele.

Respiro fundo tentando não me lembrar dos parentes e amigos que deixei para trás, porém é difícil esquecer quando meu celular começa a vibrar.

— Jace! — Pela primeira vez em um domingo frio e nublado, um sorriso verdadeiro aparece com a ligação do meu irmão.

— E aí. — Sua voz doce soa. — Como você está? 

— Bem, e você? — Solto a fumaça e observo um casal andando na rua. — Como a mamãe e o papai estão?

— Estamos todos bem. — Ele suspira. — E com saudade também. Liguei para perguntar se você vem nas férias... — É a minha vez de suspirar.

— Jace, você sab...

— Eu sei, eu sei... — Ele me corta, parecendo derrotado. — Me desculpa, Rosie, eu sei o quanto é difícil, mas pensei qu...

— Minhas férias nem acabaram ainda e você já está me perguntando sobre a próxima? — Forço uma risada, mas meu peito aperta, me fazendo segurar as lágrimas que começam a se formar. 

— Você sabe que é mais forte que tudo isso, não sabe? — Ele ignora a minha tentativa e eu apenas suspiro mais uma vez. 

— Depois, tudo bem? 

— Tudo bem. — Ele parece desanimado. — Eu te amo, Rosie. Nunca esqueça. 

— Eu também amo você. 

— Mamãe e papai saíram para as compras, mas me fizeram prometer que mandaria um beijo por eles.

Eu respondo, desligo e as lágrimas caem. 

Maldito cigarro e sua dopamina que falharam. 

Conversar com Jace é sempre difícil porque quando se trata de mim, o mesmo não consegue enfrentar o dilema que há muito tempo eu deixei para trás: ir ou ficar. Quando eu estava sufocada em Michigan, não conseguia ficar, então me deixei ir. 

Mas não foi tão fácil para Jay, já que eu era a única pessoa em quem ele se apoiava. Ainda sou, claro, mas as coisas mudaram muito. 

Tudo mudou.

ImpremeditadoOnde histórias criam vida. Descubra agora